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Oblast*: "região" em russo.

Três dias se passaram desde o encontro com Vronnik. Três dias nos quais precisei correr para conseguir um galpão discreto, e traçar um vôo curto e discreto para uma fronteira russa de forma tranquila. Eu o fiz, e sem a ajuda de Veronika, que agora gastava seus dias deitada de bruços, fazendo absolutamente nada além de viver o ócio. Não nos tocamos mais, e a última vez que seus lábios me tocaram fora antes do atentado à Gazprom. Não fazia mais diferença.

Encontramos um lugar ao noroeste de Moscou que servia as instalações perfeitas para a Task Force 141, distante, escuro, coberto por neve e uma densa floresta de taiga que se tornava um mar negro durante a noite. Eletricidade funcionando e encamento, apesar da precariedade. A incursão dos rapazes seria através da Finlândia, passando por São Petesburgo, e seguindo as veias de incorporação dos interiores - herança soviética - até Kalashnikovo, uma oblast* de Tver, tranquila e pouco turística da Rússia.

Toda a equipe se reuniu em longas ligações secretas, reunindo táticas, calculando rotas de atuação e estudando a fundo o terreno e a situação crítica. As vezes, durante essas ligações, eu podia ouvir os chamados de Alma, avisando Simon sobre o jantar, ou o almoço. Mas eles pararam com o tempo, provavelmente porque ele lhe pedira por silêncio. Tolice, aquilo era adorável.

Laswell estava tensa, mas jurava depositar sua confiança na leitura que eu tivera. O destacamento tinha embacado muitas horas antes, e aquilo fora o suficiente para que eu e Veronika reunissemos toda a bagagem, e pegassemos pela manhã o trem da linha Mutashelikha, que tinha parada em Kalashnikovo. Mas ainda mantendo o quarto em Moscou alugado.

Nós descemos no centro, e pudemos caminhar pela cidade completamente deserta até uma minúscula casinha nos limites do reduto, onde se dizia ser no jornal de Moscou uma alocação familiar, precária, porém aconchegante na medida do necessário. Nós entramos em contato, e aqui estamos, marchando na neve a caminho do lugar.

— Porque não alugamos um carro? — resmunga Vel, que caminha, como quem se arrasta sobre os pés fracos e doloridos, de braços cruzados e uma careta horrenda de desgosto.

— Essa é a maior temperatura desde que chegamos, não está tão frio, e seu único trabalho está sendo reclamar. As suas malas estão nas minhas costas — respondo com certo desinteresse.

— Você com dois metros e quatro malas nos ombros e mãos não é um exemplo de descrição, gênio — rebate, usando-se dessa desculpa.

— Não use argumentos válidos pra disfarçar a sua indisposição em se mover, são sô três quilômetros, e nem dá pra suar nesse clima — retruco ainda mais assertivo.

Ouço-a bater suas botas no chão, e de repente sei que se vincou no lugar onde estava e está prestes a começar um showzinho.

— König! — ela berra de punhos cerrados, eu encaro seu rosto sério e agressivo, sei que se pudesse, ela me bateria agora — Você está sendo grosseiro! —

Um desgosto contrariado nasce em mim, eu olho para a mata dos arredores, casas distantes, mas com certeza esse arroubo deve ter ecoado no vento frio que sopra descontroladamente. Pisco, meio decepcionado comigo mesmo, cansado de tudo isto. Deixo as malas no chão, e vagarosamente me viro para ela, chamo-a com as mãos.

— Venha aqui — chamo-a, quase num sussurro.

Veronika está encolhida, agarrando seu sobrerudo de lã, os cabelos bagunçados. Ela corre seus olhos avermelhados por toda a minha figura, como se me analisasse, a ponta de seu nariz e bochechas também vermelhas, enquanto sua boca exala o choque térmico entre o ar quente dos pulmões e o clima externo. Minha feição é amigável, ou no mínimo tenta controlar seu ímpeto com o que resta da minha calma.

edelweiss | a könig storie.Onde histórias criam vida. Descubra agora