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EU NÃO REVISO CAPITULOOOOOO



Caminhamos pelas ruas de Moscou de mãos dadas, vencendo o chão fofo de neve para chegar à uma parada de ônibus que nos levaria até o outro lado da cidade. Moscou pulsa numa obscuridade única entre os becos e faróis amarelos dos carros que transitam em Severnoye durante à noite. Alguns iluminando-nos enquanto andamos pela calçada.

Meu braço sobre os ombros dela, e em minha mão oposta estava a alça da maleta preta de seu violino. Ambos vestimos os casacos mais pesados que temos.

Veronika tinha ligado para seus contatos em jornais russos, e eles lhes convidaram para um encontro em uma "casa de cultura" em Sokolniki, uma área industrial distante e rodeada por florestas e parques. Passamos o dia nisto: traduzindo notícias, observando a câmera do quarteirão, fazendo ligações. Agora nós andamos por aí em silêncio, e não falamos nem uma única palavra sobre a noite anterior, e uma fina tensão se estabelece sobre nós nessas ausências de intimidade, mas isso não me perturba.

Quando chegamos até a parada de ônibus, ele já está a caminho, de forma que não demoramos à entrar no coletivo. Veronika se senta em um banco vazio, e eu fico de pé próximo à ela, segurando o balaustre.

- Você sabe que é uma má ideia - eu sibilo, de cabeça baixa e olhando diretamente para o topo de sua cabecinha loura, presa num daqueles coques preguiçosos que desfiam seu cabelo em fiapos.

- Que opção você tem? - pergunta sem desviar os olhos do vazio a sua frente.

Ela tem razão, mas esse é único ponto em que Veronika está certa. Os pneus tremendo no asfalto abaixo de nós num sacolejo trêmulo, porém suave, me diz que o ônibus corre rápido nas pistas vazias, o que me deixa satisfeito visto que o trajeto é longo.

O tempo passa, e quando finalmente descemos no ponto de ônibus, ainda precisamos andar mais alguns quarteirões desertos entre prédios extremamente grandes e de arquitetura industrial. Não há nada ali, nenhum resquício de vida.

Eu caminho em alerta, enquanto Veronika parece estar desbravando o lugar, completamente confiante de que está segura. Dobramos em uma esquina, e de repente, vemos um facho de luz amarelado sair de um ponto específico entre dois prédios. Um beco, uma passagem minúscula.

- É ali - ela crava, e então apressa seus passos até lá. Eu ergo a mão apressada tentando segurá-la pelo colarinho do casaco, meus dedos resvalam na lã grossa do sobretudo, mas a ratinha escapa mais rápido em seus passinhos ágeis.

- Espera! Você tem certeza?! - eu chamo apreensivo, seguindo-a como uma verdadeira escolta de segurança.

- Sim, eu já vim aqui antes.

- Quando foi espancada? - eu pergunto inquieto, meus passos largos tentando ultrapassar os dela enquanto eu tento fazê-la frear seu ímpeto.

- Não - responde tranquila, mergulhando para dentro do beco. Vemos uma escadaria, e a luz amarelada está lá no final, dentro de uma porta aberta. Tem um homem parado lá, e um casal entrando.

Parece que chegamos no momento certo. Veronika desce os degraus rápido demais, e eu a sigo. O homem parado na porta coloca a mão atrás do corpo, e eu imediatamente ponho a mão livre para dentro do meu casaco, prestes a erguer a arma em punho. Esses segundos, entre a proximidade de Veronika e ele são cruciais, pois ao perceber de quem se tratava, o homem imediatamente sorriu. Veronika acenou para ele, e rapidamente a mão que estava atrás de seu corpo apareceu, também, em um aceno gentil.

Eu respiro fundo, parando nos degraus por um segundo e retirando a mão do revólver.

- Esse é König, ele é pianista. Você deixa ele entrar? Quero apresentá-lo aos camaradas - ouço ela explicar em russo, quando o homem branco e alto me averigua parado ali fora.

edelweiss | a könig storie.Onde histórias criam vida. Descubra agora