NOTAS: Se você quiser entender melhor esse enredo, recomendo ler minha outra história. Essa é a minha tentativa de criar um outro universo na temática de CoD. Beijos.
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A noite Vienense era engolida pela energia boemia a medida que a cidade se afunilava em ruas estreitas. O céu límpido, e as estrelas ofuscadas pelas fortes luzes da cidade. Meu hotel, o hall, as calçadas de concreto frívolo, e a caminhada curta até o teatro imponente prostrado no centro da cidade. Senti saudades disso. Meu país tem qualquer coisa a mais do que a Alemanha já que a noite em Berlim era convidativa aos hipsters, aos artistas alternativos e aos performáticos de si mesmos. Já a noite em Viena convidava a mergulhar num passado etéreo que reverbera até os dias atuais. Todos somos um pouco burgueses renascentistas quando andamos a noite em Viena, ainda que minhas roupas desleixadas me fizessem parecer apenas mais um mochileiro hippie entre vários.
A missão no México me fez sentir falta de casa, e um cansaço avassalador. O desenrolar das coisas me fez pensar que esse breve intervalo de paz poderia ser talvez minha oportunidade de retornar. Lembrar das borboletas azuis, e do passado.
Compro um ticket na bilheteria da Ópera, perguntando educadamente a atendente qual seria o espetáculo. A moça sorridente, de cabelos escuros e usando o uniforme cor de vinho, me informa que a orquestra de Viena faria um tributo a compositores italianos. Vários nomes fortes me vêm a cabeça, mas evito prolongar a conversa. Sequer tento me misturar na multidão vestida a caráter de evento de gala. Procuro ficar próximo aos cantos do hall, longe da atribulação dos smokings e vestidos longos chiques, longe da atenção das pessoas que transitavam alegres ali.
Cinco minutos se passam até que as pesadas portas de madeira do andar de cima se abram e as portas laterais do térreo também. A maioria sobe as nobres escadarias do palácio num ritmo vagaroso rumando as frisas mais altas, enquanto eu e o restante marchamos para o corredor que leva as cadeiras da platéia. Conheço o teatro com a palma da mão, ao ponto de saber que conseguiria andar por ele de olhos vendados sem esbarrar em qualquer decoração.
Os guias afastam as cortinas de veludo vermelho que encobrem a passagem para as cadeiras. Recolhem os ingressos formando duas filas paralelas que me exasperam, odeio filas, pois fazem com que eu inevitavelmente me destaque e todos me lancem aquele olhar terrível da cabeça aos pés. Na adolescência minhas mãos suavam frio, hoje, tudo o que sinto é a memória física daquela angústia.
Entrego meu ingresso, e caminho rumo as fileiras. Adornos dourados despontam nas curvas do teto retangular do teatro e dos resguardos das frisas, o chão de veludo vermelho fazia um barulho opaco a cada passo enquanto eu procurava por minha cadeira. Peguei uma na primeira fileira bem próxima aos músicos, sem culpa de fazê-lo. Recolhi o encarte abandonado no assento, e lá estava impressa a ordem completa da noite: Vivaldi para abertura, Rossini, Tartini e Paganini na sequência. O encerramento da casa seria um solo de violino, com a Caprice de Paganini. Todos se sentam, e os murmúrios discretos são a única coisa que se ouve por algum tempo.
Eu observo os casais e famílias que adentram a sala e se esgueiram entre as fileiras. Todos parecem felizes e unidos, de uma forma bonita. Encaro então as enormes cortinas vermelhas fechadas, e após cinco minutos de espera, a intensidade luzes amenas da Ópera de Vienna recaem para que as sombras fantasmagóricas emerjam entre as fileiras e inundem o teatro em um breu espesso. As cortinas lentamente se abrem, revelando os músicos vestindo smokings e vestidos, organizando suas partituras.
Uma salva de palmas irrompe borbulhante.
E quando o maestro cruza as cortinas laterais do palco e sobe em seu palanque, é quase como se eu pudesse sentir o teatro estremecendo sob meus pés com os aplausos entusiasmadas da platéia. Ele agradece em reverência, abre o paletó e toma sua batuta entre os dedos. Dialoga brevemente com os músicos próximos, que soltam sorrisos bem humorados e o cumprimentam.
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edelweiss | a könig storie.
FanfictionKönig não podia escapar. O passado sulfúreo que emana dos muros e que flutua nas ruas de Viena o perseguiria para sempre. A luz amarela dos postes antigos que resplandecem nas calçadas molhadas, e evocavam a necessidade precípua que todo austríaco c...