"— Você vai me esperar aqui, não vai? Você prometeu se esforçar pelo nosso relacionamento, Astrid. — A voz forte do homem mais alto soou mansa, as mãos grandes agarrando o corpo menor da adolescente com firmeza e carinho, dedos grossos acariciando as bochechas ainda redondas e infantis.""— Vou, me desculpe por insistir em sair. — Astrid respondeu, o rosto corado de vergonha e arrependimento. — Posso fazer algo para comermos quando você chegar e-"
"— Não vai ser necessário. — Reiner soltou seu rosto e se afastou, caminhando até a bolsa esportiva jogada em um canto da enorme sala do apartamento. — Vou comer com os caras do time depois da partida, vamos beber algumas também. Me espere acordada, tome banho e não saia."
Com as instruções já claras em sua mente, Astrid suspirou, movimentando a cabeça em concordância.
"— Acho que vou terminar... — Não terminou de falar pois Reiner não estava mais lá, as costas largas e musculosas do loiro se afastaram rapidamente em direção a saída. — ...aquele livro.
"Sussurrou a última parte antes de observar todo o cômodo já conhecido do apartamento pessoal de Reiner, lugar que se tornou seu lar desde que seus pais não estavam mais vivos, a faculdade se tornou um sonho distante e tudo que Astrid podia fazer era agradecer ao namorado por fornecer um teto e comida. Mesmo que sentisse que deveria encaminhar sua vida, Reiner havia sido gentil o suficiente ao dizer que poderia ter paciência e decidir tudo com calma, que deveria viver o luto primeiro e aproveitar a proteção que apenas ele poderia dar."
— Como se sente? — A voz de Amélia soou preocupada.
Piscou atordoada, havia adormecido? Quando? Porque? O que Amélia fazia em seu quarto?
A avalanche de sentimentos atingiu seu peito com tanta força quanto as memórias das últimas horas daquela noite desastrosa, nada fazia sentido e informações confusas bagunçaram sua mente. Era engraçado pensar em como tudo ruiu de uma só vez, como toda a ilusão ao qual estava se afogando nos últimos dias quebrou com apenas poucas informações.
Porque havia sonhado com aquela lembrança? Fazia muito tempo desde a última vez que sonhou com algo tranquilo, mesmo que fosse claro agora que era notoriamente manipulada em um relacionamento abusivo, era melhor do que os pesadelos vividos que tinha todas as madrugadas, pesadelos que remetiam lembranças dolorosas e pesadas. Talvez fosse apenas sua mente associando os últimos acontecimentos com o passado, mas sabia que estava errada. Levi não era e nunca seria como Reiner, por mais que estivesse triste e claramente afetada com a falta de sentimentos do Agriche, ele nunca mentiu ou tentou manipular seus sentimentos, havia sido claro desde o começo que aquilo que faziam era puramente físico, independente das conversas ou momentos extremamente íntimos que tiveram, independente das vezes que conseguiu tirar um sorriso do rosto carrancudo e independente da forma como Levi parecia sempre se preocupar, oferecendo apoio e ajuda. Havia se apaixonado por alguém que não poderia retribuir, se envolveu com seu chefe quando sabia que não poderia se dar o luxo de perder um emprego tão bom, principalmente pelas crianças, estava apegada a elas.
E aparentemente Amélia sabia, já que estava lá com um olhar indecifrável atrás das lentes dos óculos.
— Eu vim atrás de você, acabou cochilando depois de uma crise de pânico, você está melhor? — Escutou Amélia ainda se sentindo acuada pelos sentimentos confusos em seu peito, observou que estava atravessada na cama e com uma manta leve em cima do corpo.
— Estou melhor, obrigada. Que horas são? — Tentou não focar seus pensamentos no fato de Amélia estar ali e ter provavelmente presenciado tudo, de que ela sabia de tudo e que esperou que acordasse para assinar sua carta de demissão.
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A Tutora
RomansaEstava em Toronto fugindo de um passado doloroso e cruel,no auge dos seus vinte e seis anos Astrid Jeaguer só desejava conseguir se esconder do seu inferno pessoal por mais tempo,mesmo que precisasse morar em uma casa no campo,aguentar uma equipe in...