Capítulo 37

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"Se eu estivesse morrendo de joelhos
Você seria aquele que me salvaria
E se você estivesse afogado no mar
Eu te daria meus pulmões, para que você pudesse respirar"

Brother — Kodaline

WEDNESDAY ADDAMS

Paralisada. Sem chão. Dolorida. Com o coração em pedaços. Minhas paredes trepidam. O peito dilacera na corrida contra o tempo. O gélido é a moradia mais firme e a sensações evidenciam que, o contorcimento estoura nas cutucadas pungentes.

Minha pulsação não se agita pelo motivo de experimentar um pedaço doce da adrenalina. Pelo contrário, estou mordendo o amargor das minhas escolhas, trazendo a consequência mais dolorosa de se viver.

O infinito rasga as chances de voltar atrás e me entregam como preço a borbulha desenfreada da escuridão límpida. A oscilação é impiedosa e marca a correlação entre o certo e errado.

A realidade me bombardeia. Os infinitos são desconectados para tornarem-se aquilo que nunca quiseram. Não é puro. Meu interior implora por todo o ar que posso inspirar, mas não posso entregar. Minhas unhas rasgam o couro do volante e tudo não está fazendo sentido para mim. Só consigo sentir minha respiração sufocar, tanto quanto o medo que floresce violentamente nas minhas entranhas e apenas permanece ali como um intruso.

Um nó gigante se forma em minha garganta e meus olhos queimam com as lágrimas que se derramam com força. Abro a boca, mas nada sai, apenas soluços descontrolados se apossam de cada parte do meu ser. O nervosismo vai me derrubar antes mesmo de eu chegar.

Minha mão tremula diante do volante, já não faço mais questão de esconder as lágrimas que caem como a profundidade de um mar revolto. O buraco em meu peito é excruciante e dói a ponto de me faltar ar. A complexidade existe e serve para deixar um aperto fervilhante no meu coração e me embaçar. É insuportável o modo como o vermelho me abraça e a atribuição do que eu fiz me golpeia certeiramente no estômago.

A certeza de que irei definhar antes de chegar a tempo é inevitável. Meu pé afunda no acelerador e o volante parece ter vida própria, enquanto a ponte titubeia e não me dá chance de ser salva.

A subdivisão entre a vida e a morte de Pugsley tremem na ferida aberta. A perturbação se constrói na realidade minúscula. Os pesadelos se encontram. As sombras não se escondem. As amarras comprimem cada pedaço de mim. O nó denota a junção cortante e me estapeia na suspensão completa.

Meu corpo inteiro está tremelicante. As vibrações são velozes e me acertam desesperadamente, esperando que eu tenha alguma reação, mas a única coisa que faço é pisar fundo e deixar os soluços escaparem sem o menor impedimento. Meus olhos deturpam na escuridão elevada e me mostra a verdadeira face imobilizada da fera pecadora.

Eu. Eu sou a culpada de tudo isso ter acontecido. Foi um erro ter feito aquilo e não pensar nas consequências.

Mas, é tarde demais para dizer algo.

A dor pulsa. O entorno é esmagado. As linhas se entortam. O peso não anula as repuxadas eternas. A cadência é permeada no ar que me pressiona para lembrar-me da minha incoerência e do plano errante que insisti em seguir. E assim, estou me afogando na terra mais iminente, implorando para que o impiedoso não nos atinja e que o divino resplandeça onde mais dói.

Uma mão ameaça amolecer enquanto a outra permanece firme. O movimento inicia minha declinação e me entrega um pedaço do real purgatório que vai passar a me receber todos os dias. A tensão me consome. O medo me assola. As borbulhas saltitam. Fragmentos estilhaçados me derrotam. Sangues invisíveis pingam e me mantém aprisionada, fazendo-me garantir um lugar no próprio inferno. Lâminas me rasgam por dentro e é insuportável.

Dark Obsession - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora