Capítulo 2

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A AMON não dá nas vistas.

Uma sede subterrânea com quatro entradas, casas iguais dentre as outras, impossíveis de imaginar esconderem uma organização tão poderosa quanto secreta, mesmo assim, conhecida silenciosamente por todo o mundo.

Muitos chamam-lhe raptores, outros, traficantes, outros, monstros, até.
Bem, posso dizer que todos esses nomes são corretas descrições da AMON.

Mas há muito mais.

Escolho a entrada Este por ser mais perto. O ar frio corta-me a respiração e as ruas desertas encobrem a minha escapatória noturna. Candeeiros de luzes ténues ameaçam expor-me, mas a distância para a casa 1467 é curta e caminho calmamente até ao edifício tão normal quanto as outras habitações, uma casa simples e pequena, quatro paredes outrora brancas com ervas daninhas a nascerem à sua volta, janelas de vidros sujos em algumas, telhado de telhas castanhas ou pretas, sem chaminé, mas esta com uma pequena caixa de correio com um losango trabalhado na lateral. O símbolo da AMON.

Bato à porta ritmadamente com o pé:
Tum. Tum-Tum. Tum.
Longo. Curto. Longo. Longo.
E espero.

A porta entreabre-se com um "porteiro" do outro lado, um homem alto e corpulento de barba de três dias, os bíceps tatuados e umas estranhas cicatrizes nos antebraços. Olha para mim pela abertura, avaliando-me de cima a baixo.

- Garnet Moon, Agente T111. Voltando da missão terreno 96454.

Ele abre a porta por completo.

- Bem-vinda de volta, Moon - mostra-me um sorriso amarelo.

- Sim, sim, bom ver-te Milo - entro sem rodeios, dirigindo-me às traseiras. Lá, numa parede tão igual às outras, um quadro geométrico abstrato está pendurado. Sem hesitar, toco no losango negro num canto discreto, e o quadro solta-se da parede, deixando ver do outro lado uma sala completamente metálica: paredes, chão, mesa, teto. Salto para o seu interior.

O metal abana e encolhe debaixo de mim a cada passo, mas já fiz isto demasiadas fazes para temer que o tacão fure a plataforma. Sinto um solavanco e a sensação de que estou a descer, enquanto a sala começa a trabalhar. Fico quieta enquanto emite luzes e luzinhas, lasers sobre mim que me provocam sempre uma dor de cabeça.

Depois destas me inspecionarem, confirmarem e desinfetarem do ar exterior com uns gases pulverizados no contentor, um forte solavanco indica que o elevador pousou e um sino aprovador soa, a porta para a AMON desliza para o lado, na parede de metal à minha frente, e estou no 5º andar da sede.

Já cansada de tanto protocolo e passo-a-passo e eteceteras, caminho em passadas seguras para o meu quarto, passando primeiro pelos corredores de tapetes vermelhos, pertencentes às avenidas e ruas principais (este sítio é tão grande que é organizado por corredores numerados semelhantes a ruas, avenidas, praças e sabe-se lá mais o quê), depois para as ruas secundárias, que já não apresentam um tapete de veludo a cobrir o chão. Por isso, sigo pelo chão de grandes e negras lajes de mármore ou granito ou sei lá o que é em direção à minha "casa".

A AMON é organizada e meticulosa. Tem cinco andares em camadas, conhecidos por todos, cada um com a sua função:

O 5º andar ou Setor 5 é o mais à superfície, aquele em que primeiro pomos os pés depois de chegarmos por um dos elevadores das entradas.

Os integrantes da AMON vivem todos aqui, organizados por "famílias" e "casas", como se fossemos uma verdadeira mini civilização e ligados por sangue.
Os agentes de uma família partilham um apelido com os restantes e vivem na mesma casa, que não é mais do que um quarto com beliches e uma casa de banho.

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