Capítulo 7

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A porta do elevador fecha-se no momento em que Annora grita que nunca me perdoará.

Suspiro, apoiando a cabeça no espelho do elevador e permito-me respirar enquanto desço para o 2.

Acalma-te, Moon. Respirações suaves. Mente vazia. Corpo relaxado. Calma... Cal...

Tlim.

Cheguei ao segundo andar.

As portas abrem-se e recomponho-me, encaminhando-me para o Centro de Atribuição de Missões A, apenas a umas avenidas de distância.

Será que leram realmente a minha conversa com o Phoenix?

O pensamento não me sai da cabeça. Se leram, eu sou uma mulher morta. E ele um homem morto. E, oh, deuses, a Nora pode ir de arrasta, oh meu deus...

Não. Calma. Respira. Pode ser só mais uma missão. Pensamento positivo, Moon.

Que se lixe a positividade.

Não há nada que possa fazer. A Annora tentou demover-me de vir cá abaixo, mas não há forma de escapar. Não me deixariam sair tão cedo depois do anúncio, e se ficasse e me escondesse não tardariam a voltar a espalhar a mensagem e, mais tarde, a procurar-me.

E o Phoenix não apareceu.

Tento afastar pensamentos desejados, as mil e uma hipóteses do que lhe pode ter acontecido, e concentro-me em não tropeçar enquanto me encaminho para o que poderá ser a minha morte. Segundo o que ele me disse, julgava que ainda ia ter mais alguns dias. Sacaninha.

Abro as portas duplas que dão entrada ao enorme centro, que aloja salas de menor dimensão onde são atribuídas, planeadas e discutidas missões nível A.

Sigo por um pequeno corredor e paro em frente a uma porta branca com apenas uma maçaneta e uma legenda de metal a identificá-la: A17.

Respiro fundo. E abro-a.

O Raven está sentado na ponta de uma mesa comprida de doze lugares, a remexer numa pasta de arquivos, uma madeixa de cabelo negro que rebelou-se contra o gel a cair-lhe para a vista quando se inclina.

- Senta-te - ordena educadamente, sem sequer olha para cima.

Sento-me na ponta oposta, controlando os pés para não começar com os meus tiques de nervosismo.

De repente, o ar faz-se muito frio, como se as condutas de ar filtrado decidissem arrefecer o oxigénio para me perturbar ainda mais, e amaldiçoo-me porque sei que é tudo psicológico. Porque estou assustada.

- Hoje a missão que te trago é diferente - Raven anuncia, e congelo porque ele descobriu ele descobriu ele descobriu e agora vai me pôr no 1 com o Nix e a Nora e vou passar por tudo aquilo de novo e acho que vou vomitar desmaiar morrer mesmo aqui

Porém, as palavras que ele diz a seguir surpreendem-me tanto quanto me aliviam.

- Vais eliminar uma pessoa.

O quê?

Então ele não vai punir-me pelas mensagens com o Phoenix? Não as descobriu? Eles estão a salvo?

Espero que o alívio não seja palpável à minha volta.

Mas, desculpa, ele disse... eliminar?

Os seus olhos pregam-se nos meus, um brilho macabro na profundeza das íris. Entrelaça os dedos, e percebo que está à espera de uma reação.

- Eu... Hum, eu nunca matei - acabo por dizer e, meu Deus, o ar é tão sufocante, se calhar é por causa do horrível perfume dele.

- Não disse nada em contrário.

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