Ecos do Passado

213 33 526
                                    

A noite se arrastava em Nova York, e o ar estava impregnado de um cheiro metálico, como se as sombras da cidade se alimentassem do desespero. Emilly sentia o peso de um passado torturante, cada canto do apartamento dos Reynolds guardando ecos de uma infância dilacerada.

Margareth, sua mãe, tentava restaurar uma normalidade que mal existia. Na cozinha, o tilintar de talheres soava como um prelúdio para a tempestade que se aproximava. Ela movia-se de maneira automatizada, cada corte de cebola revelando uma luta silenciosa contra o turbilhão que ameaçava desmoronar o pouco que restava de sua família.

— Emilly, venha aqui — chamou Margareth, mas sua voz soava mais como um pedido desesperado do que um convite.

Emilly se arrastou até a cozinha, os passos pesados como se carregasse correntes invisíveis. Ao entrar, deparou-se com a imagem de sua mãe, cuja fragilidade era um reflexo da brutalidade que enfrentavam. O olhar de Margareth, embora cheio de amor, estava carregado de um medo primordial.

— Vamos fazer um molho mais rico, algo para aquecer a alma — sugeriu Margareth, mas suas palavras eram apenas um manto para esconder o abismo que se abria sob seus pés.

O clima familiar, já tenso, rompeu-se com o estrondo da porta ao abrir. Robert, seu pai, entrou como uma tempestade, seu olhar escaneando a cena com desdém. O aroma de álcool o precedia, e sua presença era uma sombra que consumia o ar.

— O que está acontecendo aqui? — sua voz ressoou como um trovão, quebrando qualquer vestígio de paz.

Margareth ergueu a cabeça, tentando enfrentar o furor que preenchia a sala, mas sua expressão traía a fraqueza que se escondia atrás de cada palavra.

— Estamos apenas preparando o jantar — respondeu, a hesitação tornando suas palavras quase inaudíveis.

Robert lançou um olhar cruel à mesa, seu desprezo quase palpável.

— Jantar? — zombou, o desdém em sua voz se transformando em uma lâmina afiada. — Você realmente acha que isso é vida?

Emilly sentiu o chão desaparecer sob seus pés, o pânico subindo como uma onda feroz.

— Pai, por favor — ela tentou intervir, mas a força de sua própria voz parecia ter se esvaído, sufocada pelo terror.

Robert aproximou-se, seu olhar penetrante despindo Emilly de qualquer esperança.

— Você ainda não entendeu seu lugar? — as palavras saíram como um sussurro carregado de veneno.

Quando o impacto da palmada atingiu seu rosto, o tempo parou. Emilly caiu ao chão, a dor física misturando-se a uma fúria que queimava dentro dela. O estalo ecoou, e ela se viu mergulhada em um mar de lágrimas e sangue, as memórias de abuso flutuando à superfície como fantasmas de um passado que nunca a abandonaria.

— Você é uma inútil! — gritou Robert, avançando mais uma vez, como um predador sedento por controle. — Nunca fará nada certo, e eu estou farto de você!

Margareth, no entanto, era uma sombra de sua própria coragem. Ela se encolheu, os olhos arregalados enquanto assistia à cena desmoronar ao seu redor, seu coração se despedaçando a cada grito que saía da boca de Robert. Ela queria gritar, queria agir, mas seu corpo parecia paralisado pela impotência.

— Emilly... — sussurrou Margareth, as lágrimas já começando a escorregar por suas bochechas, mas a voz dela não era um grito de socorro, apenas um eco de desespero. Ela estava presa, aprisionada entre o amor pela filha e o medo do homem que havia prometido protegê-las.

Robert se voltou para Margareth, a raiva brotando como um fogo inextinguível. Ele lançou uma ameaça silenciosa, e Margareth sentiu um frio na espinha.

Cicatrizes Invisíveis ( Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora