Entre Correntes e Liberdade

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A noite estava fria, e a casa de Margareth parecia mais vazia do que nunca. As sombras das árvores lá fora balançavam suavemente com o vento, projetando formas distorcidas nas paredes da sala de estar. Alexander ainda estava lá, sentado em um canto, observando a garota com um olhar pensativo. Ela estava no sofá, encolhida sob um cobertor grosso, tentando afastar o frio que vinha de dentro de si, um frio que nem mil cobertores poderiam dissipar.

“Você está se sentindo melhor agora?” Alexander perguntou suavemente, sua voz cheia de preocupação. Havia uma doçura aparente em suas palavras, mas um tom subjacente de possessividade e controle fazia a garota estremecer.

“Estou... tentando,” respondeu ela, olhando para o chão, evitando o olhar dele. A presença de Alexander, embora reconfortante em um nível superficial, começava a se tornar opressiva. Seu toque, que inicialmente parecia oferecer consolo, agora a deixava inquieta, como se cada carícia fosse uma promessa não dita de algo mais sombrio. Alexander inclinou-se levemente, a mão prestes a tocar o ombro dela, mas ela se afastou instintivamente, criando uma pequena distância entre eles. Aquilo não passou despercebido por Alexander, cujo olhar se estreitou, embora o sorriso permanecesse em seu rosto.

O silêncio na sala tornou-se pesado, como se o ar estivesse carregado com palavras não ditas. Alexander se levantou e caminhou lentamente até a janela, olhando para a escuridão lá fora. Ele não gostava de sentir essa resistência dela, essa distância crescente. Ele acreditava, de forma fervorosa, que estava apenas tentando protegê-la, que sua presença constante era necessária para que ela se sentisse segura. Mas, no fundo, a ideia de que ela pudesse preferir a solidão à sua companhia o incomodava profundamente.

Margareth entrou na sala, suas feições cansadas. Ela notou o silêncio tenso entre os dois e sentiu um arrepio. Aproximou-se da menina, colocando uma mão gentil em seu ombro. “Querida, você quer ir para o seu quarto? Talvez descansar um pouco te faça bem.”

A jovem assentiu lentamente, levantando-se com uma expressão de alívio. “Sim, acho que vou tentar dormir.” Ela lançou um olhar rápido para Alexander antes de seguir para o corredor que levava aos quartos, sua figura pequena e frágil desaparecendo na escuridão. Cada passo parecia pesar, como se ela estivesse andando na direção de um vazio ainda maior.

Alexander permaneceu onde estava, observando a jovem se afastar. Quando ela sumiu de vista, ele se levantou e foi até Margareth, seu rosto sério. “Margareth, eu realmente me importo com ela. Quero protegê-la, assegurar que nada de mal aconteça com ela. Mas também preciso que você confie em mim.”

Margareth hesitou por um momento, olhando para Alexander com um misto de gratidão e preocupação. “Eu sei que você quer o melhor para ela, Alexander. Mas... você precisa entender que ela ainda está se curando. Forçar a barra só vai afastá-la.”

As palavras de Margareth ressoaram na mente de Alexander, fazendo com que uma sombra de dúvida se formasse em seus pensamentos. Ele havia passado tanto tempo tentando ser o apoio que ela precisava, mas e se, ao fazer isso, estivesse apenas piorando as coisas? A ideia de que suas intenções pudessem ser mal interpretadas o deixava inquieto. Ele precisava ter certeza de que ela entendia suas motivações, que ela sabia que tudo o que ele fazia era por amor.

Alexander assentiu lentamente, embora a rigidez em seus ombros denunciasse sua frustração. “Eu entendo. Só não quero que ela pense que está sozinha. Quero que ela saiba que estou aqui, não importa o que aconteça.”

Margareth suspirou, percebendo a angústia no olhar dele. Ela sabia que Alexander tinha boas intenções, mas havia uma linha tênue entre proteção e controle, e ele parecia estar caminhando perigosamente perto de cruzá-la. “Ela sabe disso, Alexander. Mas, às vezes, as pessoas precisam de espaço para encontrar suas próprias respostas.”

Cicatrizes Invisíveis ( Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora