Os Fios da Manipulação

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O vento cortante batia nas janelas do apartamento de Emilly, trazendo consigo o frio do inverno. A sala estava mal iluminada, com sombras que dançavam nas paredes. Emilly estava sentada no sofá, com um livro aberto em suas mãos trêmulas, mas não conseguia focar nas palavras. Sua mente estava consumida pelos eventos da noite anterior.

A discussão com Robert, seu pai, ainda reverberava em sua cabeça. As palavras dele, carregadas de raiva e desprezo, ecoavam em seus pensamentos. Robert havia entrado em uma explosão de fúria, seu comportamento violento exacerbado pela bebida. A agressão verbal, acompanhada pelo estalo de objetos arremessados, era algo que Emilly conhecia bem, mas isso não tornava a dor menos insuportável.

— Você é uma vergonha para esta família, Emilly! — ele gritou na noite passada, o rosto vermelho de raiva. — Não consegue fazer nada direito! Sempre tem que ser o centro das atenções, não é? Você se acha especial, mas é só uma inútil!

Os gritos e a violência do pai eram um eco constante em sua mente. Sua mãe, Margareth, tentou intervir, mas Robert a desconsiderou, gritando ainda mais alto até que Margareth se retirasse em lágrimas, impotente.

Enquanto Emilly tentava encontrar um pouco de conforto no sofá, cada estalo da madeira do piso parecia uma ameaça, um lembrete da presença constante e opressora de seu pai. O apartamento, pequeno e apertado, não oferecia escapatória. As paredes pareciam se fechar ao redor dela, sufocando-a com o peso da expectativa e da raiva reprimida.

A dor no braço onde Robert a segurou ainda era palpável, um lembrete constante de sua vulnerabilidade. Ela sabia que os hematomas logo apareceriam, mas eles não eram nada comparados às cicatrizes invisíveis que carregava na alma.

O medo estava sempre lá, à espreita, como uma sombra que nunca a deixava. Ela olhava para o livro em suas mãos, tentando encontrar refúgio nas páginas amareladas, mas as palavras dançavam diante de seus olhos, borradas pelas lágrimas que ela se recusava a deixar cair.

A campainha tocou, tirando Emilly de seus pensamentos. Ela levantou-se com hesitação, seu coração disparando. Por um momento, ela ficou parada, encarando a porta como se fosse um portal para um mundo desconhecido e perigoso. Quem poderia ser? Seu pai raramente recebia visitas, e Margareth tinha saído para trabalhar mais cedo. A ideia de encarar o mundo lá fora era assustadora, mas a possibilidade de um escape momentâneo era tentadora.

Ela respirou fundo, tentando acalmar o tremor que ameaçava dominá-la. Ao abrir a porta, viu Sarah, sua melhor amiga, com um sorriso preocupado no rosto. Sarah era uma presença constante e reconfortante na vida de Emilly, alguém que conhecia suas dores e a apoiava nos momentos mais difíceis.

— Oi, Emilly — disse Sarah, entrando rapidamente e fechando a porta atrás de si, como se estivesse protegendo-a de alguma ameaça invisível. — Eu fiquei preocupada com você depois da escola ontem. Você não respondeu minhas mensagens. Está tudo bem?

Emilly tentou sorrir, mas sabia que era um esforço inútil. Sarah era perceptiva demais para ser enganada por sorrisos forçados. Ela olhou para os próprios pés, envergonhada, e sentiu as lágrimas ameaçando novamente.

— Eu... eu só precisava de um tempo sozinha — murmurou Emilly, sua voz trêmula. Ela sabia que Sarah entendia, mesmo sem que precisasse explicar. A presença de sua amiga era um alívio, como uma âncora em meio a uma tempestade furiosa.

Sarah segurou a mão de Emilly, um gesto simples, mas cheio de significado.

— Você não está sozinha, Emilly. Eu estou aqui com você, sempre. Vamos passar por isso juntas, certo?

As palavras de Sarah eram como um bálsamo para a alma de Emilly. Ela assentiu, finalmente permitindo que algumas lágrimas caíssem. Sarah a puxou para um abraço apertado, e Emilly se deixou a abraçar.

Cicatrizes Invisíveis ( Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora