Capítulo 15

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CHOI SAN

Sabe a sensação de não estar no controle do próprio corpo? Quando você liga o modo automático e parece que tudo que acontece é apenas um borrão na sua mente? É, esse sou eu nesse momento.

Sei que sai da casa do Wooyoung mas parece que não sei como voltar pra minha casa ou até mesmo destravar o meu próprio carro, então fico apenas parado no meio do caminho, a poucos passos do carro e a menos passos ainda da mesma porta que eu acabei de sair. Não me permito ficar muito tempo parado, não quero a possibilidade de encarar Wooyoung agora por mais que eu saiba que ele não viria atrás de mim.

Não sei se estou na direção certa, os faróis são como borrões, talvez pela minha velocidade ou pelas lágrimas acumuladas nos olhos. Reconheço o litoral e o lugar exato que meu instinto me trouxe, só agora tenho noção de quanto tempo meu cérebro passou praticamente no automático, são pelo menos 50 minutos dirigindo tranquilamente.

Estaciono de qualquer jeito e assim que saio do carro a brisa salgada me arrepia, busco a pequena trilha pra subir na pedreira que tanto me traz lembranças.

"Enquanto as lágrimas caiam eu tentava acalmar minha respiração e parar com a tremedeira maldita. Eu não queria consolo, eu queria paz . Sem estudos, sem notas, sem gritos, sem drogas, sem tiros, só o barulho das ondas e o pôr do sol como agora, ou talvez a lua bem grande.

A mão no meu ombro faz eu me encolher, não vim acompanhado.

- Sabia que as corujas são monogâmicas? - o tom calmo e quase em um sussurro me fez prestar muita atenção em suas palavras - Poucas espécies são assim.

- Eu não sabia - não tenho certeza se ele realmente entendeu minhas palavras.

- Araras, periquitos, pinguins, cisnes, e até algumas espécies de macacos - listou todos enquanto se abaixava ao meu lado.

- Porque tem isso na cabeça? - olhei pra o garoto tentando entender o papo esquisito. 

- É um ótimo jeito de puxar papo.

- Te faz parecer maluco - ele gargalhou .

- Talvez, mas gosto de acreditar que o amor da sua vida é único e até mesmo os animais encontrarão seus parceiros.

Não consegui formular uma resposta então ficamos em um silêncio tranquilo olhando os últimos raios do sol sumirem.

- Você já se acalmou então posso ir tranquilo, você também deveria voltar pra casa. - saiu depois de acenar com a mão.

Por alguns segundos fiquei parado percebendo agora ter parado de chorar, corri pra catar a bicicleta jogada de qualquer jeito e alcançar o garoto que por sorte tava na mesma direção do meu cafofo.

- Não me disse seu nome - diminui a velocidade acompanhando o moreno

- Yeosang .

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