I - Entre Pinceladas e Esperanças

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SEOUL - CORÉIA DO SUL

O som do despertador soou estridente, reverberando pelas paredes do pequeno apartamento de Jennie. Eram seis da manhã, e a luz pálida do amanhecer esgueirava-se pelas frestas da cortina, projetando sombras suaves sobre o piso de madeira desgastado. Jennie piscou lentamente, ainda meio adormecida, enquanto estendia a mão para desligar o alarme. Ficou deitada por alguns momentos, contemplando o teto acima de sua cabeça, tentando encontrar a motivação para se levantar.

No entanto, o desejo de criar era sempre mais forte que a inércia. Afinal, a arte era a única constante em sua vida, a única coisa que fazia sentido em meio ao caos de uma cidade que parecia determinada a ignorá-la. Jennie sentou-se na beira da cama, sentindo o frio do chão sob seus pés descalços, e por um momento, fechou os olhos, deixando seus pensamentos vagarem.

Lembranças do passado flutuaram em sua mente – dias ensolarados passados na pequena cidade onde crescera, onde passava horas desenhando em cadernos de esboços, sob a sombra de uma árvore no quintal. Ali, tudo parecia mais simples. As expectativas eram menores, e o futuro não parecia tão avassalador. Mas a cidade grande chamara Jennie com promessas de oportunidades, e ela não pudera ignorar.

Após alguns minutos, Jennie finalmente levantou-se e caminhou até a cozinha. O apartamento era modesto, e ela o havia decorado com suas obras inacabadas, que agora adornavam as paredes, tornando o ambiente um tanto caótico, mas artisticamente inspirador. Naquele pequeno espaço, Jennie encontrava um refúgio, longe do barulho constante da vida urbana.

Ela preparou uma xícara de café forte, o aroma encorpado enchendo a cozinha e oferecendo um conforto familiar. Enquanto esperava que o café ficasse pronto, Jennie pensava em seu dia. Hoje, como em muitos outros dias, ela se dedicaria a pintar, perder-se-ia nas cores e texturas que traziam significado à sua vida.

Após o café, Jennie tomou um banho rápido e vestiu suas roupas habituais – jeans desbotados e uma camisa velha manchada de tinta. A simplicidade do traje permitia-lhe movimentar-se com liberdade enquanto trabalhava, sem se preocupar com aparências. Pegou sua bolsa e saiu de casa, descendo as escadas estreitas do prédio, cercada pelo som de passos apressados e portas se fechando.

Ao abrir a porta da rua, foi saudada pelo ar frio da manhã. A cidade estava despertando, as calçadas enchiam-se de pessoas apressadas que se moviam em um ritmo frenético, cada uma seguindo seu caminho. Jennie misturou-se à multidão, mas manteve-se à margem, observando os rostos e as expressões que passavam por ela, como se estivesse em busca de algo que nem mesmo sabia definir.

Enquanto caminhava, Jennie desviou-se de grupos de turistas que apontavam para os edifícios altos e tiravam fotos, maravilhados com a magnitude da cidade. Para eles, tudo era novo e excitante, mas para Jennie, a cidade era uma entidade viva e exigente, que constantemente desafiava sua determinação.

Seus pensamentos foram interrompidos quando passou por uma galeria de arte. A fachada moderna e minimalista era imponente, e as obras expostas na vitrine chamaram sua atenção. Jennie parou por um momento, olhando através do vidro, admirando as pinturas e esculturas que faziam parte de uma exposição recente. Havia algo nas cores e formas que a inspirava, uma lembrança do porquê escolheu seguir esse caminho.

Ela sabia que o mundo da arte era competitivo e implacável, mas também acreditava que havia beleza em compartilhar suas criações, uma forma de se conectar com os outros em um nível mais profundo. Esse era o impulso que a mantinha firme, mesmo quando as vendas eram escassas e as críticas se faziam presentes.

Depois de alguns minutos, Jennie continuou seu caminho, agora mais motivada a chegar ao estúdio. O local, situado em um antigo prédio industrial transformado em um espaço comunitário para artistas, era onde Jennie passava a maior parte de seu tempo. Ali, cercada por pincéis e telas, ela podia dar vida aos seus pensamentos mais íntimos.

Entre Sombras e Luz  (JENLISA)Onde histórias criam vida. Descubra agora