IX - Cicatrizes Invisíveis

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POV LISA

A noite caía sobre Seoul, mas ao invés de trazer a calma, ela parecia acentuar a inquietude dentro de mim. As luzes da cidade piscavam como estrelas dispersas, mas nada disso me trazia conforto. Eu andava sem destino, tentando afastar o peso esmagador da decisão que tomei ao sair do apartamento de Jennie. Cada passo ecoava a distância crescente entre nós, cada batida do meu coração soava como uma acusação silenciosa.

Deixar Jennie para trás foi uma escolha dolorosa, mas uma que parecia inevitável. Ela queria proximidade, uma intimidade que eu ainda não conseguia oferecer. Dentro de mim, o medo de reviver os traumas do passado era forte demais para ignorar, mesmo que isso significasse magoá-la.

Hannah. O nome reverberava em minha mente como um sino, trazendo à tona lembranças que eu passei anos tentando enterrar.

Hannah era o tipo de pessoa que parecia dominar qualquer ambiente em que entrava, sem precisar fazer esforço. Ela tinha uma presença magnética, uma mistura de confiança e mistério que atraía as pessoas para ela como mariposas para a luz. Seus olhos eram de um verde profundo, sempre parecendo guardar segredos, e seu sorriso tinha uma maneira de desarmar qualquer um.

Fisicamente, Hannah era deslumbrante de uma forma que parecia quase irreal. Seus cabelos castanhos, longos e ondulados, caíam sobre seus ombros como uma cascata, contrastando com sua pele pálida e impecável. Ela era alta, com uma postura que exalava uma autossuficiência que eu, na época, achei irresistível.

Hannah era inteligente e articulada, sempre sabendo exatamente o que dizer para conquistar as pessoas ao seu redor. Ela tinha uma capacidade única de fazer com que você se sentisse especial, como se fosse a única pessoa no mundo que importava. Quando ela te dava atenção, parecia como se um holofote tivesse se acendido, iluminando sua vida de uma maneira que nunca tinha experimentado antes. Mas era também essa mesma habilidade que tornava sua frieza e distanciamento tão devastadores.

Em Hannah, havia uma dualidade perturbadora: por um lado, ela podia ser incrivelmente carinhosa e atenciosa, mas por outro, ela também tinha um lado cruel e manipulador. Quando estava de bom humor, era generosa e divertida, capaz de fazer as coisas mais simples parecerem extraordinárias. Mas, nos momentos em que decidia se distanciar, sua indiferença era como gelo, cortante e insensível, deixando um vazio doloroso em seu lugar.

Ela tinha um gosto pelo risco e pela adrenalina, o que se refletia tanto em suas escolhas de vida quanto em seus relacionamentos. Para ela, tudo era um jogo, uma busca constante por novas emoções, e as pessoas ao seu redor eram frequentemente peças que ela movia conforme sua vontade. Essa imprevisibilidade, no começo, parecia excitante, mas rapidamente se tornou exaustiva e emocionalmente desgastante.

Hannah, em sua essência, era uma tempestade – bela, poderosa, mas também destrutiva. E estar ao seu lado, na maior parte do tempo, significava ser levado por essa tempestade, sem saber onde se acabaria. Ela foi meu maior amor, mas também a fonte do maior sofrimento que já experimentei. E, mesmo depois de tudo, sua sombra ainda pairava sobre mim, influenciando cada decisão que eu tomava, cada relacionamento que tentava construir.

A relação que tive com Hannah foi o início de muitas das inseguranças que ainda carrego.

Mas, com o tempo, aquele furacão emocional começou a mostrar seu lado destrutivo. Hannah era imprevisível em seus afetos, uma hora me cobria de amor e atenção, e na outra, se distanciava sem aviso, deixando-me desorientada e ansiosa. Era como viver em uma montanha-russa emocional da qual eu não conseguia descer. Eu me apegava desesperadamente aos momentos bons, tentando ignorar os sinais de alerta que se tornavam cada vez mais evidentes.

Entre Sombras e Luz  (JENLISA)Onde histórias criam vida. Descubra agora