XXXIV - Heroína?

26 4 1
                                    


POV JENNIE


A umidade impregnava o ar, fazendo minhas roupas grudarem no corpo enquanto o frio do chão de concreto se espalhava pelos meus ossos. O porão onde Victor me havia trancado parecia um labirinto de desespero, com suas paredes mal iluminadas e a sensação opressiva de isolamento. Não tinha ideia de há quanto tempo estava ali; o tempo parecia se arrastar, cada segundo se estendendo como uma tortura silenciosa. A corda apertada nos meus pulsos já não doía tanto — não pela falta de dor, mas porque meus braços estavam dormentes.

O único som constante era o de gotas de água pingando em algum lugar próximo, criando um ritmo implacável, como um relógio sinistro marcando os minutos que restavam até... até o quê? Eu nem queria pensar nisso. A cada som de passos do lado de fora, meu coração disparava, e uma corrente de medo percorria meu corpo. Quem seria agora? Mais um capanga de Victor? Ou talvez Victor em pessoa? Será que Lisa estava me procurando, desesperada, ou seria ele quem viria se gabar de seu controle sobre a situação?

Fechei os olhos por um momento, tentando reprimir o medo crescente e me concentrar. Lisa tinha que estar me procurando. Ela sempre encontrava um jeito, sempre era determinada. Mesmo quando o mundo parecia desmoronar, ela se mantinha firme. Essa era a Lisa. E era nisso que eu precisava acreditar.

"Ah, Jennie" a voz arrastada e venenosa de Victor cortou o silêncio como uma faca afiada, fazendo meu corpo se retesar.

Abri os olhos devagar, vendo sua silhueta aparecer à frente da porta. Victor tinha aquele sorriso familiar — o tipo de sorriso que anunciava nada além de problemas. Ele se aproximou, os sapatos ecoando no chão de cimento como um aviso de sua presença. Ele parou em frente a mim, inclinando-se, com os olhos brilhando com uma satisfação mal disfarçada. Eu não podia deixar de notar a forma como ele parecia se deliciar com a minha vulnerabilidade. Ele amava isso. O controle.

"Ainda aguentando firme?" Victor falou com um tom quase casual, como se estivéssemos em uma conversa normal, em um café qualquer, e não em um cativeiro.

Eu fiquei em silêncio. Não ia dar a ele o prazer de uma resposta. Ele já tinha tirado muito de mim. Mas Victor não se incomodou com o silêncio. Na verdade, ele parecia gostar ainda mais da minha resistência. Ele se abaixou, aproximando o rosto do meu, sua voz baixando para um sussurro ameaçador.

"Lisa está vindo, não está?" Ele sorriu, um sorriso que não chegava aos olhos. "Sua preciosa Lisa. Tão previsível. Acha mesmo que ela vai te salvar?"

O medo começou a se formar no meu peito, mas me obriguei a não demonstrar. Lisa sempre encontrava uma solução, sempre. Mas quanto mais Victor falava, mais a dúvida se infiltrava, como veneno.

"Ela não é páreo para mim" continuou ele, andando em círculos ao meu redor como um predador. "Lisa pode ser esperta, mas eu sou mais rápido. Ela vai cair em uma armadilha, Jennie. E você sabe disso, lá no fundo."

Eu não consegui segurar por mais tempo.

"Não subestime Lisa" soltei as palavras com uma confiança que não sabia se sentia.

Victor parou, encarando-me com um olhar curioso, quase divertido.

"Ah, mas eu não subestimo ninguém, querida" ele falou com suavidade venenosa. "Eu apenas me preparo para todas as possibilidades."

Ele se aproximou novamente, até estar a centímetros do meu rosto. Pude sentir o cheiro de álcool em sua respiração. Meu estômago revirou, mas eu me obriguei a não recuar.

"E no caso da sua heroína, Jennie" ele sussurrou. "Ela está prestes a se meter em algo que não tem capacidade de vencer."


Entre Sombras e Luz  (JENLISA)Onde histórias criam vida. Descubra agora