XIV - Sombras em Movimento

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POV LISA

O dia começou como qualquer outro, mas algo no ar parecia diferente. Ao invés de meu típico café preto, decidi experimentar algo novo – um cappuccino com uma pitada de canela. Pequenas mudanças assim costumavam trazer uma sensação de controle para minha vida caótica, mas hoje, ao invés de conforto, isso só aumentou a estranheza que sentia desde o amanhecer.

Eu ainda estava processando os eventos da noite anterior, que haviam deixado marcas profundas em meu espírito. O beijo com Jennie na balada foi uma fagulha que acendeu emoções intensas, mas também trouxe à tona medos que pensava ter enterrado há muito tempo.

Meu telefone tocou enquanto dirigia em direção ao escritório. Era uma mensagem de um cliente antigo, alguém que raramente me contatava, a menos que fosse algo urgente.

"Preciso de você. Encontro na delegacia às 10h", dizia a mensagem.

Sem hesitar, mudei meu curso, ciente de que o dia não seria como qualquer outro.

Enquanto dirigia pelas ruas da cidade, o eco dos acontecimentos da noite anterior continuava a martelar em minha cabeça.


FLASHBACK

O ambiente frenético da balada, as luzes piscando, a música alta, tudo parecia um borrão agora. Mas a sensação dos lábios de Jennie contra os meus, aquela breve conexão, estava cravada em minha memória como uma chama que eu não conseguia apagar.

Após o beijo, nos afastamos em meio à multidão, sem trocar muitas palavras. Conseguia ver a confusão estava estampada nos olhos de Jennie, e eu que sempre me orgulhei de ser racional e controlada, me senti perdida, como se estivesse navegando em mares desconhecidos. Por um momento, desejei poder simplesmente me deixar levar por meus sentimentos, mas o medo que sentia me segurou.

No caminho de volta, nós ficamos em silêncio. Eu dirigia com meus dedos apertando o volante com força, enquanto Jennie olhava pela janela. O silêncio entre nós era pesado, carregado de palavras não ditas, de emoções não resolvidas. Cada uma de nós estava envolta em suas próprias incertezas, lutando para entender o que aquilo significava.

Quando chegamos ao apartamento de Jennie, o desconforto no ar era quase palpável. Desliguei o motor do carro, e permanecemos em silêncio por mais alguns segundos, como se estivéssemos tentando reunir coragem para enfrentar o que vinha a seguir.

"Lisa..." Jennie finalmente quebrou o silêncio, virando-se para me encarar. Havia um misto de confusão e vulnerabilidade em sua expressão. "Eu não sei o que tudo isso significa."

Engoli em seco, sentindo o peso das expectativas pairando no ar. Eu queria tanto dizer algo que acalmasse Jennie, algo que também aliviasse meu próprio coração. Mas as palavras falharam em chegar.

"Jennie, eu..." Tudo que eu poderia dizer parecia inadequado diante do turbilhão de sentimentos.

Jennie apenas assentiu lentamente, como se estivesse aceitando que as respostas não viriam facilmente. Ela abriu a porta do carro e saiu, mas antes de fechar, virou-se novamente para mim.

"Eu... preciso pensar." a voz suave, mas firme.

Eu só conseguia assentir, sentindo um aperto no peito. Vi Jennie entrar no prédio sem olhar para trás, e, por um momento, considerei ir atrás dela, dizer algo, qualquer coisa, que pudesse aliviar a tensão que sentia. Mas minhas mãos permaneceram firmes no volante, incapazes de se mover.

Assim que Jennie desapareceu pela porta do prédio, soltei um suspiro profundo e encostei a cabeça no volante. O peso da noite caía sobre mim, me esmagando com uma intensidade que não estava preparada para enfrentar.

Entre Sombras e Luz  (JENLISA)Onde histórias criam vida. Descubra agora