IV - Ecos do Passado

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O som rítmico do trânsito ecoava nas ruas enquanto o sol lentamente se erguia sobre Seoul, tingindo o horizonte com tons dourados e laranjas.
Lisa acordou, de forma automática, às cinco da manhã. Aquele era um hábito cultivado desde a infância e uma escolha pessoal que contrastava com a urgência dos alarmes irritantes do seu telefone. Ela preferia acordar antes de tudo. Antes da cidade acordar, antes do caos diário. Quando tudo ainda era silêncio e a realidade parecia uma página em branco. Sentada à mesa da cozinha, ela intercalava olhares entre documentos do caso que estava liderando e as plantas da varanda que havia conseguido não matar, um feito que considerava maior do que qualquer vitória no tribunal. O verde das folhas trazia um contraste agradável ao cinza do lado de fora.

Depois de vestir um elegante tailleur cinza, Lisa prendeu o cabelo em um coque firme e colocou seus óculos de leitura favoritos, que ela usava sempre que queria transmitir autoridade no tribunal.

Lisa era uma advogada em ascensão em uma prestigiada firma de advocacia. Especializava-se em direitos civis e defesa de minorias, uma escolha que tinha mais a ver com sua própria história de vida do que com qualquer outra coisa.

No entanto, o peso das expectativas familiares pairava sobre ela constantemente. Ser a primeira de sua família a frequentar a universidade e ainda mais, uma universidade de prestígio vinha com suas próprias pressões, e Lisa muitas vezes sentia o fardo de ter que provar seu valor repetidamente.

Lisa saiu de seu apartamento localizado em um prédio charmoso na região de Gangnam-gu e caminhou até seu carro. À medida que se misturava ao fluxo de trabalhadores matinais, ela pensava na reunião que teria mais tarde com um cliente importante, um caso complexo que poderia alavancar sua carreira ou lançá-la em um mar de estresse sem fim.

Conforme dirigia através dos túneis escuros, Lisa deixou sua mente vagar para longe do trabalho e das expectativas que pesavam em seus ombros. Pensou na livraria onde tinha encontrado Jennie novamente. Aquela artista tinha um ar de genuína paixão que Lisa não encontrava com frequência no mundo corporativo. Algo nela havia capturado a atenção de Lisa de uma maneira que ela não conseguia definir completamente.

Havia uma conexão, um fio invisível que parecia puxá-la em direção a Jennie, apesar das diferenças entre suas vidas. Lisa refletia sobre como seus caminhos se cruzaram de forma tão casual, mas sentia que havia mais nisso do que apenas coincidência.

R&D OFFICE (Research and Development)

Quando Lisa chegou ao escritório, foi recebida pela recepcionista, que imediatamente a informou sobre a agenda do dia. Lisa assentiu, guardando seus pensamentos pessoais em um canto de sua mente enquanto se preparava para enfrentar o dia de trabalho.

A primeira reunião do dia foi intensa. O cliente, um empresário envolvido em uma disputa de terras, estava desesperado por uma solução favorável. Lisa se concentrou nas questões legais, demonstrando sua habilidade em articular argumentos claros e estratégicos. Durante a apresentação, ela se lembrou do conselho de seu mentor: "Confiança e clareza são suas armas mais poderosas." E ela certamente sabia como usá-las.
O caso tinha nuances complexas, questões legais que a fascinavam e desafiavam, mas o que a mantinha focada era a história humana por trás dos papéis. Ela era uma advogada talentosa, mas era sua habilidade de ouvir e compreender que fazia diferença.

No entanto, enquanto lidava com os aspectos técnicos do caso, Lisa não conseguia afastar a sensação de que algo estava faltando em sua vida. O sucesso profissional era recompensador, mas muitas vezes vinha com o custo da satisfação pessoal.

Na hora do almoço, Lisa se encontrou com Miyeon, sua amiga de longa data e confidente. Elas escolheram um pequeno café, onde podiam discutir livremente sem o risco de serem ouvidas por colegas de trabalho.

"Você está com aquela cara de quem está pensando demais de novo" comentou Miyeon, enquanto misturava o açúcar em seu chá.

Lisa sorriu, reconhecendo que sua amiga a conhecia bem demais para que pudesse esconder qualquer coisa. "Só estou tentando equilibrar tudo, como sempre. O trabalho, a família, as expectativas. Às vezes, sinto que estou me afogando nisso tudo."

"Entendo perfeitamente. Mas você precisa se permitir um pouco de liberdade também, Lisa. Você está trabalhando tanto que não sobra tempo para viver de verdade. Quando foi a última vez que fez algo só por você?"Miyeon insistiu, olhando diretamente para Lisa.

Lisa hesitou antes de responder, sua mente imediatamente voltando para os breves momentos que passara na livraria e a inesperada conexão que sentira com Jennie.

"Bem, eu encontrei uma artista interessante recentemente. Temos nos esbarrado em uma livraria algumas vezes. É estranho, mas me sinto curiosamente atraída por ela confessou Lisa, seus olhos brilhando com uma mistura de curiosidade e incerteza.

Miyeon arqueou as sobrancelhas, claramente intrigada. "Isso é interessante. E você acha que ela poderia ser alguém especial?"

Lisa deu de ombros, incerta sobre como responder. "Não sei. Sinto que nossos caminhos continuam se cruzando por algum motivo, mas não quero me precipitar. Ainda assim, é bom sentir essa conexão, especialmente quando o mundo corporativo pode ser tão impessoal."

Miyeon sorriu, encorajando-a a explorar essa nova possibilidade. "Talvez você deva ouvir seu instinto. Às vezes, o universo coloca pessoas em nosso caminho por um motivo. Apenas esteja aberta ao que isso possa significar."

O restante do dia passou em um borrão de reuniões, telefonemas e revisões de documentos legais. Mas, ao final do expediente, Lisa sentiu que havia feito um progresso significativo em seu caso, o que trouxe uma sensação de satisfação que nem sempre era garantida.

Ao sair do escritório, ela decidiu caminhar por um parque perto do escritório antes de voltar para casa. Era uma maneira de descomprimir e processar os eventos do dia. As árvores balançavam suavemente com a brisa do início da noite, e o som distante de risadas e música preenchia o ar.

Enquanto caminhava, Lisa pensava na conversa que tivera com Miyeon. Talvez fosse hora de abrir espaço para algo além do trabalho em sua vida, algo que trouxesse cor e paixão, como a arte de Jennie parecia fazer.

Ela lembrou-se do convite que havia recebido para o evento artístico naquele fim de semana. Embora hesitasse em participar de eventos sociais fora de sua zona de conforto, sentiu uma curiosidade crescente em explorar a possibilidade de algo mais significativo.

Ao retornar ao seu apartamento, Lisa decidiu aceitar o convite. Mandou uma mensagem para o organizador confirmando sua presença, um gesto simples que, para ela, significava abrir-se a novas experiências e oportunidades.

Enquanto a noite avançava, Lisa se sentiu mais leve, quase como se uma nova porta tivesse sido destrancada dentro dela. Havia algo emocionante e um pouco assustador na ideia de se abrir para o desconhecido, mas Lisa estava disposta a dar um passo adiante.

Com a cidade brilhando lá fora, Lisa olhou pela janela de seu apartamento e sentiu que estava no caminho certo. O destino parecia estar entrelaçando seus fios de forma inesperada, e ela estava pronta para ver onde isso a levaria.

Enquanto o vento sussurrava suavemente lá fora, trazendo o aroma de verão que preenchia o ar, Lisa foi dormir com uma sensação de renovada esperança e expectativa pelo que o futuro poderia reservar.

Entre Sombras e Luz  (JENLISA)Onde histórias criam vida. Descubra agora