XI - Ecos do Silêncio

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POV JENNIE

O silêncio no apartamento após a partida de Lisa era quase palpável. Eu permanecia ali, imóvel, tentando absorver o que acabara de acontecer. O lugar, antes carregado de uma energia vibrante e uma tensão quase elétrica, agora parecia vazio, frio, como se toda a vida tivesse sido drenada com a saída dela. O som da porta se fechando ecoava em minha mente, repetindo-se como um refrão melancólico, simbolizando o que talvez fosse o fim de algo que mal havia começado.

Enquanto a escuridão da noite tomava conta do apartamento, eu me vi perdida em pensamentos, caminhando de um lado para o outro sem um destino claro. Meus passos ressoavam no piso de madeira, cada estalo lembrando-me da solidão que crescia dentro de mim. Sentei-me no sofá, o mesmo onde Lisa havia estado momentos antes, tentando encontrar sentido no que sentia. Havia uma mistura de emoções confusas: raiva, tristeza, frustração, mas acima de tudo, medo. Um medo avassalador que me lembrava de que, não importa o quanto eu quisesse, o passado ainda me prendia, me impedia de seguir em frente.

Meus olhos vagaram pelo apartamento, fixando-se nas telas espalhadas pelo estúdio. Aquelas pinturas inacabadas, antes tão cheias de promessas, agora pareciam vazias, como se também estivessem refletindo meu estado interno. Caminhei até uma delas, uma tela grande que eu havia começado pouco antes de conhecer Lisa. As cores, que outrora pareciam vibrantes, agora me pareciam fora de lugar, sem vida. Passei os dedos pela superfície da tela, sentindo a textura áspera da tinta seca. O que eu estava tentando capturar ali? Alguma emoção que agora me escapava, perdida na confusão dos últimos dias.

Sentei-me no chão, ao lado da tela, e abracei meus joelhos. Sentia o peso da ausência de Lisa como um vazio físico, um buraco negro que parecia puxar toda a minha energia. Minha mente, no entanto, insistia em reviver cada momento da noite. Lembrei-me de como Lisa se afastou de mim, a expressão nos seus olhos, aquele brilho que eu não conseguia decifrar completamente. Havia algo ali, algo mais profundo do que ela estava disposta a compartilhar, e eu me perguntei se alguma vez conseguiria alcançar essa parte dela. Mas sabia que, para isso, eu também precisaria estar disposta a mostrar as partes mais vulneráveis de mim, e essa ideia me aterrorizava.

À medida que a noite avançava, memórias do passado começaram a emergir, trazendo à tona antigos fantasmas que eu pensei ter enterrado. A lembrança de Caleb invadiu meus pensamentos, como sempre fazia quando eu me sentia perdida. Ele foi, por muito tempo, o exemplo mais claro do que eu poderia ter tido, mas deixei escapar. Não era apenas o fato de que ele me amava, mas que ele viu algo em mim que eu mesma não conseguia enxergar. Algo que ele tentou, com todas as forças, trazer à tona, mas que eu, no final, recusei a aceitar.

Lembrei-me de nossas conversas, do jeito que ele me olhava, sempre com uma mistura de admiração e preocupação. Caleb tinha essa habilidade de encontrar beleza até mesmo nas coisas mais triviais, e eu era uma dessas coisas triviais para ele. Ele viu em mim algo que, em sua mente, valia a pena lutar, e ele lutou, dia após dia, por um espaço no meu coração que eu teimosamente mantive fechado.

Houve uma noite em particular, uma que sempre voltava para me assombrar, especialmente em momentos como este. Estávamos no meu estúdio, ele observando enquanto eu pintava, como sempre fazia. Era uma das coisas que eu mais apreciava nele; a maneira como ele ficava em silêncio, respeitando o meu processo criativo, sem pressionar, apenas estando ali, como uma presença tranquila. Naquela noite, porém, havia algo diferente em sua postura, uma tensão que eu não compreendi na hora. Ele se aproximou de mim, parou ao meu lado, e ficou olhando para a tela que eu estava pintando.

"Jennie," ele começou, a voz baixa, quase hesitante. "Às vezes, eu sinto que você se esconde atrás das suas pinturas. Como se... tivesse medo de ser vista de verdade."

Entre Sombras e Luz  (JENLISA)Onde histórias criam vida. Descubra agora