Entre Sombras e Luz (JENLISA)

XVII - Telas de Desejo

POV JENNIE

Meu estúdio estava envolto em penumbra, iluminado apenas pela luz suave de uma lâmpada ao canto e pelas luzes difusas da cidade que entravam pela janela. O som da música clássica preenchia o espaço, criando um ambiente de tranquilidade que contrastava com a tempestade de emoções dentro de mim. Eu estava focada em minha nova criação, um quadro que parecia ganhar vida a cada pincelada.

As cores eram vibrantes e contrastantes—tons profundos de vermelho, roxo e preto—misturando-se de uma forma que transmitia uma intensidade palpável. As formas abstratas se entrelaçavam em um turbilhão, como se cada uma estivesse lutando para emergir à superfície. Estava tentando capturar na tela as emoções que eu mal conseguia entender, mas que sabia estarem ligadas à Lisa.

Dei um passo para trás, limpando as mãos em um pano enquanto examinava minha obra. Uma parte de mim estava satisfeita com o resultado, mas outra parte, a mais vulnerável, sabia que havia exposto mais de mim mesma do que jamais fizera antes. Eu não conseguia parar de pensar em Lisa—nos olhares que compartilhávamos, nos toques sutis e na eletricidade que parecia pulsar entre nós desde o beijo no parque. Peguei o celular, meus dedos hesitantes pairando sobre a tela antes de finalmente enviar a mensagem.

"Está ocupada? Pintei algo novo. Quer ver? Vem aqui esta noite."

Apertei enviar antes que pudesse me arrepender. Comecei a reorganizar as tintas e limpando os pincéis, mas meus olhos continuavam a flutuar até o telefone. Não demorou muito para que a resposta de Lisa chegasse.

"Saindo do trabalho. Estou a caminho. Chego em 20 minutos "

Meu estômago revirou em antecipação. Passei os minutos seguintes tentando me acalmar, arrumando o estúdio e verificando a pintura uma última vez. Havia algo de ritualístico naquele momento, como se eu estivesse preparando o cenário para algo inevitável. Quando a campainha tocou, senti meu coração bater na garganta.

Quando abri a porta, lá estava Lisa. Seus olhos lindos e brilhantes, havia uma suavidade em seu sorriso que a fez parecer mais acessível, mais real. Senti o calor da presença de Lisa, algo reconfortante, mas também inquietante, como o prelúdio de uma tempestade.

"Oi," disse, minha voz quase em um sussurro.

"Oi," Lisa respondeu, com um sorriso que fez o meu coração acelerar.

Conduzi ela até o estúdio, sentindo a tensão no ar aumentar com cada passo. Quando paramos diante da pintura, me afastei um pouco, dando espaço para que Lisa pudesse absorver a obra.

Olhei para Lisa com expectativa enquanto revelava a nova tela que havia terminado mais cedo naquele dia. A pintura estava envolta em cores vibrantes, uma mistura de emoções e significados que pareciam quase palpáveis. A imagem mostrava duas figuras femininas em um abraço intenso, suas formas entrelaçadas em uma dança de luz e sombra.

Lisa ficou em silêncio por um momento, absorvendo cada detalhe da obra. Havia algo nas expressões das figuras, na maneira como estavam conectadas, que tocava algo profundo dentro dela.

"Jennie... isso é incrível," ela finalmente disse, a voz cheia de admiração.

Sorri, visivelmente aliviada.

"Eu queria capturar algo... real, algo que mostrasse como duas pessoas podem se encontrar e se apoiar, mesmo em meio a todas as complicações."

Lisa continuou a olhar para a tela, sentindo-se estranhamente conectada à mensagem por trás da arte.

"Parece... tão vulnerável e ao mesmo tempo tão forte," ela murmurou, seus pensamentos voltando à própria vida, às próprias lutas com emoções e conexões. "Como se essas duas pessoas tivessem encontrado algo que as completasse."