| 03 - A primeira vez é acidente |

526 39 2
                                    

AO VER ÍRIS CAIR NO CHÃO, Mikhael correu apressado em sua direção, o pânico estampado em seu rosto.

— Não, não, não — Ele repetia para garota enquanto se aproximava. — Tem que ficar de pé.

O som dos tiros se aproximava, misturado com o caos da favela. Mas finalmente dois homens fardados surgiram, suas armas erguidas e prontos para agir. Entre eles estava o Capitão Nascimento, que, ao perceber a gravidade da situação, abaixou o fuzil e assumiu uma postura protetora. Com uma análise rápida, ele avaliou a cena.

Nascimento se ajoelhou ao lado de Íris, que estava no chão, tentando recuperar o fôlego. Com um toque preciso, ele virou a cabeça dela e checou os batimentos no pescoço. A garota não estava totalmente inconsciente; sentia e ouvia tudo ao seu redor, mas a dor e a respiração ofegante faziam seu corpo vacilar.

Mikhael, ofegante e preocupado, olhou para Nascimento com alívio e ansiedade.

— Ela tá ferida... 

Nascimento examinou Íris com um olhar clínico, notando os cortes e o cansaço no rosto dela. A situação não era ideal, mas ele precisava agir rápido.

— Fica tranquilo — disse Nascimento, com uma firmeza que contrastava com a tensão no ar. — E você? Tá inteiro? Consegue andar? — perguntou, com um tom direto.

— Sim — respondeu Mikhael, rispidamente.

— Então é o seguinte: segue aquele cara ali — Nascimento apontou para um colega. — E não vacila, me ouviu? — sua voz era dura e autoritária.

Mikhael assentiu e se dirigiu ao homem indicado, pressionando a ferida. Nascimento voltou seu olhar para Íris.

— Tá me ouvindo? — perguntou, virando a cabeça dela para ele. — Vou te tirar daqui, mas vai doer um pouco.

Ela assentiu com esforço. Nascimento a apoiou, suas mãos firmes na cintura dela. Ele a levantou cuidadosamente, como se estivesse lidando com um peso precioso.

— Eu tô bem, posso andar — ela disse, a voz fraca.

Nascimento a observava com uma mistura de preocupação e admiração. A determinação dela em não ser um peso para ele não passou despercebida.

Enquanto se moviam mais a frente, Íris viu Carlos jogado em um canto, como se fosse um pedaço de lixo. O coração dela apertou ao reconhecer o corpo de alguém que um dia tinha sido amigo. Seus olhos se fixaram nele enquanto se afastavam. A visão dos corpos espalhados era horrível e real de uma forma que nenhum filme poderia capturar. Mesmo com a experiência de Íris, o choque da realidade era intenso.

Nascimento também notou os corpos, mas manteve o foco. A prioridade era levar Íris para um lugar seguro. Eles passaram por corredores estreitos e irregulares, enquanto os tiros continuavam a ecoar. Alguns homens do BOPE os seguiam, dando apoio e cobertura. Finalmente, chegaram à viatura parada no meio da rua, que era como um sinal de alívio em meio ao caos.

[...]

Íris estava sentada na maca improvisada, a luz fraca das lâmpadas acentuando os cortes e manchas de sangue em seu rosto. Apesar da dor evidente, ela recusava a ajuda dos paramédicos com um gesto firme.

— Estou bem — repetia, a voz dura, tentando convencer a si mesma mais do que aos outros. O caos ao redor parecia não afetá-la, mas os sinais de desgaste eram impossíveis de ignorar.

Nascimento, a poucos metros de distância, observava-a em silêncio. Já tinha visto muitos policiais feridos, mas havia algo diferente em Íris — uma força e uma determinação que ele não via há tempos, mas também uma vulnerabilidade nas pequenas tremedeiras dos dedos.

| Tropa De Elite - Bela Dama |Onde histórias criam vida. Descubra agora