AMBOS ENTRARAM JUNTOS NO CARRO, e Íris sentiu uma expectativa crescer dentro dela. Queria que aquela noite fosse diferente, que eles saíssem para comemorar alguma coisa. Porém, ao perceber o cansaço estampado no rosto de Beto, sua animação se esvaiu.
— Vamos pegar umas bebidas e ir pra minha casa — ele sugeriu, a voz arrastada, como se cada palavra fosse um esforço.
Íris franziu o cenho, um misto de frustração e compreensão se espalhando por seu peito. A rotina de sempre, cada um na casa do outro, já não a satisfazia. Mas, ao mesmo tempo, sabia que Beto precisava relaxar, e isso a fazia hesitar em expressar seu descontentamento.
— Tudo bem, eu entendo — respondeu, tentando disfarçar a decepção na voz. — Só espero que um dia possamos sair pra comemorar de verdade.
Ele assentiu, e um silêncio pesado pairou entre eles. Assim que pararam em frente ao mercado, antes de descer, ele se virou para ela. Os olhos hesitantes e cansados de Beto encontraram os dela, transmitindo um misto de sinceridade e vulnerabilidade.
— Eu te juro, Íris, assim que essa fase passar, eu vou te levar pra sair de verdade — disse ele, com determinação tingindo sua voz, enquanto abria a porta.
Por um lado, era compreensível o comportamento dele, tanto no trabalho quanto em relação a ela. Beto havia desenvolvido um instinto de proteção, algo esperado dele, mas que, em certos momentos, poderia ser prejudicial. A relação entre eles estava se moldando de maneira quase dependente, e em algum momento isso poderia se tornar sufocante. Talvez não para ele, mas para Íris, a história era outra. Ela era uma garota jovem, cheia de sonhos, desejos e seus próprios problemas. Quando esse emaranhado de emoções explodia, poderia se afastar ou acabar se desgastando.
Roberto pensou: mesmo sem querer, o sistema sempre acaba ferindo onde mais dói. Nascimento poderia ter espancado viciados, esculachado corruptos e mandado muitos vagabundos para a vala. Mas, até então, não era nada pessoal; a sociedade o havia moldado para isso. Ele viveu a vida inteira acreditando que a polícia podia fazer a coisa certa, e, de repente, toda aquela certeza parecia se desfazer. Íris havia feito tudo isso ruir, mas, mesmo assim, ele ainda era o Capitão Nascimento - e agora, era pessoal. Implacável, aprendeu a fazer seu serviço da maneira mais difícil; como um homem raiz, já era um cachorro velho naquela situação. E, em algum momento, ele teria que enfrentar o próprio sistema que o fez ser quem é. Era uma missão que ele mesmo idealizou e assumiu. E missão dada, parceiro, é missão cumprida.
Aquilo parecia um encontro de almas. Não foram necessários anos para que Roberto estabelecesse uma conexão profunda com a garota; havia algo especial nela. Talvez fosse seu rosto bonito, seu sorriso encantador, seus trejeitos delicados ou até mesmo as nuances de sua vida - trágica, para uma simples jovem de 21 anos. Mas era essa intensidade nas histórias que a envolviam que o fez se entrelaçar a ela.
Ela ainda era a menina que ele conhecera no morro, mas também poderia ser aquela garota que encontrou no bar. Íris estava em constante transformação, sua essência moldando-se a cada dia. No início, ela era muito diferente do que aspirava se tornar. Uma jovem doce, gentil, cheia de vida, com uma alma de artista. Ela queria que sua existência deixasse marcas na vida dos outros. Antes, usava o teatro como seu palco; mas como poderia uma garota assim optar por uma profissão tão oposta, tão dura?
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| Tropa De Elite - Bela Dama |
Hayran KurguNessa adaptação de "Tropa de Elite", Íris, uma jovem cheia de sonhos e ambições, viu seu futuro promissor desmoronar após a trágica morte de sua melhor amiga. Tentando reconstruir sua vida em meio à dor, ela se torna escrivã na polícia, onde se depa...