| 13 - Ultraviolence |

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ÍRIS e Mikhael tinham acabado de almoçar. Ela estava inquieta com o tom da última conversa com Roberto.

— Quer uma carona? — Mikhael perguntou, enquanto saíam do restaurante, sempre direto.

— Não, obrigada. Prefiro voltar sozinha. Mas foi bom ter sua companhia — respondeu, já se afastando.

— Tranquilo, se cuida. — Ele parou, observando-a por um momento.

Mikhael não estava interessado em outra coisa além de amizade. Era raro, ainda mais para um homem. Mas ali, entre eles, existia um vínculo que começava a se formar, talvez pelo fato que ambos costumavam ser um pouco solitários. Ele só tinha a irmã e o sobrinho pequeno. Os pais, já não estavam mais. O cunhado, morto. E agora ele era o pilar da família, o único laço que restava.

[...]

Quando a garota finalmente chegou à sua rua, desceu do Uber e pagou a corrida. Ergueu os olhos para o céu limpo e ensolarado, antes de se voltar para suas plantas, lembrando-se de que precisava regá-las com urgência. Caminhou até o portão da entrada de sua casa, ainda na calçada. O portão estava trancado, uma barreira talvez inútil, já que qualquer um poderia facilmente pular ali. Mas ela não tinha intenção de fazer isso, então começou a procurar as chaves, que pareciam ter se escondido.

O sol começava a incomodá-la, pequenas gotas de suor se formando em seu rosto. Finalmente, após alguns momentos de busca, encontrou a chave e girou-a na fechadura, abrindo o portão.

Ao entrar, dirigiu-se à sua planta favorita, curvando-se para observar como estava. Contudo, um ruído ensurdecedor de uma moto a interrompeu, vindo do final da rua. Ela pensou que se tratava de um daqueles garotos que adoravam empinar motos, perturbando a paz dos vizinhos. Com um movimento brusco, ajeitou o rabo de cavalo e se levantou, decidida a dar uma olhada no intruso antes de se refugiar em casa.

Mas sua expressão se transformou em choque, e em um milésimo de segundo, sua mente congelou. Eram dois homens em uma moto, armados e com as armas apontadas para ela. Antes que conseguissem disparar, ela se abaixou instintivamente, o coração disparando em seu peito.

Uma rajada de tiros rasgou o ar, atingindo a casa com força brutal. Os vidros das janelas estilhaçaram-se em mil pedaços, enquanto pedaços de concreto se desprendiam das paredes, lançados pelo impacto. Íris se encolheu no chão, os joelhos dobrados e as mãos pressionadas contra os ouvidos. Sua respiração era curta e ofegante, o peito subindo e descendo em um ritmo frenético, mas algo mais forte que o medo a dominava: a urgência de sobreviver.

Quando os tiros cessaram por alguns segundos, aquele silêncio cruel preencheu o espaço ao seu redor. Íris agiu sem pensar, impulsionada pela necessidade de escapar. Correu até a porta de casa, os dedos trêmulos ainda apertando as chaves, que pareciam escorregar de suas mãos suadas. O coração martelava no peito enquanto ela lutava para girar a chave na fechadura, como se cada movimento estivesse contra ela.

Por fim, a porta cedeu. Íris se jogou para dentro, tentando fechar rapidamente a barreira entre ela e o perigo que a rondava. Mas antes que pudesse trancar a porta, o som inconfundível da moto voltou a ecoar pela rua, ameaçador. Os homens haviam feito uma curva, prontos para passar mais uma vez e, desta vez, acertar o alvo.

Sem pensar, Íris se jogou no chão, encostada contra a porta, o corpo todo em alerta. Ao redor, cacos de vidro cobriam o chão como estrelas caídas. Ela mal notou o momento em que apoiou as mãos no chão e cortou a pele contra os fragmentos. O sangue rapidamente escorreu de sua mão, pintando o chão ao seu redor de vermelho.

A dor fez seu rosto se contorcer, mas ela levou a mão à boca instintivamente, tentando conter o sangramento, sentindo o gosto metálico se espalhar por seus lábios. O sangue manchava sua pele, misturando-se à urgência da situação. Lá fora, o som da moto se distanciava por um instante, mas Íris sabia: aquela pausa era temporária. A ameaça ainda estava lá, rondando, esperando o próximo movimento.

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