| 28 - Conflitos internos |

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NA MANHÃ SEGUINTE, alguns agentes da Polícia Federal se infiltraram no morro com a precisão de sombras, movendo-se sem fazer barulho, como ratos na escuridão. Javier, Morello e Murphy estavam em um barraco simples, onde a tensão estava palpável, como se o ar fosse espesso demais para respirar. Os últimos detalhes da operação estavam sendo discutidos em voz baixa, cientes de que a missão à noite, no coração do baile funk, não poderia falhar. A vida de Murphy e de Íris estava em jogo, como uma lâmina afiada que pendia sobre qualquer deslize dos traficantes.

Morello estava à frente da conversa com o informante, um jovem que sempre estava pronto para trocar favores com os federais, com a esperança de ganhar algo em troca. Ele fornecia informações valiosas sobre os passos do comando, além de ter um rádio que permitia à Polícia Federal ouvir a rotina dos traficantes associados a Evandro.

— Eu quero a tua palavra, moleque — disse Morello, a voz grave e seca, como um trovão prestes a romper o silêncio. — Os agentes vão chegar perto do Evandro, e ninguém vai sair machucado. Eu preciso dessas informações sem enrolação. Entendeu? — Ele estava tão perto do informante que o garoto podia sentir a pressão de seu olhar.

O informante, um rapaz nervoso, tentou manter a calma, mas suas palavras saíam rápidas e atropeladas, como se o peso da situação já estivesse apertando seu pescoço.

— Pode confiar, senhor, eu já disse. Mas... eles têm que ficar esperto, né? Não sou nenhum milagreiro. — Ele engoliu em seco, tentando disfarçar o medo.

Murphy, sempre imponente, cruzou os braços e encarou o garoto com um olhar que dizia tudo. Não precisava falar nada; seu olhar já transmitia mais do que mil palavras.

— Vai ter que aprender a fazer, então — retrucou, sua voz cortante, sem paciência.

O informante, então, encarou Morello com um sorriso desafiador, quase zombando da presença dele.

— Vai mandar esse playboy? — perguntou, os olhos avaliando Morello como se fosse um objeto barato em liquidação.

Morello, impassível, o encarou de volta, levantando uma sobrancelha, mas sem perder a compostura.

— O que tem de errado com isso? — respondeu com um tom cortante, o olhar frio desafiando o garoto a continuar com o deboche.

O informante soltou uma risadinha, agora mais convencido de que estava no controle da situação.

— Com essa cara de boy, vai ser fácil os homens do comando sacarem. Eles não são bobos. — Sua expressão era de desafio, mas havia algo mais em seus olhos: medo disfarçado de bravata.

Javier observava tudo com um olhar atento, o ambiente pesado, o som do rádio abafado e o cheiro úmido do lugar se misturando à tensão que pairava no ar. Nada poderia sair do controle. Todos ali sabiam que o que estava em jogo era mais do que simples informações — era a própria vida.

— Você acha que eu ia me dar melhor? — perguntou Javier, com um sorriso irônico, o tom de voz distante e seguro.

O informante o analisou por um momento, ainda desconfiado, mas não respondeu.

— Então é isso, eu vou com a Íris — disse Javier, com uma certeza tranquila, virando-se em direção à porta. Sem esperar resposta, puxou um maço de cigarros do bolso e acendeu um, com a naturalidade de quem não estava preocupado com nada ao seu redor.

Murphy, com a testa franzida e o olhar desconfiado, não hesitou. Caminhou até Javier, puxou um cigarro do bolso do colega e acendeu com um estalo do isqueiro, tragando fundo e soltando a fumaça com uma expressão que misturava curiosidade e desconfiança.

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