| 04 - A segunda é coincidência |

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ALGUNS DIAS APÓS se despedir do trabalho, Íris estava decidida a se reencontrar. Tentava deixar para trás o cansaço que parecia ter se impregnado em seu rosto, fazendo parte dela de uma maneira que quase já não notava. Mas, aos poucos, a essência da jovem que fora antes começava a despontar, tímida, entre os escombros de sua antiga vida. Voltou a ler, a se cuidar com mais atenção, redescobrindo prazeres simples que havia deixado de lado, sufocados pelo peso das responsabilidades.

Íris decidiu aproveitar um pouco de sua nova liberdade. Vestiu uma roupa confortável, mas que a fazia sentir-se bem, como se estivesse se lembrando de quem era antes de tudo aquilo. Resolveu sair para um bar que frequentara poucas vezes, mas que lhe trazia boas lembranças. O lugar pertencia a Léo, um dos poucos laços de amizade que ela havia conseguido criar desde sua chegada ao Rio.

Ao entrar no bar, sentiu um alívio discreto ao ver que o local não estava lotado. Algumas mesas estavam ocupadas por conversas dispersas, e a música suave de Jorge Ben Jor preenchia o ambiente com um calor reconfortante. Ela sorriu ao reconhecer o clima familiar, sentindo o peso nos ombros diminuir. Logo avistou Léo no balcão, encostado casualmente enquanto saboreava uma caipirinha.

Sem querer interrompê-lo de imediato, Íris aproximou-se em silêncio e tocou de leve suas costas. Ele se virou, surpreso por um instante, mas logo seus olhos se iluminaram ao reconhecê-la. Um sorriso largo se abriu em seu rosto enquanto se levantava rapidamente, envolveu-a num abraço caloroso, cheio da familiaridade de tempos passados.

— Íris! — exclamou com animação. — Quanto tempo! Já estava achando que tinha me esquecido.

Ele a soltou, afastando-se apenas o suficiente para observá-la, ainda com um sorriso amigável.

— E eu que pensei que você tinha desaparecido, Léo. — respondeu Íris, um brilho natural em seu olhar. Por um instante, sentiu-se acolhida novamente.

O homem acenou para o barman enquanto a conduzia até uma cadeira ao seu lado no balcão.

— Um drink para minha amiga aqui! — pediu, antes de se virar para ela. — E então, como estão as coisas? Ainda no DP?

A pergunta fez com que Íris sacudisse a cabeça levemente, como se afastasse as lembranças. Gesticulou de maneira despreocupada com as mãos.

— Não... Saí de lá há alguns dias. Aquilo não era pra mim, sabe? — respondeu com uma sinceridade que surpreendeu até a si mesma.

Léo assentiu, compreendendo com um olhar atento. Mas logo franziu o cenho ao notar um pequeno machucado no rosto dela.

— E isso aqui? — perguntou, tocando de leve o próprio rosto, indicando o dela. A preocupação em sua voz era evidente.

Íris passou a mão pelo machucado, como se só agora se lembrasse dele.

— Coisas do trabalho... — murmurou, tentando minimizar. — Mas já passou. Estou bem.

Léo a observou por um longo instante, os olhos procurando qualquer sinal de que aquela resposta fosse apenas uma fachada. Mas então, com um pequeno sorriso de compreensão, ele recuou.

— Que bom... — respondeu, ainda com um resquício de preocupação na voz. — Mas se precisar falar sobre isso, você sabe que pode contar comigo.

— Obrigada. — Íris sorriu, genuinamente.

O barman logo entregou sua bebida, e ela a ergueu em um brinde silencioso, compartilhando aquele momento de leveza.

— Decidi tentar uma vaga na PF. Acho que é o melhor caminho agora. — disse ela, tomando um gole da bebida.

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