| 12 - Novos ares, novos males |

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BARBOSA ESTAVA AFUNDADO numa mesa de plástico desgastada num bar de esquina, um daqueles recantos esquecidos nos bairros pequenos, onde o tempo parecia passar devagar. O copo de cerveja, intocado há algum tempo, acumulava gotas d'água em sua superfície suada, como se refletisse o próprio estado de espírito do homem à sua frente. Barbosa olhava o copo como quem espera respostas que nunca chegam, tentando, talvez, afogar o peso do dia.

Ao redor, as vozes indistintas de desconhecidos flutuavam, misturadas ao som de risadas esparsas e à música baixa que saía de um rádio velho. Quando Barbosa finalmente levou o copo à boca, a chegada de Rocha o fez pausar seu movimento.

Rocha entrou acompanhado de uma mulher que vestia roupas provocantes, seus lábios marcados por um batom vermelho barato que contrastava com seu riso estridente. Ele a largou de lado como um objeto dispensável e se jogou na cadeira em frente a Barbosa, o sorriso arrogante emoldurando seu rosto.

— E aí, caveirinha? — Rocha disse, com a satisfação mal disfarçada de quem estava ali só para saborear a derrota alheia. — Passou? Virou caveira?

Barbosa suspirou fundo, sua postura afundando ainda mais na cadeira. O peso do dia estava insuportável — o caos da violência, os golpes, as humilhações ainda reverberando em seu corpo.

— Aquele Nascimento... — começou ele, a voz carregada de rancor. — Se acha o pica das galáxias. Paga de superior, como se estivesse acima de todos.

Barbosa tomou um gole longo de cerveja, como se o álcool pudesse lavar o veneno que lhe corroía por dentro. Rocha riu, inclinando-se relaxado na cadeira, claramente se divertindo com o desespero do outro.

— Nascimento é foda mesmo. Já vi ele botar muito otário pra correr — disse Rocha, sua voz carregada de sarcasmo. — Mas se você fosse esperto, já teria aprendido que nesse jogo, quem sobrevive é quem joga por debaixo dos panos.

— Jogo? — Barbosa riu seco, sem humor. — Fui jogado na lama por causa de uma escrivã. Que piada, hein? E, pior, ele já sabe, tá? O Nascimento sacou que foi você quem mandou a Íris pro morro. E sabe da grana dos traficantes.

O sorriso de Rocha congelou por um momento, sua expressão endurecendo. Ele apertou o copo com mais força, sentindo o controle da situação escapar.

— Tá maluco, Barbosa? Não fala besteira, porra. Ninguém tem prova de nada.

Barbosa se inclinou levemente para frente, a sombra de um sorriso amargo em seus lábios.

— Ah, Rocha... Nascimento já sacou o teu esquema. Ele sabe que você jogou a escrivã no meio do fogo cruzado. E mais: ele sabe da grana que você pegou pra isso. — Barbosa deu uma pausa, sentindo o peso de suas palavras. — Se eu fosse você, começava a me preocupar. E ficaria longe dela. Ela é protegida dele agora.

Rocha soltou uma risada curta, mas a frieza em seus olhos denunciava a ameaça. Ele se inclinou sobre a mesa, os olhos fixos em Barbosa.

— O Nascimento pode achar o que quiser. Sem prova, ele não tem nada — disse Rocha, com um sorriso de escárnio. — E essa escrivãzinha... tá se achando protegida? Talvez ela precise de um choque de realidade. E se o Nascimento não der, eu posso dar uma mãozinha.

Um arrepio percorreu a espinha de Barbosa. O tom de Rocha deixava claro que a ameaça era real, mas ele sabia que não podia recuar. Não agora. O mesmo tinha rabo preso com ele, de outros carnavais. E por mais que não entendesse essa fixação que ele pegou pela garota, que primeiro foi por dinheiro, mas agora parecia pessoal.

— Se você encostar nela, Rocha, vai cavar a própria cova — respondeu Barbosa, tentando manter a voz firme, embora soubesse do perigo. — Nascimento não vai deixar isso barato. E você sabe muito bem disso.

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