| 26 - Desejos |

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O EXPEDIENTE estava quase no fim, e mais uma vez eles se reuniam na mesa de Íris para discutir os últimos detalhes da operação do dia seguinte. Morello se posicionava de um lado, enquanto Mello, sempre sério, observava do outro. Eles falavam sobre o disfarce que ela deveria usar, mas Íris não escondia seu descontentamento, o que fez Javier rir discretamente ao notar suas caretas de desaprovação.

— Se me obrigarem a usar uma calça de cós baixo e uma blusa que me faça parecer uma... bom, vocês sabem — ela disse, levantando os ombros de forma ameaçadora —, juro que vou procurar o buraco mais fundo pra me esconder.

Javier se inclinou para frente, um sorriso divertido no rosto.

— Cariño, não posso dizer que entendo o estilo das brasileiras, mas você precisa se esforçar um pouco mais. Vai fazer parte da missão, certo? — comentou, soando provocador e encorajador ao mesmo tempo.

— Ah, vamos lá, Íris! — interveio Morello com seu jeito antipático. — Vai querer entrar no baile do Dendê vestida com o uniforme da Polícia Federal? Ou então um moletom? Um vestido de debutante?

Ela lançou um olhar irritado para Morello, mas ao encontrar os olhos de Mello, sentiu-se um pouco mais calma. Ele permanecia em silêncio, observando a conversa, mas a última bronca que recebera dele ainda ecoava em sua mente. Naquela vez, ela relutara em participar de uma reunião, e a reprimenda a deixara ciente de que precisava evitar confrontos desnecessários com seus superiores.

Com um suspiro resignado, ela finalmente assentiu.

— Tudo bem, — disse, aceitando sem discutir —, eu visto o que for necessário.

Mello, até então apenas observador, deu um leve aceno de aprovação a Íris antes de se virar e seguir para sua sala com Morello. Nos últimos dias, ele andava mais distante, tão atarefado com as responsabilidades na secretaria que mal tinha tempo para conversar com ela, aumentando a tensão no ambiente.

— Vamos ver como a vestimenta vai ficar em você, mi amor — provocou Javier novamente, lançando um sorriso provocador. Mas antes que pudesse continuar com a brincadeira, recebeu um tapa firme de Murphy, que o encarava com seriedade.

— Vai sonhando se acha que vou estar igual às mulheres baratas que você costuma pegar — Íris retrucou, um sorriso sarcástico nos lábios enquanto se levantava da mesa, pegando seus pertences.

A resposta dela arrancou um riso de Murphy, que cruzou os braços, lançando um olhar cúmplice para Íris.

[...]

Íris estava deitada em sua cama, tentando relaxar depois de um longo e tenso dia de trabalho. Assim que chegou em casa, apenas se jogou no colchão, ansiosa por algumas horas de descanso em meio à tranquilidade de sua rotina solitária.

Era quase duas da manhã quando o toque insistente do telefone quebrou o silêncio do quarto. Ela abriu os olhos com esforço, sentindo o peso do sono, e estendeu a mão para pegar o aparelho sobre a cômoda. O quarto, inteiramente branco, estava iluminado apenas por uma luz amarela suave, que criava um clima acolhedor no ambiente.

No visor, um número desconhecido fez uma pontada de ansiedade percorrer seu estômago. Respirou fundo e atendeu, preparando-se para qualquer notícia. A voz familiar do outro lado da linha a fez relaxar, ainda que parcialmente.

— Íris, te acordei? — a voz de Steve Murphy soou, levemente preocupada.

— Pode falar, Murphy — respondeu, tentando soar alerta enquanto afastava o edredom e esfregava o rosto.

— Tivemos um probleminha no hotel... — ele começou, hesitante. — A recepcionista disse que nossa reserva foi transferida para outra pessoa, e agora estamos sem um lugar pra dormir. Não conhecemos bem o lugar e… estamos, literalmente, sem teto.

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