| 10 - Milícia |

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O SOL JÁ AMANHECIA no campo de treinamento do BOPE, onde policiais se esforçavam ao máximo para integrar a tropa de elite. Ali, havia de tudo: desde os dedicados até os corruptos, que jamais teriam chance, pois os caveiras conheciam o histórico de cada um e não perdoavam falhas.

Mikhael era um dos que sonhavam em fazer parte do BOPE. Ao contrário do que Íris pensava, ele não era um novato; já estava há mais de dois anos na Polícia Militar, tempo suficiente para buscar seu lugar entre os caveiras.

Ele se aproximou de Íris para compartilhar uma descoberta alarmante que fizera enquanto trabalhava no DP. Certo dia, ao passar perto da sala do Capitão Barbosa, ouviu, sem querer, uma conversa entre ele e Rocha. O miliciano confessava ter feito um acordo com traficantes, planejando enviar Íris para a favela com a intenção de que ela fosse morta - tudo por dinheiro.

Íris ouviu tudo em silêncio, tentando manter a compostura, mas a revelação a deixou à beira de uma crise. Depois, com a ajuda dos remédios e da companhia de Beto, conseguiu se recompor. Ele havia se tornado alguem presente nos ultimos quinze dias. Ele aparecia em sua casa depois do plantão, passava a noite com ela, ligava para jogar conversa fora, entre outras coisas.

Durante o curso, Roberto mantinha um olhar atento sobre um policial em especial: Barbosa. Era a primeira tentativa do homem para entrar no BOPE, e, se dependesse dos instrutores e coordenadores, poderia muito bem ser a última. Todos ali conheciam o tipo de pessoa que ele era e não deixariam nada passar despercebido.

O capitão se aproximou de Barbosa, um sorriso arteiro brincando nos lábios, enquanto o aluno se sentava no chão, tentando recuperar o fôlego.

— Atenção, seu zero dois! — Roberto gritou, chamando a atenção dele, fazendo-o se virar para olha-lo. — Seu zero dois, eu tenho uma novidade para o senhor!

— Sim, senhor! — Barbosa se levantou rapidamente, um tanto afobado, fazendo continência para o superior.

— O senhor é o novo xerife, zero dois — Roberto continuou, entregando um pequeno distintivo simbólico ao homem. - Agora, o senhor tem um minuto para colocar essa tarantula em forma na área do cerimonial.

— Sim, senhor! — ele gritou novamente, sentindo a pressão que estava sendo colocada em cima dele.

O Capitão Nascimento nem deu tempo para Barbosa se virar quando já se aproximou novamente, o olhar firme e impiedoso.

— Passaram vinte segundos, zero dois — repetiu, agora com um pedaço de pau na mão. - Vinte segundos, zero dois.

— Sim, senhor! — respondeu Barbosa, a voz tremendo de tensão.

— O turno está em forma? — Nascimento perguntou, sem desviar o olhar, percebendo a hesitação e os movimentos desajeitados de Barbosa.

— SIM, SENHOR! — gritou ele, com mais nervosismo do que convicção.

— Olha pra trás — Nascimento apontou para os outros alunos, todos desorganizados e perdidos. — TÁ EM FORMA ESSE TURNO?!

Barbosa se virou e ficou ainda mais tenso ao ver o caos atrás dele. Ninguém parecia seguir suas ordens. Os outros instrutores, à margem, riam baixinho, zombando de sua falta de controle.

— Turno em forma! SENTIDO! — ele gritou, tentando desesperadamente organizar os alunos, mas sem sucesso. — Tá em forma, senhor! — insistiu, mentindo para si mesmo.

— O turno está em forma? — Nascimento repetiu a pergunta, agora com mais frieza. — E o seu coturno, que tá desamarrado? — ele apontou para os sapatos desgastados de Barbosa, um dos cadarços solto. — Seu animal!

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