| 08 - Coisas ruins |

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APÓS DEIXAR MIKHAEL para trás, Íris entrou na sala de Rocha, que estava no meio de uma discussão por telefone. O ambiente era o mesmo de sempre: pilhas de papéis, móveis velhos e aquele ar carregado. Ela estava aliviada por sair dali, ainda que fosse por um tempo.

Rocha, ao notar sua presença, encerrou a ligação de forma rude, desligando o telefone sem cerimônia.

— Íris! — Ele levantou com aquele sorriso cínico que ela já conhecia bem. Ela permaneceu séria, colocando a caixa sobre a cadeira à sua frente. — Tá melhor? Já se recuperou do "incidente"?

— Tô ótima, sargento. — Ela forçou um sorriso frio. — Queria falar comigo?

Ele se aproximou, invadindo o espaço dela de forma invasiva, o cheiro de café forte no ar.

— Cê tem certeza que vai pular fora, mesmo? Todo mundo aqui vai sentir tua falta. Esse lugar vai virar uma zona sem você.

— Fiz meu trabalho direito até agora, deve ser por isso. — Íris respondeu, seca, sem desviar o olhar.

Rocha, parecia avaliar cada palavra dela. Geralmente, ela tentava ser mais contida, ser mais simpática. Porém, com o tempo, a fachada de Rocha havia caído completamente. Ele não era apenas um colega de trabalho difícil - era um miliciano, o pior tipo de policial.

— Bom, espero que você tenha pensado bem sobre isso. Não vou ficar insistindo, a escolha é toda sua. — Ele respondeu, gesticulando de forma displicente, como se não ligasse, mas o tom em sua voz sugeria outra coisa.

— E foi exatamente o que eu fiz. — Ela manteve a postura, embora o desconforto aumentasse com a proximidade de Rocha.

— Bom... era isso que eu ia te falar. — Ele deu de ombros, claramente encerrando a conversa com uma falsa indiferença.

— Certo, então acho que já vou indo... — disse, virando-se para pegar a caixa com suas coisas, pronta para sair.

Mas, antes que pudesse dar o primeiro passo, Rocha exclamou:

— Ah! — Ele sorriu mais amplamente, quase como se tivesse se lembrado de algo importante. — Já ia esquecendo... Ontem à noite te vi num bar, com o capitão do BOPE, não foi?

O tom dele mudou, insinuante, como se quisesse arrancar alguma reação. Íris sentiu um frio percorrer sua espinha, mas não deixou transparecer.

— Me seguindo? — Ela perguntou, erguendo uma sobrancelha, não disposta a jogar o jogo de Rocha.

— Não, apenas uma coincidência.— Ele riu, mas o riso não alcançava seus olhos. — Interessante você tá se envolvendo com gente graúda assim... Boa sorte, garota. Vai precisar.

O ar de ameaça velada nas palavras dele era inconfundível. Íris segurou firme a caixa, respirou fundo, e sem responder, saiu da sala, seus passos ecoando pelos corredores enquanto tentava manter a calma.

Íris saiu da sala de Rocha sem olhar para trás, seu coração batendo acelerado. Sabia que aquele comentário dele não era apenas uma observação casual. Rocha não dava ponto sem nó, e aquela insinuação sobre ela e o Capitão Nascimento não era algo que podia ser ignorado. Ele sempre tinha uma carta na manga, e a ideia de que estava de olho nela, a deixava inquieta.

Enquanto caminhava pelos corredores do DP, ela sentia o peso do olhar de alguns colegas de trabalho, como se soubessem algo que ela ainda não sabia. Isso só reforçava a sensação de que Rocha tinha espalhado boatos ou talvez já estivesse preparando o terreno para algo mais. Milicianos como ele eram mestres em manipular informações, e Íris sabia que sua saída dali não seria tranquila.

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