| 15 - Um pouco de mim |

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NA MANHÃ SEGUINTE, os dois se levantaram mais tarde do que o normal. Nascimento se permitiu aproveitar o raro conforto da cama por mais tempo. Já Íris, mesmo hesitante, decidiu que era hora de voltar às aulas de jiu-jitsu. Antes de sua vida virar de ponta-cabeça, ela treinava pelo menos duas vezes por semana. Agora, depois de tudo que aconteceu, parecia ser o melhor jeito de botar a cabeça no lugar. Embora não estivesse fora de forma - afinal, ainda sentia os efeitos do treino intenso para a prova da PF -, o desconforto de sair na rua permanecia.

As ruas, tão abertas, a faziam se sentir exposta. Desde o ataque, andar sozinha parecia ser outra batalha. Sem pensar duas vezes, Nascimento se ofereceu para levá-la até a academia. Ele já sabia da rotina de Íris e, como sempre atento, não esqueceu de trazer o uniforme dela.

Chegaram à academia de Marcelo, o professor de Íris, um sujeito amigável e de boa conversa. Ela ajeitou os cabelos molhados, ainda se recuperando do calor, e pegou sua bolsa e a garrafa d'água. Inclinou-se para dar um beijo rápido em Beto antes de descer. Mas, ao sair, notou que ele também desceu do carro e se encostou na porta de entrada.

Íris parou por um segundo, surpresa. Olhou ao redor, ainda com aquela sensação incômoda, e voltou até ele com passos hesitantes.

— O que você tá fazendo? — perguntou, as sobrancelhas arqueadas de confusão.

Antes de falar, ela lançou um olhar rápido ao redor novamente, como se procurasse algo escondido nas sombras, aquele receio ainda grudado nela.

Nascimento, com os braços cruzados, nem piscou.

— Vou ficar aqui. Não vou sair.

Ela franziu o cenho, ainda tentando entender.

— Por quê?

Ele deu um passo à frente, o rosto sério, olhar firme.

— Vou ficar de olho. Não vou vacilar, e você também não. — A voz de Nascimento era baixa, mas cortante, como uma ordem.

Íris soltou um suspiro, balançando a cabeça. Olhou para os lados mais uma vez, sentindo o peso do perigo invisível ao redor. Mesmo que quisesse contrariá-lo, ela sabia que, depois de tudo, era melhor não discutir.

— Tá... — murmurou, resignada. — Mas tenta relaxar, tá? Eu tô bem.

Ele balançou levemente a cabeça em sinal de aprovação, ela tinha um pouco de razão, e talvez não fosse o melhor ficará lembrando que poderia estar em perigo.

— Quer saber? — Íris disse com um sorriso simples, mas caloroso. - Por que você não aproveita sua folga e vai buscar o Rafael? Eu adoraria conhecer ele.

Nascimento hesitou, franzindo a testa.

— Não sei... A mãe dele é meio complicada... — disse, num tom mais baixo, refletindo.

Íris deu de ombros, mantendo a leveza.

— A gente não precisa falar que estamos juntos. Só traz ele pra assistir a aula. É um garoto, deve curtir ver um pouco de jiu-jitsu, quem sabe até experimentar. — Ela sorriu de novo, mais confiante. — E, quem sabe, melhora a relação de vocês... Um treino pode ajudar muito mais do que conversa.

Nascimento a encarou por um momento, pensando nas palavras dela. Embora ainda estivesse resistente à ideia, havia um senso prático no que Íris dizia.

—Talvez... — murmurou Nascimento, ainda ponderando, com o cenho franzido.

Ele soltou um suspiro e, com um gesto firme, se desencostou do carro.

— Tá bom, vou dar uma passada na casa dela - decidiu, agora mais determinado, mas ainda com um leve toque de hesitação em sua voz.

— Não demora... — Íris respondeu, com um sorriso encorajador. — Espero que dê certo.

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