| 35 - Laços que não se rompem |

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LOGO, Íris se viu de volta em casa, cercada pela vigilância indesejada de Beto. Ele estava encostado no batente da porta, braços cruzados, observando-a com a atenção de um guarda. Seu olhar a seguia, penetrante, como se estivesse analisando cada movimento seu enquanto ela tentava, em vão, se reacostumar com o ambiente.

Ela lançou um olhar rápido pelo espaço, aliviada ao perceber que tudo estava no seu devido lugar: a manta jogada no sofá, o ventilador ainda no canto, as coisas intactas, como se nada tivesse mudado. A familiaridade do lugar quase trouxe algum alívio, mas ao se virar, foi direto de encontro ao olhar de Beto.

O cenário parecia surreal. Tê-lo ali, tão perto, era desconfortável. No trabalho, era mais fácil. Eles se viam de vez em quando, mas nunca tão próximos. Agora, ele estava ali, a vigiando de maneira implacável, e ela não sabia como reagir. Tudo parecia embaralhado, especialmente depois de ouvir aquelas palavras dele — "Eu ainda te amo". O tom de preocupação em sua voz quando falou sobre o medo de ela morrer fez com que seu estômago se contorcesse. Aquilo, de algum modo, a atingiu, reavivando sentimentos que ela tinha tentado enterrar. O que ele dissera não era apenas um vestígio do passado; parecia um laço que nunca se rompeu, e que agora estava pronto para ressurgir.

Ela tentou se afastar, escolher a fuga mais simples, e decidiu que precisava de um banho. Enquanto isso, Beto conversava ao telefone, de maneira curtinha e prática, com alguém. Seu chefe, talvez, avisando que não poderia ir para o turno. Íris sabia que, tecnicamente, ele não deveria fazer isso, mas de alguma forma, ele estava ali. E o que restava, ela pensou, era o incomodo silêncio que ele impunha, mesmo quando não falava uma palavra.

Íris caminhou até o quarto, um braço apertado em volta da cintura, tentando aliviar a dor que aumentava a cada respiração. O ferimento parecia pulsar, cada movimento a lembrava daquilo que ela tentava ignorar. Com uma careta, ela pegou uma toalha e escolheu uma roupa confortável, antes de seguir para o banheiro.

Dentro do pequeno espaço, ela se despiu com cuidado, como se cada gesto pudesse agravar ainda mais a dor. O som da água batendo no chão do box preencheu o ambiente quando ligou o chuveiro. O calor do vapor a envolveu, e ela deixou a água quente cair sobre seu corpo, mas seu olhar se fixou na cicatriz. O traço marcado pela bala estava ali, ainda vivo em sua pele, como uma lembrança do que havia passado, do que ela tinha enfrentado.

Ela observou a cicatriz com um misto de dor e resignação, sentindo o peso do que aquela marca representava. A água corria por sua pele, mas não a aliviava totalmente. Era uma dor diferente da que ela sentia no corpo. Esta era mais profunda, mais difícil de apagar.

Mesmo quando Íris tentava se afastar, Beto sempre aparecia nos momentos mais difíceis. Ele esteve ao seu lado quando ela foi parar no hospital da última vez, cuidando dela com a mesma intensidade de sempre. Essa constante presença dele, apesar das complicações entre eles, era algo difícil de ignorar. Ela tentou afastar esses pensamentos, mas a lembrança de como ele sempre estava lá quando ela mais precisava não a deixou.

[...]

Depois do banho, Íris estava vestindo uma camiseta no quarto quando Roberto entrou sem avisar, com uma sacola de curativos na mão. Ela o olhou, surpresa com a invasão inesperada, mas não disse nada. Ele parecia determinado, o olhar focado no ferimento dela, sem dar espaço para qualquer resistência.

— Você não vai evitar isso — disse ele, a voz firme, como se fosse apenas uma formalidade. Ele se aproximou sem esperar por permissão, já abrindo a sacola com os materiais.

Roberto indicou com um gesto que ela se sentasse na cama. Íris obedeceu, mas não conseguiu evitar reparar na expressão dele, que parecia mais cansada do que o normal. Havia uma leve tristeza nos olhos dele, algo que ela não sabia como decifrar. Ela desviou o olhar, tentando ignorar aquele detalhe, enquanto ele se abaixava à sua frente.

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