“Cidade pequena, a gente se esbarra.”
— Jão(Pedro Tófani)
30 de junho de 2024
Paris, França– Palhares. — escuto uma voz conhecida me chamando de longe e aperto os olhos calmamente, procurando não me estressar.
O comitê olímpico havia começado uma investigação sobre a situação após a desistência dos competidores no ranqueamento.
Eu passei o dia quase inteiro respondendo perguntas da comissão, estava completamente exausto e decidi esvaziar a cabeça em alguma balada movimentada no centro. Certamente não funcionou.
– Vai me ignorar para sempre? — João pergunta, sentando ao meu lado.
– Era o meu objetivo. — respondo levando o copo até a boca.
– Uma pena. — responde em deboche e pede uma bebida para o barista, recebendo pouco tempo depois. – Como se sente sendo desclassificado de mais uma competição a nível mundial por minha causa? — sua voz sussurra baixo e eu aperto o copo nas minhas mãos em reflexo.
– Primeiro que o comitê ainda não deu a resposta das investigações. — digo tentando manter a frieza. – Segundo que eu, no seu lugar, teria vergonha de me vangloriar por cometer um crime. — finalizo virando meu rosto para ele, sorrindo cínico de sua expressão inabalável ao meu lado.
– Tentativa de assassinato também não é crime? — ele provoca, expressando uma falsa expressão de dúvida.
– Eu não tentei te matar. — reviro os olhos pelo exagero, estressado pelo uso do termo pela segunda vez no dia. Esse era o meu maior defeito, entrar nos joguinhos dele.
– Eu sei que não, amor, você não é de errar a mira, não é? — o loiro zomba. – Mas será que o comitê tem tanta certeza de qual era o seu objetivo? — finaliza apertando uma de minhas bochechas e evidencio minha expressão de desprezo pela atitude.
– Não ligo para o que o comitê acha. — respondo tomando mais da bebida.
– Deveria. Seu futuro nas olimpíadas depende deles. — João rebate dando de ombros.
Eu não respondo.
– Você acha mesmo que o comitê vai me tirar da arbitragem e te dar mais uma chance de classificação por denunciar uma fraude que aconteceu em uma competição passada? — João segue me desafiando, sem conseguir permanecer quieto.
– Acho. — respondo frio. – Juízes de outras modalidades foram removidos por muito menos.
Agora é ele quem não responde, optando pelo silêncio e encerrando o assunto. O loiro analisava minha expressão, observando meu rosto de tal maneira que me deixava dúvidas sobre o que se passava em sua cabeça.
Eu encarava seu rosto de volta, não me deixando abalar pela seriedade de seu olhar e entrando nessa espécie de provocação. Em determinado momento, um vislumbre melancólico atravessou sua pupila. Meu peito palpitou quando ele abriu levemente a boca, parecendo cogitar dizer alguma coisa, mas desistiu.
Desviei o olhar incomodado, estranhando a aceleração incomum dos meus batimentos. João pigarreava desconcertado ao meu lado, e eu respirava fundo para regular a palpitação em meu peito.
O silêncio voltou a tomar conta por alguns minutos.
– Sempre bom conversar civilizadamente com você quando possível, Palhares. — João começa de repente, saltando da cadeira.
– Não posso dizer o mesmo. — respondo inexpressivo.
– Desejo uma ótima sorte para você, querido. — disse provocativo e se aproximou antes de sussurrar em meu ouvido: – Que vença o melhor.
Meu corpo arrepiou.
Me afastei de si e empurrei seu corpo para longe do meu. O cacheado apenas sorriu debochado.
João virou o resto da bebida em seu copo, puxou uma nota de seu bolso e deixou debaixo da louça, se virando para ir embora do estabelecimento, me mandando beijo antes de sumir do meu campo de visão.
Se antes minha cabeça estava cheia, depois de ver João, piorou.
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Na Mira | Pejão
FanfictionPedro Tófani é um renomado atleta de tiro com arco que conquistou o coração do público nas Olimpíadas e Copas do Mundo da modalidade. No entanto, seu passado com o técnico e juiz, também favorito dos torcedores, pode se tornar um obstáculo na sua bu...