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"Mas hoje eu sinto
que nada mais será igual."
Jão

(Pedro Tófani)

07 de julho de 2024
Paris, França

Acho que eu preferia estar morto.

– Você vai sobreviver. — Gustavo diz ao meu lado, o encaro com tédio. – Qualquer coisa, eu vou estar por perto, não se preocupe.

Suspiro estressado.

Estávamos esperando João Vitor para o tal encontro solicitado pela World Archery.

Eu estaria mentindo se dissesse que estava tudo bem, mas não queria que Gustavo perdesse seu dia numa cafeteria sem graça por minha causa.

– Você pode ir embora, cara, eu sei me cuidar sozinho.

– Mas eu quero cuidar de você. — ele diz, chamando minha atenção.

Observo seus olhos carinhosos em mim e sorrio genuinamente pela preocupação.

– Deixa de ser viado. — rio fraco de sua emoção, recebendo um revirar de olhos risonho do técnico.

Eventualmente, João e Zebu chegaram.

– Sobreviva. — Gustavo sussurra antes de se levantar da mesa, cumprimentando rapidamente os recém chegados e se dirigindo para a parte interna da cafeteria, juntamente com Zebu.

– Bom dia. — saúdo João Vitor, claramente tão nervoso quanto eu.

– Bom dia. — responde de volta, sem me encarar realmente.

Suspiro pela milionésima vez só naquele dia e me pergunto o quão longa seria essa manhã.

Era estranho ver João recluso, principalmente conhecendo seu jeito extravagante e atirado de ser.

– Vai pedir o que? — pergunta casual, encarando o cardápio da mesa.

– Um croissant e um capuccino. — respondo.

– Certo. — diz baixinho e chama um garçom.

João faz o pedido por nós e volta a focar sua atenção em algum detalhe qualquer na mesa.

Eu me sentia desconfortável em o ver desconfortável. Era perceptível como ele estava afetado com aquela situação, mas eu me recusava a transparecer qualquer sentimento que fosse.

– Então... — ele começa, ainda sem me olhar. – O dia está bonito, não é?

– Não faça isso. — respondo cruzando os braços e descanso minhas costas no encosto da cadeira.

– Isso o que? — o loiro pergunta, franzindo a sobrancelhas.

– Essa tentativa de diálogo casual. Não aja como se a gente não se conhecesse. — digo dando de ombros. – Só espere seu pedido chegar e finja que eu não existo. — resmungo baixo.

Vocês não podem me culpar por querer fugir dessa situação.

Apesar de esperar acidez como resposta, tudo o que João faz é entristecer sua postura.

Sua reação me afeta mais do que eu esperava, mas depois de um tempo em silêncio, ele se pronuncia novamente:

– Não. — sua voz rebate. O encaro confuso e ele volta a dizer: – Prometi a mim mesmo que eu tentaria ter um diálogo decente com você.

Houve um período de silêncio.

– Então você passou a noite inteira treinando um diálogo comigo no espelho do seu hotel? — pergunto risonho, tentando amenizar a tensão do clima.

Na Mira | PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora