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"Dá para ouvir minha artérias chamando seu nome."
— Jão

(Pedro Toledo)
12 de julho de 2017
Ilhabela, Brasil

– Nunca vai dar certo desse jeito. — escuto a voz do pai de João, Guilherme, entrando pela porta de casa.

Quase que simultaneamente, a porta do meu quarto abre.

A expressão preocupada do meu pai me encara e assinto silenciosamente, saindo do meu quarto e me retirando de minha casa sem sequer saudar o pai do meu colega.

Antes de me distanciar completamente de casa, consigo ouvir mais gritos e xingamentos do pai de João, mas não paro para escutar nenhum deles.

Eu já estava acostumado com as centenas de vezes que nossos pais brigavam.

Guilherme Villar Romania foi uma das maiores promessas de tiro com arco no passado, mas parou depois de um tempo.

Ninguém além do meu pai sabia o real motivo de sua parada, mas depois disso, seguiu como técnico das competições.

Bruno Toledo Tófani é um dos mais lendários arqueiros vivos do Brasil.

Sua fama se deu devido à admirável técnica e disciplina em sua atuação no esporte, elevando o tiro com arco brasileiro a outro patamar e influenciando gerações pelo seu carisma admirável, incluindo a mim.

Eu nunca consegui entender a relação do meu pai e de João.

O mundo dizia que havia um ódio e rancor alimentado por gerações passadas dos dois, já que seus pais eram considerados inimigos mortais na visão mundial.

Mas vivenciar parte da história dos dois me provava minimamente que a relação deles era mais complicada do que isso.

E eu nunca me dei o trabalho de entender.

De longe, avisto a imagem de João sentado na beira de uma praia não muito movimentada.

Sempre que nossos pais discutiam, eu acabava encontrando ele em uma das dezenas de praias de Ilhabela.

Coincidentemente ou não, nossos caminhos nos levavam um para o outro.

– Ei. — chamo João baixinho e ganho a atenção de seus olhos melancólicos.

– Oi. — ele responde, sorrindo um pouco para mim. – Seu pai está bem?

– Eles vão ficar. — respondo me sentando ao seu lado.

Ele deita sua cabeça lentamente em meu ombro e começo um singelo carinho em sua coxa.

– Você entende alguma coisa deles dois? — o cacheado pergunta.

– Eu queria muito entender. — suspiro chateado, finalizando o assunto e aproveitando o silêncio de nós dois e o cheiro da brisa do mar inundando nossa atmosfera.

– Quer atirar? — pergunta um pouco tímido. Rio fraco de seu receio.

– Claro. — digo já me levantando, oferecendo uma de minhas mãos para João. – Me conceda o prazer de atirar essas flechas?

Na Mira | PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora