NA MIRA: o silenciado confronto entre Pedro Tófani e João Romania
06 de julho de 2024
Main Presure Centre, ParisA tarde de hoje começou tensa.
O clima da sala da coletiva estava pesado.João Vitor transmitia uma inabalável confiança, apesar de poder jurar que foi possível ver o nervosismo beirar seus olhos no momento em que Pedro atravessou a porta de entrada.
Seu técnico, Gustavo, cumprimentou o empresário de João e alguns entrevistadores mais próximos da mesa principal, mas Pedro não.
Seu foco era outro.
E apesar do sorriso forçado beirando seu rosto, seus olhos afiados não conseguiam disfarçar a acidez que mirava o loiro, que agora parecia mais acanhado que o normal.
Tenho plena certeza que se Pedro estivesse com suas armas agora, faria da testa do pobre coitado sua mira e, dessa vez, acertaria.
Me impressiona a barulheira da sala em um momento tão tenso.
Jornalistas conversavam enquanto os dois supostos maiores rivais de tiro com arco se amaldiçoavam com seus olhos que gritavam palavras não ditas.
Pedro e seu técnico se acomodam.
– Podemos começar? — Zebu introduz.
Os jornalistas começam a se organizar para a sessão de perguntas, que rapidamente começa.
– Pedro, é perceptível que você e João têm um longo passado juntos, certo? — uma jornalista começa, recebendo um aceno positivo do arqueiro como resposta. – Há quanto tempo se conhecem?
– Desde sempre. Nossos pais cresceram juntos. — Pedro responde educado.
João permanecia um pouco mais recluso, procurando qualquer coisa para focar a atenção, menos a entrevista em si.
Era engraçado ver os dois ali depois de tanto tempo, apesar de ser triste a perceptível distância entre eles, principalmente para mim, que presenciei um diferente passado.
– Você atira por causa de seu pai, confirma? — outro jornalista prossegue.
– Sim.
– João também atirava, correto?
– Sim. — o juiz finalmente pronuncia.
– Por que parou?
Houve um momento de tensão, como se tudo já não estivesse tenso o suficiente.
Percebi João vacilar, procurando palavras para a pergunta audaciosa. Pedro permanecia inexpressivo, deixando a responsabilidade para o loiro.
– O tempo foi exigindo que eu tomasse um caminho diferente sobre minha vida, nem sempre temos o privilégio de viver os nossos sonhos. — o juiz diz, percebo Pedro revirar os olhos minimamente ao seu lado.
Apesar da resposta vaga, a jornalista finaliza suas perguntas, dando oportunidade para outros entrevistadores.
A coletiva vai acontecendo. O clima foi passando a ficar leve, e até algumas piadinhas eram jogadas entre o arqueiro e o juiz.
Muitas perguntas foram focadas na carreira e vida pessoal individual dos entrevistados, mas eu me interessava por aquelas que lhe causavam alguma reação.
Eles focavam muito na narrativa de que são amigos de época, e que a confusão das classificatórias não passou de uma brincadeira entre eles.
Acho difícil alguém ter acreditado nessa historinha.
A coletiva demorou bem menos do que o esperado, já que os repórteres não estavam conseguindo as polêmicas que tanto aclamavam.
Lá para o final, algumas perguntas começaram a ser mais breves e objetivas.
– João, pretende voltar a atirar?
– Quem sabe um dia.
– Pedro, pretende continuar participando das competições de maneira geral?
– Pretendo.
– Mesmo se João estiver entre a arbitragem?
Ele engole seco.
– Claro, não tenho motivos para não querer o juiz na arbitragem.
– Pretendem trazer a situação de Tóquio a público em um futuro?
– Não houve nada além de uma pequena discussão entre nós em Tóquio.
– Vocês discutem muito para quem se dizem grandes amigos, não?
– É a nossa forma de demonstrar afeto. — João sorri forçado, dando um leve soco no ombro de Pedro, que não consegue segurar a expressão de desconforto.
– Última pergunta. — Zebu avisa.
– Como era a relação de seus pais? — aproveito minha primeira e última chance e pela primeira vez sou percebida pelos entrevistados.
Ambos se abalam quando encontram meus olhos.
João me olha assustado. Pedro aparenta me fuzilar com seu olhar.
Eu me abalaria se eu não o conhecesse, mas não é o caso.
– A mais profissional possível, imagino.
É tudo que responde.
– Uma pena ambos terem mantido a relação profissional durante toda a vida, você mesmo disse que eles cresceram juntos, não é?
João encara Pedro com expectativa.
Percebo a linha dos ombros do arqueiro tensionando.
– Fim das perguntas. Agradecemos a colaboração de todos. — Zebu finaliza.
– Gostaríamos de finalizar deixando claro que nenhuma atitude foi tomada com o intuito de prejudicar a World Archery. — Pedro se pronuncia. – Eu e João Vitor vamos seguir cumprindo o objetivo de promover com maestria o esporte de tiro com arco em nome da companhia. Obrigado.
A coletiva é finalizada, e apesar das evasivas respostas e uma possível falha tentativa de controle de danos, finalizo a matéria satisfeita com a análise profunda que consegui extrair das mínimas reações dos entrevistados.
Por Maria Luisa Alves — Paris, França.

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Na Mira | Pejão
Fiksi PenggemarPedro Tófani é um renomado atleta de tiro com arco que conquistou o coração do público nas Olimpíadas e Copas do Mundo da modalidade. No entanto, seu passado com o técnico e juiz, também favorito dos torcedores, pode se tornar um obstáculo na sua bu...