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"Mas não sou capaz de te esquecer."
— Jão

(João Villar)
09 de julho de 2024
Paris, França

A imagem de Pedro entra no meu campo de visão quando viro meus olhos em sua direção e observo o moreno sentando ao meu lado.

Hora de seguir o plano.

– Pedro? Está fazendo o que aqui? — pergunto sonso, recebendo uma expressão confusa como resposta.

– Não vem com essa, João Vitor. — o homem diz, rindo fraco.

– Qual é a graça? Você está me perseguindo ou algo do tipo? — sigo insistindo na narrativa, dessa vez conseguindo o olhar afiado de Pedro.

– Você acha que eu sou idiota?

– Quer a resposta sincera? — pergunto retórico, ganhando um revirar de olhos junto a um balançar indignado de cabeça. Ele não responde. – Eu não estava procurando nada, para a sua informação. — tento reviver o diálogo.

Consigo sua atenção.

– Você parecia bem interessado em encontrar alguém na minha mesa. — rebate.

– Eu não estava procurando ninguém. Só vim beber em um restaurante qualquer e me impressionei por reconhecer alguns conhecidos daqui. — dou de ombros em desinteresse.

Gostaram da mentira?

– Então você veio em um restaurante que fica a mais de 20 minutos do seu hotel às 23:30 da noite para beber? — Pedro diz sugestivo.

– Sim. — empino levemente meu nariz em desafio.

– E coincidentemente esse restaurante é o mesmo que eu estou fazendo uma confraternização a qual você foi convidado e recebeu o endereço? — volta a dizer.

– Eu nem abri o convite.

– Zebu não te avisou onde iria?

– Claro que avisou.

Pedro não diz mais nada, me encarando vitorioso.

Reviro os olhos em tédio.

– Eu nem lembrava o nome do restaurante. — volto a dizer.

– Pare de mentir para mim, eu te conheço. — sua fala me abala.

Isso mesmo, destruidor de corações, faça do meu coração uma vítima de seu charme ridículo novamente.

Eu prefiro ficar em silêncio, abalado demais com os dizeres do homem ao meu lado para voltar ao joguinho de provocações.

– O que veio fazer aqui, João Vitor? — a voz de Pedro me questiona, e sinceramente não sei a resposta para a sua pergunta.

– Eu já falei, vim beber. — ergo o copo já vazio para provar meu ponto, sem realmente lhe encarar.

Não escuto nenhum protesto de sua parte então viro meus olhos para ele, encontrando os seus também me encarando, como se tentasse me decifrar.

Perco um tempo admirando o quão bonito ele está hoje. Eu não havia reparado até agora.

– Você não tem uma confraternização para cuidar? — pergunto tentando clarear meus pensamentos antes que eu tome alguma decisão impulsiva.

– Tenho. — responde, mas não tira os olhos de mim e nem se levanta para voltar à mesa.

Perco um tempo nos seus olhos me analisando. Ele franze as sobrancelhas algumas vezes. Me pergunto o que está passando na cabeça dele, o que tanto lhe deixa confuso.

– No que está pensando? — sussurro fraco, não conseguindo manter os pensamentos só para mim.

– Por que você me odeia? — pergunta direto.

Arregalo os olhos e engulo seco pela abordagem tão direta.

– Que? — pergunto rindo nervoso. – Eu não te odeio.

Pedro ri sarcástico, balançando a cabeça desacreditado.

– É sério. — ele volta a dizer, relaxando as expressões e me encarando com seriedade.

O clima pesa e eu procuro alguma resposta digna ao seu questionamento, abrindo os lábios algumas vezes para tentar expressar alguma coisa, sem sucesso.

A tensão e a ansiedade tomam conta do meu corpo. Meus olhos correm pelo local em busca de alguma distração que me tire daquela situação.

Feliz ou infelizmente, sou interrompido por alguém.

Adivinhem quem.

Não, sério, adivinhem.

– Pedro! Não vai voltar para a mesa nunca? — a garota passa um dos braços em volta dos ombros do arqueiro que ainda me encarava. – João? Não sabia que você vinha. Quanto tempo.

– Oi, Malu. — digo um pouco chateado. Será que a sonsa não percebeu que está rolando um clima aqui? Vai embora, anda. – Eu estou de saída, na verdade.

– Fica! Tem lugar na mesa para você. — ela pede. Volta os olhos para a expressão indecifrável de Pedro, que permanecia em silêncio. – Quer dizer... vocês são amigos, não é? Qual o mal de você ficar um pouco? — tenta a jornalista.

– Está ficando meio tarde.. Melhor eu voltar para o hotel mesmo. — digo já me levantando, sorrindo fraco.

– João? — escuto a voz de Zebu atrás de mim.

Pronto, virou circo.

Me viro lentamente para o meu colega que me encarava risonho e com os braços cruzados.

Respiro fundo pela situação ridícula na qual me encontro e perco o juízo.

– Você não me viu aqui. — começo a mexer minhas mãos hipnoticamente em frente ao seu rosto. – Você nuuunca me viu aqui. — volto a tentar lhe... hipnotizar? – Você está muito bêbado e eu sou uma miragem. — é... melhor do que não tentar nada.

A essa altura, não havia nenhum sorriso no rosto dos três indivíduos.

Junto minhas mãos em frente ao meu corpo, um pouco envergonhado pela situação.

– Bom, tchau. — simplesmente me viro e saio do restaurante, rezando para não ser seguido por ninguém.

– João.

Talvez eu comece a pegar ódio do meu nome.

Escuto uma voz levemente cansada por correr atrás de mim, segurando fracamente meu pulso.

Me viro e observo a imagem de Pedro encarando meus olhos. Ele recolhe a mão que me segurava lentamente e junta ao seu corpo.

– Hum. Você pode ficar, se quiser. Algumas pessoas já foram embora, tem cadeira sobrando. — ele diz inexpressivo.

Sabe, em momentos assim eu sentia como se estivesse de frente com o Pedro de 2013.

O Pedro que me tratava como se eu fosse a pessoa mais importante da vida dele, não como se eu fosse a última pessoa que ele queira ver na vida.

Eu não entendia o motivo que o levava a agir comigo daquela maneira, como quando éramos crianças.

Não atualmente.

Eu não havia feito nada para que ele voltasse a ter empatia por mim, então eu realmente não entendia.

E nesses momentos, mesmo que raros, eu me sentia o João de 2013.

O João que era ingênuo demais para entender os próprios sentimentos naquela época e que agora lutava com as consequências da reclusão deles.

Mas eu não era mais o João de 2013.

– Eu preciso mesmo ir, Pedro. Mas obrigado. — digo sem lhe dar chances de respostas, me virando para chamar um táxi e sair dali o mais rápido possível.

Chegava a ser triste como aprendi a lidar com o arrependimento de ter me privado de certas coisas com Pedro quando éramos mais novos, mas não tinha muito o que fazer, não a essa altura do campeonato.

E, infelizmente, os capítulos da nossa história sempre acabam assim.

Na Mira | PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora