10.

435 58 105
                                    

Beijo qualquer boca, eu traço algum plano só pra não lembrar...
— Jão

(João Villar)
05 de julho de 2024
Paris, França

– Quer a notícia ruim ou a notícia péssima? — Zebu, meu empresário, pergunta entrando no meu quarto de hotel.

– Você nunca me traz notícia boa mesmo. — digo terminando de pentear o cabelo, focado na minha imagem no espelho.

– Você está fudido. — o homem diz, sentando na minha cama.

– Me diga uma novidade. — rebato risonho.

– Pedro falou algumas coisas em uma entrevista pós-jogo de hoje... — começa. – Te atacando.

– Óbvio. — reviro os olhos, cansado dessa história.

– Chegou na World Archery e a presidente não gostou.

– Que pena. — dou de ombros sem tirar a atenção da minha tarefa. – Sou apenas a vítima da história, o mocinho contra o vilão, o herói contra o anti-heró-

– Meio que agora você precisa cumprir um controle de danos, ordens da presidente. — o homem me corta.

– Já estava demorando. — resmunguei tedioso, derrubando os ombros com os falares de Zebu e me jogando na cama. – Por que eu teria que participar? Quem está me atacando é ele.

– Fomos intimados a solicitar uma coletiva de imprensa para a federação olímpica.

– Hum. — resmungo contra o colchão.

– Bom... obviamente Pedro deveria estar presente. — me levanto abrupto.

– Que?

– E vocês obviamente teriam que fingir que são amigos de épocas e que toda a situação foi resolvida. Eba, que divertido. — o homem diz, balançando as mãos para cima e falsa comemoração.

Não me aguentei e comecei a gargalhar contra o colchão, me virando e segurando minha barriga enquanto sentia pequenas lágrimas surgindo pela risada.

– Ei, idiota, é sério. — ele diz me dando um tapa.

– Não, não é. — digo me sentando e tentando acalmar minha euforia.

– É sim. Isso que eu ainda não citei que vocês vão precisar marcar de sair para alguns paparazzis capturarem e conseguirem conteúdo para notícias como "Veja: técnico filho da puta e arqueiro mais filho da puta ainda são vistos juntos em cafeteria, será que os inimigos mortais finalmente se resolveram?" — Zebu diz, me tirando uma risada desacreditada.

– Você está brincando com a minha cara. — balanço a cabeça em negação, me levantando e indo até meu celular.

– A World Archery não quer problema para a federação olímpica. Eu apenas obedeço ordens. — diz levantando as mãos em rendição.

– Mas qual o sentido disso? — pergunto vendo a notificação da World solicitando a coletiva no meu celular.

– Bem, acaba que sua imagem é vinculada à World, e seu nome tá sendo alvo de críticas devido às acusações de Pedro, então o objetivo é limpar sua imagem para limpar a deles também. — começa a explicar. – E o Pedro seria necessário para "selar a paz". — diz fazendo aspas. – Não adianta nada você falar que está tudo bem de um lado, enquanto o outro lado diz o contrário.

– Agora tenho que lidar com as consequências das atitudes de um surtado? — alfineto o feioso e observo Zebu revirar os olhos.

Que foi? Ele é surtado mesmo, vou fazer o que?

– O ponto é: vocês fizeram merda, agora arquem com as consequências.

– Eu não fiz nada. — digo batendo o pé indignado, recebendo um olhar julgador de Zebu que claramente dizia "tem certeza?"

– E Tóquio?

– Shhh, calado homenzinho medíocre, não use isso contra mim. — rebato cruzando os braços.

– Coletiva amanhã. Pedro será notificado pela World. — o homem se levanta e dá dois tapinhas no meu peito. – Lembre-se que vocês são melhores amigos e tudo foi resolvido, ok?

– Quero muito saber a opinião de Pedro sobre isso. — digo empinando o nariz, observando o homem se virar para sair do quarto.

– Vocês são dois babacas. Já pensaram em virar um casal? Se merecem muito.

– Cala a boca, idiota. — exclamo ofendido.

– Adeus, chatinho, boa sorte com sua vida ruim. — finaliza e bate a porta do quarto, me deixando sozinho.

– Não me chame assim. — grito ainda de dentro do quarto.

Inferno de vida.

Onde já se viu?

Eu sou atacado e ainda sou obrigado a sofrer com as consequências daquele... daquele... boboca!

Isso ai, boboca. Palavreado muito sujo, muito maldoso, muito ruim mesmo.

Pedro deve estar com a orelha quente pelo horrível xingamento!

Escuto uma notificação de meu celular e observo uma mensagem na tela.

———

Pablo: Pronto para ir?
Estou aqui te esperando.

Eu: Descendo.

———

Sorrio animado e analiso minha imagem uma última vez antes de sair do quarto.

Que foi? Senti um julgamento da sua parte... Paris é a cidade do amor, mon amour, só me resta aproveitar.

Na Mira | PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora