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A alma sempre era eu e você
Jão

(João Villar)
27 de janeiro de 2013
Ilhabela, Brasil

Morar em uma ilha tinha suas vantagens e desvantagens. Morar em uma ilha com 11 anos tinha muitas, muitas vantagens.

Ilhabela era pequena demais quando se tratava de mim e de Pedro. A ilha era o nosso paraíso.

A risada do garoto me seguia enquanto eu puxava sua mão para dentro da floresta.

– O que deu em você? — o garoto perguntou risonho enquanto adentramos na mata.

Não respondo sua pergunta até chegarmos no destino, escutando o som das águas ricocheteando as pedras em algum lugar não muito distante de onde estamos.

Me viro para Pedro para analisar sua reação e observo o exato momento em que seu rosto transparece surpresa.

– O que...

– É a base do papai. — digo animado.

– Como você chegou aqui? — é sua primeira reação. – Ninguém da ilha consegue chegar aqui sozinho além dos nossos pais. — diz assustado.

Ilhabela era repleta de parques e cachoeiras. A cachoeira do farol foi a mais conhecida e visitada durante muito tempo, mas ficou inacessível depois que o farol foi desativado há muito tempo atrás.

Após o abandono do ponto turístico, meu pai e o de Pedro aproveitaram o espaço aberto para treino de tiro com arco.

Ninguém ousava tentar entrar na área. Muitas pessoas tinham medo devido aos constantes acidentes passados envolvendo o farol, outras simplesmente preferiam respeitar o espaço único adaptado pelos nossos pais. Virou uma coisa deles.

– Um Villar nunca revela seus segredos. — respondo humorado, rindo da expressão preocupada de Pedro.

– Isso é sério, João, se eles nos acharem aqui, estamos ferrados. — o garoto diz chateado e eu reviro os olhos para a insistência.

– Não vão nos achar aqui. Eles estão brigados, lembra? Não viriam aqui sozinhos. — respondo óbvio, Pedro bufa.

– Por que me trouxe aqui? — ele pergunta, desistindo de me contestar.

Me aproximo lentamente do seu corpo, abraçando sua cintura enquanto ele rodeia meus ombros. Eu conseguia escutar o som das águas ricocheteando as pedras de longe.

– Queria que você me ensinasse a atirar. — sussurro tímido. Pedro afasta meu corpo do dele para encarar seus olhos.

– João... não. E o seu pai? Ele vai me matar se descobrir. — o garoto diz assombrado. Subo na ponta dos pés para lhe beijar um lado da bochecha.

– É só não deixar ele descobrir. — rebato infantil, recebendo um olhar de reprovação do garoto. – Por favor, vai, você sabe que é meu sonho atirar como vocês.

– Mas seu pai já disse milhares de vezes que não quer que você entre nesse mundo. — Pedro diz emburrado.

– Nós somos bons em guardar segredos. — digo por fim.

Sem esperar uma atitude de Pedro, vou até as armas, pegando um arco desajeitado e me impressionando com o peso.

A área, apesar de abandonada, era consideravelmente aberta devido aos cuidados de nossos pais. Ali não havia nada demais, apenas um lugar reservado para as armas e equipamentos necessários e 3 alvos fixados no chão. Os legais mesmo eram os alvos espalhados pela floresta.

Escuto um resmungo estressado de meu amigo e segundos depois, seu corpo se aproximando do meu.

– Espera. — ele diz, se dando por vencido. – O seu precisa ser menor. Você ainda tem 11 anos. — o garoto avisa, pegando um arco menor e me entregando.

– Ei! Você é só um ano mais velho, não é adulto. — digo chateado pelo tom.

– Mas eu já sei muito mais coisa do que você. — rebate mandão, me vestindo uma proteção no braço. – Isso aqui é uma braçadeira. — o garoto explica quando nota minha confusão. – Vai evitar que machuque seu braço com a corda na hora da largada. — explica e observo Pedro colocando o equipamento cuidadosamente em meu corpo.

Ergo meu rosto para ele e observo seus olhos preocupados me encarando.

– Pedro. — chamo sua atenção e finalmente consigo que seus olhos me encaram. – Vai ficar tudo bem, eles não vão descobrir. — digo e sua expressão relaxa aos poucos, me oferecendo um sorriso singelo.

– É. — responde e se aproxima para me beijar a testa. – Vai dar certo.

Na Mira | PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora