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Me entrego demais, você arrisca não querer
Jão

07 de junho de 2017
Ilhabela, Brasil

– Esse é muito pesado. — João reclama quando tenta pegar o arco recurvo maior.

– Você já tem 15 anos, já consegue pegar esse. — Pedro brinca, pegando o arco para entregar ao amigo.

– Me ajuda! — o cacheado reclama, resmungando pelo peso do armamento.

A verdade é que o cacheado definitivamente não precisava de ajuda, mas existia alguma conexão com Pedro que o fazia querer sentir seu toque a todo momento.

– Você reclama demais. — Pedro diz, se aproximando de João e o ajudando a segurar o arco. – Se acha que não aguenta o peso do recurvo, precisamos voltar pro tradicional. — o garoto avisa baixinho, próximos demais para aumentar o tom de voz.

– Eu aguento. — João responde, dando um mínimo passo para trás para encostar suas costas contra o peitoral de seu amigo. – Só preciso... que você fique aqui. — o garoto diz e sente o corpo de Pedro tremendo levemente em uma risada fraca.

– Eu sempre estou aqui. — Pedro responde, sentindo seu peito batendo mais forte pelo cheiro inebriante da parte exposta do pescoço do cacheado. É inevitável que ele não explore a área livre com seu rosto, tocando a pele do rapaz cacheado levemente com a pontinha de seu nariz, inspiração fundo com a sensação.

– Então... — João diz de repente, sentindo o braço doer pela suspensão no ar. Pedro abre os olhos assustado, se deparando com a pele do pescoço do rapaz arrepiada. – Hum... a-atirar. — o cacheado começa nervoso. – Vamos atirar. — consegue dizer depois de muito esforço.

Às vezes esses momentos aconteciam. Os garotos se perdiam nos toques um do outro, confusos pela sensação inebriante dos corpos juntos, pelos corações batendo juntos e mais fortes, o nervosismo e a reações quando tão próximos um do outro.

– Vamos. — Pedro desperta, levando sua mão direita para a de João que segurava a corda do arco.

Nunca haviam conversado sobre isso. Simplesmente rolava até que um dos dois estourasse a bolha.

João era imaturo demais para compreender o que sentia, acreditava que era comum sentir tamanho carinho pelo garoto, afinal, cresceram juntos... isso é o que amigos fazem, não é?

Já Pedro não aceitava que seu coração batesse mais forte por seu amigo. Ele imaginava a confusão que geraria, como poderia confundir João e que possivelmente estragaria a amizade que eles tinham.

– Respira. — Pedro orienta. – O seu melhor, hum?

O meu melhor.

Enquanto a respiração de João se acalmava, Pedro soltava o arco, caminhando as mãos lentamente pelos braços de João até que soltasse completamente o arco, confiando na força garoto.

Meio inconsequentemente, Pedro apoiou as mãos na cintura de João.

A flecha repentinamente disparou.

– Que droga. — João resmungou sem graça, abaixando o arco e observando a flecha fincada na terra um pouco à frente do alvo.

– O que houve? — Pedro perguntou confuso pelo lançamento mal planejado.

– Soltei a corda antes da hora. — João respondeu, se virando de frente para o garoto, o obrigando a soltar sua cintura. – Me desconcentrei. — admitiu tímido.

Pedro só assentiu compreensível, cruzando as mãos atrás de seu corpo.

– Vamos de novo. — Pedro incentivou.

João suspirou agoniado.

A tarde seria longa.

Na Mira | PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora