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“Dependendo do que eu digo
capaz que saia no jornal.”
— Jão.

(Pedro Tófani)

05 de julho de 2024
Paris, França

Oitavas de final

Respiro fundo uma vez, ajeitando as pontas dos dedos na corda do arco e focando na mira.

Solta a respiração e no segundo seguinte, sinto a ponta da flecha arranhando a lateral de meu rosto, tomando seu caminho até o alvo.

E... na mira.

– Dez. — a voz do locutor anuncia.

Estou nas quartas.

Sinto meu corpo sendo levantado por Gustavo, que me abraça e comemora histericamente, juntamente com a torcida.

Me viro para retribuir o carinho do técnico e rapidamente me solto para cumprimentar os adversários.

– Bom jogo. — é tudo que dizemos, sem conseguir não transparecer a felicidade em meu rosto.

Me organizo rapidamente para a breve entrevista pós-jogo, enquanto Gustavo organizava minhas coisas.

– Estamos aqui com Pedro Tófani, que passou das oitavas e que segunda-feira irá competir pela semifinal nas quartas de final. — o jornalista me apresenta. – Pedro, como você se sentiu atirando hoje? A primeira etapa com o juíz João Vitor na mesa avaliadora. — o homem pergunta.

Sério isso?

– Bom, não é como se a presença dele me causasse alguma reação positiva ou negativa. — começo agoniado pela pergunta sem noção. – O incômodo maior se dá devido às constantes vezes na qual fui eliminado de uma competição por causa de decisões dele. Mas eu tinha ciência de que hoje possíveis interferências dele não teriam tanto peso no resultado final devido à decisão do comitê, então eu estava tranquilo.

– Você acha que essas decisões de João Vitor são fruto de perseguições do juíz contra você? — volta a perguntar.

– Sim. — respondo breve.

– Por que você acha que ele te persegue? — trinco os dentes estressado.

– Não faço ideia. — respondo desinteressado.

– Agora uma última pergunta sobre sua relação com João Vitor para finalmente falarmos sobre sua vitória. — o homem tenta descontrair com uma risada, não me convencendo. – O que aconteceu em Tóquio?

– Ele não vai responder essa pergunta. — e essa voz não é minha. – Obrigado pela entrevista, querido, mas precisamos ir. — Gustavo me puxa pelo braço, me tirando do meio dos aproveitadores terríveis.

– Até logo, amor. — me despeço do jornalista, sendo carregado por Gustavo.

– "Até logo" o cacete. — o técnico diz estressado ao meu lado. – Sinto que não posso ficar um minuto longe de você sem que você seja atacado por abutres.

– Não estava sendo atacado, ele estava fazendo perguntas realmente muito interessantes sobre a minha grande conquista ao me classificar para as oitavas. — digo gesticulando exageradamente. – Deu para perceber meu sarcasmo? Espero que tenha percebido. Caso não tenha percebido, saiba que estou sendo sarcástico.

– A maior merda que você fez na sua vida foi ter exposto uma desavença com um juíz. — o homem diz, abrindo a porta para que entremos no carro do motorista.

– A maior merda que fiz na minha vida foi ter conhecido o tal do juíz. — corrijo.

– Vocês são muito chatos, misericórdia. — meu técnico reclama, se jogando cansado nos bancos de trás. – Vamos sair para comemorar sua vitória. — diz mudando de assunto.

– Nada de álcool. — pontuo. Alguém tem que ser o responsável de nós dois.

– Nada de álcool!

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