Capítulo 6| Razão e encanto

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.⋆꙳・Aleksander・꙳⋆.

Estive o dia inteiro trancado neste escritório, com a cabeça a latejar com o peso da monotonia e da frustração. As intermináveis entrevistas arrastaram-se pela tarde como uma tortura silenciosa, cada candidato mais insípido e irrelevante que o anterior.

E claro, eram todas mulheres. Não que isso fosse problema, mas a impertinente falta de competência que muitas delas demonstraram era quase cômica, se não fosse irritante. Algumas, ousadamente, tentaram namoriscar comigo – um erro patético. Outras não conseguiam sequer responder a perguntas triviais, o que só evidenciava as suas inadequações para o cargo. E claro, haviam as exceções, mas não eram muito aptas para trabalhar na minha empresa.

O dia parecia interminável, e a exaustão mental começava a corroer a minha paciência. Mas restava apenas uma candidata. Ao analisar o currículo dela, permiti-me um raro vislumbre de surpresa. As suas notas eram excelentes, as recomendações dos professores destacavam-se, e a redação anexada ao currículo demonstrava uma inteligência aguçada, quase afiada demais para o gosto comum.

Foi então que lembrei-me da Madison a falar incessantemente sobre esta mulher. Ela não parava de exaltar as suas supostas qualidades, dizendo como era confiável e eficiente. A Madison sempre foi precipitada em confiar nas pessoas; eu, por outro lado, aprendi com o tempo a nunca baixar a guarda.

Não me dei ao trabalho de olhar a foto no currículo – um deslize imperdoável, que percebi ter cometido assim que a vi.

Quando ergui o olhar, e a sua figura surgiu diante de mim, pareceu que tudo ao meu redor tinha perdido a importância. O resto do mundo desapareceu da minha mente, mergulhando-me no escuro, e a única luz que restava era o verde inebriante dos seus olhos. O ar ao meu redor pareceu congelar, um silêncio opressor tomou conta da sala.

Ela explorava o meu escritório com um olhar atento e analítico, quase como se tentasse decifrar a minha essência através do meu espaço pessoal. Havia um ar de curiosidade no seu rosto, como se estivesse diante de um enigma que se propusera a resolver. Que audácia, e ainda assim, não consegui conter a intrigante atração que emanava dela.

O perfume suave do que parecia ser um doce de framboesas flutuou pelo ar, provocando uma sensação inexplicavelmente perturbadora. Uma parte de mim – a parte racional e lógica – ponderou sobre a saúde de alguém que ingere tantos doces. A outra parte... estava completamente perdida.

Algo nela parecia estranhamente familiar, uma sensação de déjà vu que preferi ignorar. Há muitas ruivas bonitas, e eu já vi o bastante para não ser afetado por uma beleza passageira...
Mas quem eu estava a tentar enganar? Aquela mulher era um perigo ambulante, uma combinação mortal de delicadeza e força, um enigma que eu sabia que não deveria decifrar.

Fiz um som baixo e intencional para chamar a sua atenção, e os seus olhos verdes pousaram em mim com uma intensidade que quase me desarmou. Não, Aleksander. Não caias nessa.
Ela examinou-me com aqueles olhos penetrantes, como se tentasse ler a minha alma, e por um breve momento, quase senti algo parecido com calor a subir até o meu rosto – uma tolice que não acontecia há muito tempo e que não posso permitir.

Antes que nos perdêssemos neste jogo perigoso, chamei-a para sentar-se à minha frente com um gesto simples, que ela entendeu imediatamente. Finalmente, a entrevista começou. Mas claro, a minha mente teimosa insistia em desviar-se para pensamentos que não tinham lugar ali, pensamentos que giravam em torno da mulher que não deveria ser nada além de mais uma candidata.

.⋆꙳✶・Evangeline・✶꙳⋆.

A entrevista estava a todo vapor, e eu, uma veterana neste jogo de perguntas e respostas, deslizei por ela como se estivesse numa pista de dança. Respondi a tudo com a confiança de quem já fez isto muitas vezes, deixando os meus nervos no banco de trás.

O chefe à minha frente, o Sr. Ivanov, parecia satisfeito. Quer dizer, pelo menos era isso que eu conseguia captar por detrás da máscara de gelo que ele usava. Sério, o homem tinha um rosto mais fechado do que uma porta trancada com três cadeados! Era como se ele só soubesse sentir emoções negativas.

Mas eu estava a começar a achar isso meio engraçado. Toda vez que eu sorria, ele fazia uma careta como se tivesse comido algo estragado. E claro, isso fez-me sorrir ainda mais, o que fez a cara dele ficar ainda mais emburrada. Vitória minha!

Teve até um momento em que ele sutilmente tapou e esfregou o nariz, e eu pensei: Meu Deus, será que estou tão nervosa que estou a suar como se tivesse corrido uma maratona e a exalar um cheirinho nada agradável?

E lá estava eu, a divagar no meio da entrevista. De novo.

Mas o Sr. Ivanov, sendo ele mesmo, cortou os meus devaneios abruptamente.

— Ainda estou um pouco receoso... Mas foste a melhor até agora. Parabéns, estás contratada — disse ele, com a empolgação de quem está a anunciar que o café acabou. — No início, será apenas um teste para ver como se sai. Se for eficiente, talvez dure um tempo aqui.

Aquela notícia fez o meu sorriso crescer tanto que eu achei que meu rosto ia rachar.

— Obrigada, Sr. Ivanov! Prometo que não vai arrepender-se. Tem alguma informação extra? Quando posso começar? — perguntei, lembrando dos dígitos do salário que receberia (que, diga-se de passagem, era o principal motivo da minha empolgação).

— Pode começar amanhã. Não posso ficar muito tempo sem secretária. — ele respondeu, antes de lançar um alerta que parecia sair do manual "Coisas que já aconteceram comigo e que eu preferia que não acontecessem de novo". — Não quero ver-te a invadir o meu escritório quando eu não estiver, a vir trabalhar com roupas que não sejam profissionais e a jogar-se em cima de mim ou a roubar fios do meu cabelo".

Ele disse isso com uma naturalidade que me fez pensar: Santo Deus, isso já aconteceu antes? Que pessoas sem noção!

— Sim, senhor! — respondi, esforçando-me para parecer super profissional e não desatar a rir. — Prometo que não cometerei tais atos. — Quase levantei a mão para jurar de dedinho, mas controlei-me. Felizmente.

— Ótimo, Monroe. Podes sair depois de ler e assinar esta papelada — foi tudo o que ele disse, voltando a olhar para o seu computador super avançado.

— Até amanhã, chefe. — disse assim que acabei de assinar os documentos e começado a dirigi-me até à porta. — Boa noite.

Mas não tive uma resposta.

Assim que coloquei os pés para fora do covil do meu novo chefe, liguei imediatamente para a Madison, que foi quem indicou-me esta entrevista milagrosa.

— Mad, meu xuxu, não vais acreditar...


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A Estrela do VilãoOnde histórias criam vida. Descubra agora