Capítulo 28

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Calum

-Eu... não sei... - confesso com um suspiro à minha irmã. - E não a quero estar a forçar a falar disso quando é óbvio que não é o melhor para ela.

-Cal, ela tem que falar. Disseram-lhe que ela não pode nunca mais dançar; se ela guardar tudo para dentro de si... então aquilo que aconteceu vai simplesmente voltar a acontecer.

Passo a mão que não estou a usar para segurar o meu telemóvel pelo meu cabelo enquanto inclino a cabeça para trás. A Mali coloca então o seu braço à volta dos meus ombros e puxa-me para si para deitar a minha cabeça no seu ombro.

-Vai correr tudo bem, Cal, - promete-me ela. - Daqui a uns meses nem se vão lembrar do que aconteceu.

-Mali, ela passou um ano sem conseguir dançar. E agora vai passar o resto da vida sem poder dançar. Se há coisa de que a Emily nunca se vai esquecer é disto.

A Mali não responde. Oiço então a minha mãe chamar-me, pelo que me levanto do sofá e vou até à cozinha, onde ela está a poisar um copo de sumo de laranja em cima de um tabuleiro, ao lado de um prato com torradas.

-Leva isto à Emily, - ordena-me ela, apontando para o tabuleiro.

-Ela não quer comer, - suspiro, enquanto passo uma mão pelo cabelo. - Nem sequer consigo com que ela diga uma palavra que seja.

-Calum, ela tem que comer.

-Eu sei, mas...

-Calum, qual é a password do teu computador?

Levantando as sobrancelhas, olho para trás e encontro a Emily nas escadas, apoiada no corrimão e com o pé ligeiramente levantado para não colocar peso sobre o joelho.

-A minha password? - repito, absolutamente estupefacto por ela estar realmente a falar comigo.

-Sim. Tu sabes, aquela palavrinha mágica que permite o acesso a alguma coisa. E eu preciso da palavrinha mágica que permite o acesso ao teu computador.

Levanto ainda mais as sobrancelhas, mas aproximo-me dela e coloco o meu braço à volta da sua cintura para a apoiar e a ajudar a subir as escadas de volta para o meu quarto.

Desde que voltámos para Sidney que a Emily tem estado no meu quarto. Quando lhe perguntei porque não voltava a casa do Zach - e lhe assegurei que não era por não a querer lá, mas porque ele já devia estar preocupado -, ela disse me que havia uma coisa em que eu e o Zach diferíamos muito: enquanto que eu lhe dava o espaço dela até ela estar pronta para falar, o Zach não descansava até obter a informação que queria. Não voltei a questioná-la acerca daquilo, e foi assim que ela acabou por passar os últimos dias em minha casa, a viver nas minhas T-shirts e nos meus boxers. Os meus pais não se importavam; pelo contrário, faziam tudo o que podiam para a ajudarem a sentir-se melhor.

-Porque é que queres a minha password? - pergunto, depois de a ajudar a sentar-se na minha cama.

-Quero escrever, - a Emily encolhe os ombros, antes de começar a passar as pontas dos dedos pelo seu joelho. - E o meu computador está em casa do Zach.

Insiro a minha password e estendo-lhe o meu computador, que ela coloca no seu colo. Olho para ela enquanto ela abre o seu e-mail - provavelmente teria lá guardado o que quer que fosse que ela quisesse escrever.

-Está-te a doer? - aponto para a sua perna.

-Não. Eu é que tenho medo de fazer um esforço que seja e piorar isto, - ela solta uma gargalhada forçada enquanto me puxa para me sentar ao seu lado na cama.

Lost In My Skin • Calum HoodOnde histórias criam vida. Descubra agora