Convivência

6°

Estranhamente pai e filho decidiram passar um dia todo fora, só voltando no dia seguinte, deixando  os visitantes sozinhos em sua casa. Apesar de não entenderem o que aquilo significava, não ficaram buscando respostas. Seguiram os afazeres diários como sempre enquanto os esperavam.

O retorno foi tranquilo e Sizhui trazia consigo roupas novas para os dois. Wuxian entregou a Wangji alguns documentos e pediu em voz baixa que o Lan analisasse com cuidado o conteúdo. Desconfiado, o homem concordou, guardando os papeis e voltando para onde os três estavam.

- Desculpe o sumiço - Sizhui falava enquanto ajudava Jingyi a experimentar as roupas - A entrada da montanha Suiyn esta bloqueada, é de la que vem a maioria das mercadorias para o vilarejo. Tivemos que verificar.

- Conseguiram desbloquear?

- Não, o tipo de feitiço ali é de difícil leitura.

- E agora? Podemos fazer algo?

- Não... Quer dizer... - olhou para o pai que apenas sorriu - Vamos ter que ajudar nossos vizinhos - deu um risinho. Jingyi ergueu uma sobrancelha sem entender - Desculpe. Mais pra frente - apontou para a entrada da casa - Tem um amigo do papai que mora la com o marido e a filha - deu uma revirada de olho quando escutou o pigarro do Wei - Eles são casados, aceite.

- Nunca confirmaram. Não levante falso testemunho.

- A-Qing falou que ouviu eles se beijando.

- Ela tem 9 anos e é cega! Ela pode interpretar errado.

- Enfim! - voltou sua atenção para Jingyi que ja estava rindo - Xiao Xingchen é considerado um santo para o povo do vilarejo, então normalmente nós fornecemos as plantações para ele e ele as distribui.

- Isso é tão... - ficou visivelmente incomodado, não conseguindo mais sorrir - Sinto muito, mestre Wei.

- Não importa, nunca fui bem visto, então não ligo.

- Você esta basicamente curando essa terra para eles viverem.

- Não faço isso por eles Jingyi, mesmo assim, ninguém merece passar fome o morrer de frio, existe muito mais inocentes perto dos que me insultam. Por que eu faria eles pagarem pelos pecados de uma minoria? - foi em direção as escadas - Nem tudo é preto e branco, criança - era direcionado ao seu filho também, tanto que sorriu quando viu o biquinho se formar em sua boca.

- Sizhui - confortou o jovem Wei - Podemos ajudar?

- São apenas algumas semanas até o verão chegar - falou mais para si mesmo, como um mantra a ser seguido - Claro, mais tarde te mostro como fazemos os alimentos crescerem mais rápido - sorriu para Jingyi - Mestre Lan, como esta seu quadril?

- Sem dor.

- Perfeito, vou preparar uma bebida, esperem aqui.

Wangji olhou para Jingyi, trocando uma conversa intensa de olhares sobre o menino ser inconveniente e mesmo sabendo que o sobrinho estava errado na forma de se expressar, Wangji não conseguiu deixar de concordar que não era justo. Olharam para cima, onde Wuxian movia algo de lugar e pensaram em uma forma de serem uteis. Indicou que o sobrinho ajudasse o jovem Wei, voltando para o quarto sozinho, pegando aqueles papeis, analisando o conteúdo, precisando sentar na cama quando leu o assunto tratado.

"...Como estimado, sinto muito por pedir algo tão inapropriado depois de tudo que requisitei durante todos esses anos, mas você é a unica pessoa que conheço que sabe como curar algo como o desvio de Qi"

Wangji precisou de alguns segundos de olhos fechados antes de continuar a leitura.

"...Lan Xichen era um líder exemplar, mas enlouqueceu. Ouvi dizer que esta mantendo seu tio em cárcere privado. A esposa apareceu morta e dias depois anunciaram que o irmão e o filho também. Estão ligando a loucura dele a esse fato. Querem promover um enterro para os três, mas não ouvi falar de corpos encontrados. É estranho. A entrada de Suiyn também foi bloqueada, meus homens disseram que viram algo rastejando pela montanha. Temo não poder visita-lo como de costume, preciso observar o que pode acontecer. Dito isso, anexo alguns registros que comprovam minhas palavras. Aguardo sua resposta."