Capítulo II - Primeira Noite

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"O amor da gente é como um grão, uma semente de ilusão, tem que morrer pra germinar, plantar n'algum lugar, ressuscitar no chão."





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Fechei os olhos e fiquei paralisada.
Não sabia o que dizer, o que fazer, o que sentir. Nada.
Fui totalmente pega de surpresa.





Quando desci do carro, Inocêncio veio em minha direção com um semblante sereno, calmo e observador, e num gesto inesperado, me abraçou.





Susto. Surpresa.





Ele continua tão bonito.






Não tinha mais os cachinhos da vida passada. Agora estavam cortados à máquina e com alguns fios brancos.
Mas a meia idade lhe fez muito bem.





O cheiro de macadâmia que senti na roupa dele invadiu minhas narinas e minhas lembranças.
Cedro e sândalo, o puro cheiro do que embalou nossa vida juntos. Fazia tempos que não sentia, mas o aroma era inconfundível. O cheiro das árvores que vivíamos enfiados, de dia trabalhando e de noite fazendo amor no meio delas.
Tenho quase certeza de que o nosso filho, João, foi concebido em uma daquelas noites de prazer absoluto.





E eu continuava lá parada, com os braços presos pelos braços dele, sem reação nenhuma.





A lembrança veio forte quando senti ele tocando em meus braços, me tirando do abraço apertado de segundos atrás, com aqueles braços fortes, que não ousei tocar. E no final de toda essa cena totalmente exagerada e desnecessária, Inocêncio me deu um beijo. No rosto.





Olhou para mim com ternura, como se eu fosse alguma divindade.





— Eu ainda não acredito que você tá aqui, Aurora. — disse ele com um sorriso largo e lindo no rosto. — Quando sua secretária falou que você tava mesmo vindo, você de verdade, eu... — o interrompi.





— Inocêncio, a gente pode conversar amanhã? Eu realmente estou muito cansada, dirigi o dia todo. — Falei olhando para ele com um certo nervosismo imperceptível, num tom calmo, até para não parecer rude. Desviei o meu olhar do dele e dei uma passada de olho rápida pela sala de estar, com a porta entreaberta.





— Claro, claro. Deixa que eu mesmo levo suas coisas lá pra dentro, já dispensei todos os empregados por hoje. — prestativo.





— Obrigada. — Passei por ele já entrando na casa, deixando com ele um sorriso gentil.





Fiquei pensando no porque de Inocêncio estar tão empolgado com o meu retorno, levando em conta a forma em que fui embora e como foi a nossa separação.





— O quarto de hóspedes ainda é o mesmo? — perguntei na maior das inocências encontrando seu olhar.





— Sim, mas você vai ficar no nosso quarto.





O mundo parou por um segundo.





Quando ele percebeu que eu não ia dizer nada, continuou.






— Quer dizer, no quarto que foi nosso. Eu já pedi para prepararem pra você. Eu vou ficar no quarto de hóspedes pelo tempo que você ficar aqui.





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