•••"Eu não vou sair."
Foi isso o que Inocêncio disse quando pedi educadamente para que ele saísse do quarto para eu falar com o Hugo.
Achei exagerado, mas não contrariei.O que ele estava pensando? Porque ciumento ele nunca foi.
Mas também nunca teve motivos.
Até agora.
— Se ele é seu advogado então é alguma coisa da empresa, e eu quero saber o que é. — irredutível.
— E eu que sou a difícil. — Liguei para o Hugo na discagem rápida do celular, e Inocêncio não tirava os olhos de mim.
"Oi" - e sorri.
"Não, não saí à noite, estava em casa, estou em casa, só não ouvi o telefone tocar." - olhei para a tela do telefone para ver se estava no silencioso. - "Acertou, na mosca."
"Verdade, me desculpe. Fiquei ocupada desde que cheguei." - menti. -"Sim, muitos problemas." - olhei para o meu ex marido com os olhos cerrados e ele continuava com a mesma expressão. Sério e com cara de poucos amigos.
"Hugo, me dá um minuto?" - esperei pela resposta. - "Não, tá tudo bem sim, obrigada".
Afastei o celular de perto de minha boca e abafei o alto falante com a mão.
— Inocêncio, você pode sair agora? Não é nada sobre a empresa. Por favor.
— Me desculpe a indiscrição. — Se levantou da poltrona que estava sentado olhando para mim diferente de como olhou antes, debandado.
— Obrigada. — Esperei ele fechar a porta para voltar a falar com o Hugo.
Nos minutos seguintes foram conversas corriqueiras entre dois amigos.
Conversei com ele até pegar no sono.
Na manhã seguinte, desci para tomar café da manhã e todos já estavam à mesa.
E dessa vez, ninguém se levantou para ser cortês.— Bom dia! — me dirigi a todos ali. E todos responderam.
— Bom dia minha mãe. Olhe, a senhora é sempre linda, é claro, mas hoje tem alguma coisa... Parece até que acabou de sair de um spa. Tá toda relaxada, dormiu nas nuvens? — cantou João, comigo já sentada.
— Desse jeito eu vou ficar metida. — pisquei para o meu menino. — Mas eu dormi bem sim. Descansei. O corpo e a mente.
— Que bom, porque temos muitas coisas para resolver hoje. — Inocêncio falou pela primeira vez no dia, comigo, mas não me olhou.
— Sim senhor. — tomei um gole do meu café quente, enquanto Ritinha me servia alguns pedaços de frutas.
— Obrigada Ritinha. Ah, eu preciso que prepare um quarto de hóspedes para mim, por favor.
— E pra quem? — Inocêncio me encarou, falando diretamente comigo agora, colocando as duas mãos sobre a mesa.
— Como eu estava dizendo, se você não se importar, é claro... Mas você disse que a casa era minha e que eu tinha total liberdade... — me voltei para Ritinha novamente. — O Hugo, meu advogado, precisa me trazer uns documentos do Espírito Santo. Achei indelicado deixá-lo em um hotel com uma casa desse tamanho.
VOCÊ ESTÁ LENDO
TEMPO REI
FanfictionNão me iludo. Tudo permanecerá do jeito que tem sido. Transcorrendo, transformando. Tempo e espaço navegando todos os sentidos. Água mole, pedra dura. Tanto bate que não restará nem pensamento. Não se iludam, não me iludo. Tudo agora mesmo pode est...