Capítulo X - Dois Lados

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Amor é fogo que arde sem se ver. É ferida que dói, e não se sente. É um contentamento descontente. É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer. É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade. É servir a quem vence, o vencedor.





E quem venceu nessa noite, foi Inocêncio.





Depois de um dia cheio de desordem, um banho era tudo o que eu merecia.
Desliguei os meus ouvidos do lado de fora e relaxei, lembrando da minha primeira conversa do dia.





Ceder.





Ceder um dia ou apenas começar a ceder?





Ceder um dia, eu já cedi. E como cedi.





Então agora eu poderia começar a ceder sempre?





Inocêncio me pegou de jeito reconhecendo o erro passado e pedindo perdão pela última vez.
Foi só o que eu quis, por anos.




Toda a minha armadura foi se desmanchando e indo pelo ralo, junto com a água que tinha me renovado.






Eu sairia dali para o quarto disposta a dar para Inocêncio a paz de espírito que eu estava sentindo. Não seria justo depois de todo esse tempo eu estar bem e resolvida com o presente imediato, e ele não.
Ele tinha que saber que eu o tinha perdoado.





Vesti o roupão sem nada por baixo. Eu queria testar meus limites.





Quando entrei no quarto, ele já estava deitado, com o bendito óculos de mais cedo, lendo meu livro que estava jogado na mesinha ao lado.
Me olhou de cabo a rabo quando passei pelo pé da cama.





— Por um momento eu me esqueci que você gostava de poesia. — entregou o livro para mim e se aprontou na cama. — Mas do seu escritor favorito, isso eu me lembro.





Sorri com muito sarcasmo.





— Você não lembrava nem que eu gostava de literatura e agora lembra até quem é meu escritor preferido? — balancei a cabeça em negação.
Sentei na cama, desliguei o celular e peguei um chiclete de hortelã na gaveta da mesinha. Aproveitei e guardei meu livro lá.





— E lembro até o poema que você mais gosta.





Apoiei a mão na cama e virei metade do corpo para olhar para ele.





— Você não está mesmo falando sério Inocêncio. Eu duvido!





— Tudo bem, o poema eu forcei um pouco. — sorriu. E eu joguei um dos travesseiros nele.





— Mas o escritor eu sei. O que eu ganho se acertar? — totalmente suscetível.





— Ganha pontos. — levantei e tirei a coberta grande de cima da cama e me deitei, ficando um pouco distante dele, mantendo um certo pudor.





Abri a embalagem do chiclete e coloquei na boca.
O meu vício elevou minha dopamina na hora.





— Quer um? — coloquei o papelzinho debaixo do travesseiro.





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