Capitulo XVII - Primeiro e Único

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— Aurora! — Ele veio atrás de mim com um tom de ordem na voz. Eu continuei andando, indo ao encontro de João, sorrindo sem que nenhum dos dois visse.





— Oi, meu amor. — cumprimentei meu filho com um abraço.





— Oi, mainha. — João me deu um beijo no rosto. — Oxente, porque painho tá zangado? — Me virei para olhar Inocêncio.





— Porque tá zangado, amor? — joguei meu cabelo para trás, sarcástica na voz.





Quando percebeu a minha ironia, ele relaxou. Seus ombros caíram e só faltou respirar fundo. Nós dois rimos e o nosso filho ficou sem entender nada. A gente tava se descobrindo de novo.





Quando duas pessoas ficam muito tempo longe uma da outra, seja lá por qual for o motivo, elas esquecem as pequenas manias, os pequenos gestos, os pequenos detalhes da convivência boa do dia a dia.





Quando já estávamos dentro de casa, reparei em uma dessas manias. Conversávamos os três na sala, sobre a fazenda, e Inocêncio balançava o pé sem parar. Ele dizia que desde criança tinha essa mania, balançava o pé até dormindo. E era verdade. Não sempre, mas vez ou outra, lá atrás, eu acordava de manhã primeiro que ele e lá estava o pé, balançando. Ansiedade não podia ser, porque ele era o homem mais tranquilo do mundo. Inocêncio era quase um Buda.





Ele estava me olhando, mesmo ainda falando com o João. Eu suspirei, e ganhei até um sorrisinho dele.





— Vocês dois estão parecendo um casal de adolescentes. — João me tirou da fantasia. Olhei para ele e me dei conta de que não escutei uma palavra do assunto que eles estavam falando.





— Porque, meu filho? — eles dois estavam no sofá maior e eu estava na poltrona sozinha.





— Você olhando pra painho, toda apaixonada. — Eu sorri. — E ele fala comigo olhando pra senhora. O senhor pelo menos ouviu o que tava dizendo? — Inocêncio balançou a cabeça que não, olhando para mim.





— Não é isso. Olha lá. — apontei pro pé de Inocêncio.





— Oxente, o que tem meu pé? — me levantei e fui sentar com eles, ficando no meio dos dois.





— Eu já tinha reparado. Painho parece que tá sempre nervoso. O que não faz sentindo nenhum, porque ele é... — O homem mais tranquilo do mundo. — falei junto com João.





— Seu pai tem essa mania engraçada...





— E você, que não fica praticamente um dia sem comer... — Chiclete. — João falou junto com o pai. — Isso sim é engraçado.





— Eu diria preocupante. — João terminou.





— Se em 45 anos de vida isso nunca foi um problema, então está tudo sob controle. — pisquei pra ele. — Falando nisso, eu vou lá em cima pegar um.





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