TEMPO REI

Capítulo IX - Sina

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A vida é um dia. Um dia sem culpa. Um dia que passa.

Hugo veio para Ilhéus no primeiro voo.
Não tinha nem uma hora que João tinha saído para o aeroporto, e eles já estavam em casa.

Saí para recebê-lo assim que chegou, na parte de fora, para evitar qualquer constrangimento.

Hugo desceu do carro andando direto para mim, com um sorriso lindo no rosto, com o cabelo loiro comprido, quase batendo no ombro. Me deu um abraço tão apertado que a minha risada com essa façanha saiu quase como um grito.

— Hugo, como você é exagerado. Não tem nem uma semana que vim pra cá. — Coloquei a mão na cintura.

— Jogado aos seus pés... Não dá pra se acostumar com sua ausência querida Aurora. Nunca. — pegou a minha mão e a beijou, me olhando com aqueles vistosos olhos azuis.

— Eu é que não me acostumo com tanto galanteio.

Depois de dois segundos de distração, olhei João do outro lado do carro olhando para a casa. Quando me virei, vi Inocêncio pelo vitral da biblioteca assistindo toda a cena.
Evitar o constrangimento não serviu de nada.

Me virei de volta para João e Hugo.
— Vamos entrar?

E entramos os três na casa.

Eu não acho que Hugo tenha percebido esse ensejo. Mas o que Inocêncio deve ter pensado, isso sim me pegou.
Não consegui ver o rosto dele direito, mas a postura estava tensa.
Com toda certeza ele estava achando que o Hugo estava ali para tratar do nosso divórcio de vez.

E ele não estava enganado.

Não de todo.

Hugo veio para a Bahia para preparar o contrato de compra e venda da fazenda de Minas Gerais. Ele era o melhor que eu tinha para tratar desses assuntos. Mas disso Inocêncio ainda não sabia.
Ele só "colocou o pé" na vara de família para tratar do meu divórcio, o que nunca aconteceu.

Entramos na casa e Hugo ficou deslumbrado com a sua beleza, grandeza e imponência.

— Aurora, não dá pra acreditar que você cresceu aqui! Que viveu aqui!! — falou admirado, olhando a imensa sala em 360 graus.

— Espere até ver os campos, Hugo. É tudo aquilo que eu te falei. — coloquei a mão em seu ombro. — E aqui dentro quem decorou tudinho fui eu. Cada cantinho. — disse, me vangloriando.

Hugo colocou a mão em cima da minha.
— Você é boa. É boa em tudo o que faz.

— Boa tarde.

Inácia entrou na sala quebrando todo e qualquer clima que ousava se formar ali.

— Hugo, essa é a Inácia que eu tanto te falei. — ergui o braço chamando ela pra perto de mim.

Inácia veio e eu a abracei de lado.

— A famosa Inácia. É um prazer enorme te conhecer. — Hugo sorriu simpático e beijou a mão de Inácia como fez antes comigo.