PROLÓGO

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Delilah

Esses últimos meses têm sido um verdadeiro caos. Sério, se minha vida fosse um filme, seria uma comédia romântica... sem a parte da comédia e muito menos a do romance. Quem diria que o primeiro amor, tão idealizado, poderia ser a melhor e a pior coisa que já me aconteceu? Eu, a rainha do drama, acreditei que tudo acabaria bem, como nos filmes da Sessão da Tarde. Mas aqui estou eu, afundada em litros de sorvete e autocomiseração, me perguntando se sou egoísta por ter amado demais ou se sou só uma completa idiota.

Meu celular tocou, me arrancando dos meus devaneios para anunciar que, sim, mais uma quarta-feira miserável havia amanhecido. Como se eu precisasse de um lembrete, já estava acordada há horas, desde antes do sol nascer, mergulhada em uma espiral de pensamentos que mais parecia um daqueles escorregadores de parque aquático — só que sem a parte divertida e com um final direto no fundo do poço. Larry, o meu gato e terapeuta não oficial, andava sobre a cama, miando como se dissesse "Acorda, humana deprimida, tenho fome!". Ele era o único ser na minha vida que sabia exatamente o que queria: comida. Eu invejava essa clareza de objetivos.

— Já vou, senhor — murmurei, empurrando as cobertas para o lado e sentindo o chão gelado sob meus pés, como se a vida já não fosse fria o suficiente. Talvez eu devesse aprender com Larry e limitar minhas expectativas a ração de qualidade e um bom lugar ao sol. Seria menos complicado.

Hoje era o aniversário de Viktor, meu melhor amigo e único ser humano que ainda fala comigo sem parecer ter pena. Mas a ideia de sair de casa, de enfrentar o mundo e fingir que não estou emocionalmente devastada, era simplesmente insuportável. Seria o segundo evento que eu perderia por motivos de... bem, de auto-preservação emocional. Ou seja, eu estava sendo uma covarde. Pensei em providenciar um atestado médico. Será que "doença do amor" colaria como justificativa?

Mas o verdadeiro motivo era que eu não suportava a ideia de ver Noelle com outra pessoa. Uma pessoa que não fosse eu. Cometi a loucura de fazer uma pesquisa estilo FBI sobre a nova namorada dela. Crystal Evans, atriz de sitcoms, vegana, defensora das causas LGBTQIA+. Basicamente, a versão de revista em quadrinhos da pessoa perfeita. Enquanto eu sou... bem, eu sou só eu. Um pacote completo de sarcasmo e uma trilha sonora emocionalmente perturbadora. Aí você pensa, "Pelo menos você é autêntica!". Isso só seria um consolo se autêntica não fosse um eufemismo para "caos ambulante". Mas a parte mais deprimente é que Crystal parecia ser realmente uma boa pessoa. Não conseguia odiá-la, o que era muito frustrante. Sério, como vou me afundar adequadamente em auto-piedade se nem consigo odiar a namorada perfeita da minha ex?

— Como você é patética, Delilah — sussurrei para mim mesma, enquanto despejava a ração de Larry no pote. Ele ronronava feliz, totalmente indiferente à minha tragédia pessoal, como se dissesse "Problemas de humano, não me importo". Talvez ele estivesse certo. Talvez eu devesse apenas comer, dormir, e ignorar a bagunça emocional que é a minha vida.

Acreditei que iríamos nos estabilizar depois de meses de idas e voltas. Eu pensei que nosso amor fosse forte a ponto de aguentar mais uma discussão. Ah, a doce ilusão de alguém que claramente não assistiu a comédia romântica certa para aprender que finais felizes são pura ficção. Infelizmente, apenas o meu amor não sustentaria tudo isso. Eu até tentei, juro que tentei, mas um relacionamento tem que funcionar dos dois lados, e, aparentemente, o meu lado estava jogando um jogo totalmente diferente.

Queria conseguir parar de amá-la, queria que fosse fácil acreditar que ela não é a pessoa certa para mim, mas parecia cada vez mais difícil aceitar o fim do que vivemos. Talvez eu devesse imprimir um cartaz com "Pare de ser idiota" e pendurar na parede do quarto. Não sei se ajudaria, mas seria uma boa decoração. Ela foi a primeira e única que amei verdadeiramente. Agora, só restou a mim mesma, o sorvete e Larry. Coloquei uma música alta e tentei ignorar o meu coração pedindo para fazer uma ligação, tentando ser forte para vencer essa vontade, porque, afinal, nada diz "Eu superei você" como passar a madrugada chorando no telefone para sua ex, certo?

Acordes de Amor e Rock 'n' RollOnde histórias criam vida. Descubra agora