Lilah
A batida na porta me fez levantar do sofá onde eu estava tentando encontrar algum sentido na vida e no fundo do meu estoque de café. Megan apareceu com uma expressão que prometia grandes novidades, o tipo de expressão que faz você se perguntar se acabou de ganhar na loteria ou se é apenas mais um daqueles presentes desagradáveis que a vida adora entregar.
— Recebemos um email da equipe do Anthony Stone. — Megan anunciou, com uma solenidade digna de um prêmio Nobel.
Anthony Stone. Sim, aquele Anthony que eu teria o prazer de ver desaparecer em um buraco negro durante o Grammy. E agora ele estava tentando se redimir. Queria gravar uma música comigo. O mundo realmente decidiu virar de cabeça para baixo, e eu estava só tentando segurar meu café como âncora.
Eu a encarei como se ela me dissesse que eu tinha sido convidada para uma festa de pijama em uma prisão de segurança máxima.
— Estranho, não? — Megan continuou, como se eu estivesse prestes a descobrir um segredo do universo. — Fiquei sabendo por fofocas que a Lightning Storm acabou.
— Mentira? — A confirmação fez meus olhos brilharem com uma faísca de diversão. Finalmente, o karma estava mostrando seu rosto.
— Anthony está tentando carreira solo. — Megan completou, com a gravidade de quem me entregou um enigma que só um supercomputador poderia resolver.
Eu estava, de fato, tentada a dar uma chance. Nova colaboração, nova vibe, novo álbum. Mas a presença de Anthony... Ah, Anthony, o pesadelo de qualquer festa. Nossa rixa começou antes mesmo que eu tivesse a chance de processar a última crise de identidade musical.
Lembro do nosso encontro: lá estava ele, no meio do nosso círculo de amigos, com seus olhos azuis de safira e um sorriso que mais parecia um bolo envenenado. Se ele não fosse tão insuportável, eu teria ficado deslumbrada. Mas, como era de se esperar, o charme dele foi ofuscado pelo modo como ele insistiu em me chamar de "Princesinha".
— Você é a Princesinha, né? — ele me saudou, como se estivesse prestes a oferecer um pedaço de bolo.
Princesinha? Se houvesse um prêmio para o apelido mais irritante, ele teria ganho de lavada.
— Delilah. — respondi, forçando um sorriso que era uma mistura de cordialidade e pura exasperação.
— Muito prazer, Princesinha. — O sorriso sarcástico dele fez o mundo parecer um pouco mais insuportável.
E, claro, essa implicância não acabou ali. O evento se transformou em um espetáculo de sarcasmo e desentendimentos, virando capa de revista e manchete no blog de Francis Oswald. Fantástico, não é? Como se eu já não tivesse o suficiente para lidar.
Entre o embate constante e os eventos do after party, onde minha vida começou a parecer um drama digno de novela, o beijo com Noelle e o subsequente relacionamento de quatro anos, ficou claro que a noite havia sido um divisor de águas. Uma combinação infeliz de desastres e realizações.
Agora, ao olhar para trás e perceber que, enquanto minha carreira estava deslizando suavemente para o topo das paradas, a única coisa que realmente me fazia sorrir era a ideia de que Anthony estava tentando não se afogar em sua própria carreira solo. Se isso não é um bom exemplo de ironia cósmica, eu não sei o que é.
Às vezes, eu me pergunto se estou realmente no controle de qualquer coisa na minha vida. Será que tudo o que posso fazer é rir da própria tragédia? Talvez seja isso que as pessoas chamam de crescimento pessoal. Ou talvez eu só seja uma peça de teatro em uma comédia romântica onde, no final, eu apenas desejo ser a última a rir.
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Acordes de Amor e Rock 'n' Roll
RomanceDelilah Costa, uma cantora pop de sucesso que usa o humor sarcástico e autodepreciativo como mecanismo de defesa. Após um relacionamento conturbado e traumático com sua ex, Noelle, Lilah se vê emocionalmente esgotada e insegura, especialmente em rel...