CAPÍTULO 3

21 1 0
                                    


Lilah

A porta do estúdio rangia, como se estivesse se queixando da minha chegada. Talvez ela soubesse que eu estava prestes a enfiar a minha vida em um microfone e transformar meus desastres emocionais em músicas. Troquei o nome para Lilah, o que, para mim, significava uma página em branco — ou pelo menos um caderno cheio de rascunhos desordenados. A ideia de uma nova identidade parecia reconfortante e aterrorizante ao mesmo tempo.

O estúdio estava uma bagunça organizada, repleto de equipamentos e cabos que pareciam mais confusos do que qualquer outro aspecto da minha vida. O verdadeiro desafio, no entanto, estava na minha mente, que parecia um labirinto sem saída. Entre uma caneca de café e outra, eu tentava transformar a confusão em algo que fizesse sentido.

— Então, Delilah, vamos começar com a primeira faixa. — o engenheiro de som, com a energia de um robô que acabara de tomar um café descafeinado, me olhou com um interesse quase inexistente. — "I Kissed a Girl". É sobre descobrir algo novo sobre si mesma, certo?

Eu sorri nervosamente, tentando não me afogar na autoanálise. Ah, "I Kissed a Girl" — a primeira faixa e, por consequência, o primeiro passo em minha jornada de autodescoberta. Na letra, eu abordava aquele momento em que percebi que estava atraída por mulheres, um choque inesperado, mas intensamente real. Era como encontrar um mapa para um território desconhecido e querer explorá-lo desesperadamente.

— Exatamente. — respondi, tentando esconder o quão fora do meu elemento eu me sentia. — É sobre aquele momento em que você percebe algo que nunca esperou e a confusão que vem com isso.

O engenheiro apenas assentiu, aparentemente mais interessado no som do meu sapato do que na minha performance. Eu me posicionei no microfone, tentando não pensar em como eu parecia uma adolescente com um diário secreto. Cada faixa do álbum era um fragmento de mim, e eu precisava deixá-los brilhar, mesmo que fosse apenas para mim mesma.

Me pergunto onde está Lukas.

Depois de terminar "I Kissed a Girl", passei para outra faixa, intitulada "Secret Love Song". Era sobre o romance escondido que se seguiu à minha descoberta, refletindo a frustração de ter que esconder algo tão precioso. Eu me perguntava por que não podia simplesmente segurar a mão dela em público, como qualquer outro casal. Era um grito de lamento pela falta de liberdade para amar sem medo, e, a cada verso, eu me perguntava se alguém mais sentia o mesmo.

— Tudo está ótimo até agora. — O engenheiro comentou, com um tom que parecia mais interessado em checar seu relógio do que em minha performance.

Eu assenti, sentindo um aperto no peito. A terceira faixa, chamada "You're Losing Me", era um mergulho profundo na dor e na perda. Era sobre o impacto de um amor que não deu certo e como isso pode nos deixar marcados. Era a parte mais dolorosa do álbum, um retrato cru da dor que eu senti quando o romance acabou e a dura realidade de que, por mais que você ame alguém, isso não garante que o relacionamento dure para sempre.

Enquanto gravava "You're Losing Me", eu me perdi em cada palavra e cada acorde. Era um exercício de autoconhecimento e também uma forma de me libertar do peso que carregava. A cada nota, sentia que estava começando a fazer as pazes com meu passado e aceitar o que tinha acontecido. A dor e a perda se misturavam com a música, e, de certa forma, isso era um alívio.

— Parece que você está encontrando um pouco de paz com isso. — O engenheiro comentou, finalmente mostrando algum tipo de emoção, talvez até um sorriso de aprovação.

— Se paz significa colocar todos os meus traumas em uma faixa de áudio, então sim, eu estou em paz. — Respondi, tentando fazer um comentário humorístico para aliviar a tensão.

Acordes de Amor e Rock 'n' RollOnde histórias criam vida. Descubra agora