Valentim passou alguns segundos olhando a janela e sentindo a brisa que vinha do mar tocar seu rosto. Era peculiar, mas uma sensação morna se apossou de seu coração, semelhante a sensação de estar em paz. Permaneceu por alguns segundos no mesmo estado, quando voltou a si e olhou para sua avó, reagindo imediatamente a notícia que ele lhe dera.
- Um padre?!
- Sim, querido.
- Vovó, eu não gosto de padres. - Proferiu honesto, batendo o pezinho contra o solo, cruzando os braços e torcendo o nariz.
A condessa olhou para Eva, sem saber como reagir. Na realidade, sabia que o neto não era exatamente o que se considerava uma criança padrão, já que Valentim não tinha apreço por sacerdotes, e isso surgiu desde o dia em que um padre os visitou a alguns anos atrás e alegou que o neto do conde era uma criança fora dos eixos e dos comportamentos aos quais Deus esperava. Desde então, o jovem conde não tem simpatia por nenhum sacerdote, sendo que nasceu com uma natureza que não priorizava o mundo da igreja. Seus avós e Eva já haviam tentado torná-lo devoto, porém, todos os esforços foram em vão. Valentim era uma criança definitivamente diferente, pois tinha opinião própria, contudo, gostava de brincar, é curioso, tem comportamentos como qualquer outra criança, mas o que fez esse sacerdote em específico concluir que o jovem conde era uma criança fora dos padrões, era justamente a devoção que ele dedicava a cavalgar nos campos, ao invés de adorar a igreja, comportamento que estava imposto a qualquer criança no reino, menos a Valentim. Há também o fato de que sempre considerou alguns sacerdotes antiquados e cheios de si. No entanto, è importante ressaltar que o jovem conde tinha suas exceções, até poderia não apreciar padres no geral, porém, padre Júlio não se encaixava nesse aspecto, já que Valentim lhe tinha apresso desde bebê. Contudo, isso não se aplicava a outros.
- Querido, eu quero que você seja gentil, está bem?
Normalmente o jovem conde não era rude com quem ele não gostava, no entanto, tratava com uma certa indiferença. A condessa temia o que poderia acontecer diante dos maus sentimentos que o neto tinha por sacerdotes e essa situação a fazia se questionar se Sehun fez bem em convencer o filho a regressar.
- Vovó? Tudo bem?
- Oh sim, estou bem. Venha, vou preparar seu banho.
A condessa segurou a mão do neto e ambos deixaram o cômodo.
Eva observava em silêncio, compreendia o que ela temia, e não era diferente consigo. E esse temor em particular só fazia a moça se sentir mais culpada ainda, pois se não tivesse passado tantos anos calada e guardando segredo, provavelmente não estariam nessa situação. Ela se culpava, embora seu senhor e sua senhora também tivessem mantido o segredo, Eva era a quem mais sentia o peso da culpa, já que segundo seu próprio entendimento, foi ela quem suplicou para que ambos também mantissem o segredo a sete chaves. Revia seus conceitos e preocupações da época, sabendo que sua intenção ao ter tomado aquela atitude em manter em segredo, era poupar seu menino de mais um sofrimento. A moça refletia seriamente sobre suas decisões.
- Eva.
Ouvindo de uma das empregadas, Eva deixou seus pensamentos e olhou na direção da porta.
- Sim?
- Um cavaleiro Real está aqui e disse que deseja falar com você.
Claro que Eva ficou confusa, afinal, porque um cavaleiro real desejava falar com sua pessoa? Contudo, um pensamento invadiu sua mente, lhe deixando imensamente preocupada, o que a fez sair imediatamente do quarto e descer a escadaria as pressas.
Chegando no salão, Eva correu para a porta e viu o cavaleiro trajado em suas vestes brancas e vermelhas, as cores da Dinamarca.
- Sim, diga. - Proferiu um tanto que aflita.
- A senhorita é Eva Dante?
- Sim, o que aconteceu? Algum problema com principe? - Indagou angustiada imaginando que a visita daquele cavaleiro real deveria ser algum recado do rei.
O cavaleiro estava um pouco confuso, contudo, tratou de esclarecer educadamente.
- Bom, eu não sei exatamente do que e trata, senhorita, mas o senhor Félix está aqui e pediu-me para chamar a senhorita.
- Onde ele está?
- Além do portal.
Eva não perdeu tempo, correu pela pequena escada, alcançando o portal de rosas e saindo da propriedade do castelo. Apressou seus passos pela ponte acima do lago e correu para a entrada do bosque, antes da saída do condado. Parou seus passos quando viu a carruagem real dourada entre as árvores.
- Bom dia, Eva.
Ouviu a voz mansa e olhou para trás, vendo Félix se aproximar.
- Félix, aconteceu alguma coisa ao príncipe? - Perguntou, se aproximando.
- Não Eva, o príncipe está bem.
A moça respirou aliviada.
- Então, o que o trás aqui?
Félix retirou a mão que estava atrás de suas costas e mostrou a flecha. Eva continuava confusa, porém, quando observou bem a flecha, seu coração já começava a bater consternado.
- Essa flecha...
- Pertence ao jovem conde, Eva.
- Valentim!
- Ele esteve nas terras do castelo.
Desesperada, Eva o encarou.
- Ele entrou no castelo?
- Não, mas estava no jardim do príncipe.
- Oh céus!
Eva sentia como se sua alma tivesse abandonado seu corpo por segundos.
- Mas não se preocupe, ninguém o viu, exceto eu e...
- E?
- E o príncipe.
- Ludvig o viu?
- Sim, ambos ficaram frente a frente, Eva.
Apesar de seu desespero, a moça sentiu uma comoção, uma felicidade doce que lhe atingiu o peito, apesar dos pesares. No entanto, era uma felicidade que duraria pouco, afinal, não deveria ter acontecido.
- Estou aqui porque sei que você è cautelosa, não deixaria Valentim se aproximar tanto do palácio.
- O jovem conde tem um espírito curioso e aventureiro, mas provavelmente essa foi a primeira vez em que se aproximou do castelo.
Eva respirou pesadamente, sentou-se em uma rocha e cruzou as mãos.
- Eu gostaria de mantê-lo longe das terras reais o máximo possível, mas quanto mais o tempo passa, mais ele cresce e seu espírito se torna mais audacioso, já não é mais fácil mantê-lo apenas nas terras do conde, Valentim detesta está em um só lugar, sua paixão e sua infância está resumida em cavalgar além dos céus do condado, já não posso mais agir como antes, quando ele era pequeno demais para montar em seu Corcel, agora ambos criaram asas e a medida em que o tempo passa, vou sendo incapaz de impedir que voe para longe.
Félix ouvia atentamente, e compreendia a situação da moça, já que Eva se preocupava em protegê-lo e em mantê-lo longe do palácio, contudo, não poderia deixá-lo sem viver uma vida saudável, livre e de boas lembranças. Não poderia manter Valentim longe de tudo e de todos para sempre, e certamente Eva sabia que isso seria cruel para uma criança, principalmente como Valentim que apreciava tanto ser livre e brincar pelos campos.
- Carrego a cruz e o peso de ter mantido a verdade longe dele por tantos anos, não quero sentir uma coroa de espinhos em meu coração e manter Valentim preso ao condado.
- Eva, você não está carregando essa cruz sozinha. - Proferiu Félix ao se aproximar, abaixando-se perto da moça e colocando as mãos dela entre as suas. - Todos nós estamos... Todos que optamos por manter a verdade longe dele, e inclusive eu.
- Eu sinto muito tê-lo submetido a essa situação, Félix. Sei o quanto você gosta dele.
- Amigos não devem manter em segredos assuntos tão importantes, mas eu sei que você estava certa quando tomou essa decisão. Olhando para trás, sabendo e medindo o tamanho do sacrifício dele e entendendo sua dor, concordamos que causar outra dor seria cruel. Eu entendo seus motivos, Eva, todos entendemos, a principalmente nós dois, que sabemos o que aconteceu.
- Não consigo não me sentir culpada apesar de saber que tive meus motivos.
- Eu compreendo.
- Sei que devo dizer a verdade a ele, mas como o farei?
- Vai dizer a ele?
- Sim, já é hora.
- Hoseok disse-me que ele vêm para passar o natal.
- Sim, é verdade.
- Então foi assim que você decidiu?
- A decisão não foi minha.
- Não?!
- Foi decisão do conde, mas apesar de preocupada, eu concordo.
- Acho que é o melhor a se fazer e Concordo e acho justo que ele saiba toda a verdade.
- Acho que tardamos muito.
- Não fique preocupada e não se culpe tanto, Eva. Todos nós temos então uma parcela de culpa, já que todos mantivemos o segredo.
Eva respirou fundo e pesadamente. Sempre soube que o dia em que precisaria revelar a verdade chegaria, mas haviam demasiadas preocupações em sua cabeça.
- Você precisa se manter tranquila, Eva, assim saberá como dizer tudo a ele.
- Você tem razão.
- Sei que vai ser difícil, principalmente considerando toda a situação delicada, mas é necessário se manter sereno, se angustiar normalmente não ajuda em absolutamente nada.
Eva sentiu uma certa mansidão invadir seu espírito angustiado, Félix era um rapaz com a capacidade de tranquilizar as pessoas de uma maneira inexplicável. Talvez a voz suave fosse a razão, ou quem sabe a serenidade da sua personalidade, mas poderia ser ambas, e a verdade é que ele continha esse dom absolutamente admirável, embora fosse tão involuntário. Eva também era absolutamente grata ele.
- Obrigada, Félix.
- Não tem que agradecer.
- Sei que não devia me desesperar, afinal, é o certo a se fazer.
- É natural essa reação, Eva. Mas não fique se culpando, todos sabemos que você teve seus motivos e todos confiamos em você.
A palavra confiamos em você deixava a moça em um dilema moral, afinal, era uma felicidade saber que sim, tinha a confiança de todos, já que mesmo sem revelar quem tentou fazer mau a Valentim, todos confiavam nela. Contudo, havia também o sentimento sufocante de culpa, pois, por vezes não sentia que merecia toda aquela confiança, já que por sua culpa todos mantiveram algo tão importante em segredo, escondendo a verdade dele, e era esse sentimento que prevalecia causando todo esse sufoco em Eva, além de outras preocupações.
- Eu preciso ir, Eva. - Disse Félix. - Devolva a flecha a Valentim.
- Obrigada, Félix.
- Não há de quê.
O rapaz se aproximou da carruagem, entrou na mesma e depois partiu em meio aos bosques do condado. Eva ficou alguns segundos ali imóvel, em seguida, rumou novamente para o castelo. Olhava a flecha, e sempre esteve ciente que a medida em que Valentim crescia, era impossível mantê-lo no condado. A cada dia tudo ficaria mais complicado, e Eva compreendia que era o círculo se fechando, e ela melhor do que ninguém conhecia essa situação onde os segredos precisavam ser revelados mais cedo ou mais tarde. Ela já viveu isso antes... Sabe quando o tempo não desejava mais dar tempo.
***
Após voltar para o castelo, Eva seguiu para sala da relva, um cômodo que se encontrava no interior do castelo, uma sala cuja porta de vitral levava ao jardim. Entrou no cômodo adornado por plantas, era como se a própria sala fosse um bosque, composta por paredes repletas de heras e janelas ovais por onde os galhos das árvores do outro lado adentravam atrevidos doando suas folhas ao solo e a escada de pedra que levava ao acume da sala. Um Bosque singelo parecia reinar naquele interior.Algumas pombas pousavam ao redor, e vez ou outro uma ou duas rolinhas se aninhavam nos galhos das figueiras. Eva parou na porta, vendo que Valentim parecia absolutamente concentrado em um mapa que se encontrava sobre a mesa de madeira no centro do sala. Não era sempre que o jovem conde se encontrava no castelo pela manhã, normalmente ele preferia cavalgar, ou observar os alces do outro lado da floresta.
Por alguns segundos em silêncio, Eva o observava. Ele parecia um anjo, seus cabelos tão dourados se assemelhavam ao brilho do sol, continha em seus traços toda uma beleza já vista antes. A cada dia se parecia com sua majestade, seja nos traços, nos modos ou em seus olhos. Eva lamentava tudo o que aconteceu a dez anos atrás. Se não fosse a ganância e a obsessão de um homem pela coroa, o herdeiro ainda estaria sob o teto real e sua majestade não teria jorrado lágrimas de profunda dor ao saber que seu filho " nasceu sem vida". Quando Eva lembrava que todos os anos o rei e o príncipe colocavam sobre o túmulo abaixo dos rosedas as mil-em-ramas sobre o jazigo, ficava transtornada. Aquela lembrança presa em seu peito e em sua mente lhe judiavam o espírito. Sua majestade sofreu ao dar a luz, não foi uma noite fácil. Teve algumas complicações, contudo, o herdeiro nasceu, porém, foi tão complicado, que o rei perdeu os sentidos por alguns minutos e foi nesses arrastados segundos que tudo aconteceu, o herdeiro foi raptado, quando Eva o salvou e o levou para longe, porém, diante das circunstâncias perigosas, Foi necessário forjar sua morte. Eva nunca vai esquecer...
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O padre II : A coroa do rei - Jikook - 2ª temp
Fanfic"𝐂ativo a uma promessa, Jeon volta a ser o padre "santo", e seus motivos para ter tomado tal decisão, manteria em segredo, assim como os sentimentos que ainda queimavam dentro de seu peito por sua majestade Park Jimin Adeler. 𝐂ontudo, manter em si...